O Plano de Energia Limpa do presidente Barack Obama —peça central de sua estratégia para combater a mudança no clima— está em perigo.

Não só porque está sob ataque nos tribunais, onde sua legalidade foi contestada na semana passada por uma coalizão de 28 Estados e dezenas de empresas e associações setoriais. Ou porque o setor de combustíveis fósseis e os republicanos do Congresso continuarão tentando bloqueá-lo, não importa o que decidam os tribunais.

O plano do presidente para reduzir as emissões de dióxido de carbono –um gás que aprisiona o calor– pelo setor de geração de energia norte-americano, pode ser demolido dentro de algumas semanas por uma implausível coalizão bipartidária de senadores, entre os quais republicanos que sempre negaram que a mudança do clima seja um fato e democratas que apoiam a estratégia do governo.

Qual é o problema? Eles desejam forçar o governo a presumir que queimar florestas a fim de gerar eletricidade não coloca dióxido de carbono na atmosfera e é, de fato, um método “neutro” em termos de adição de carbono.

Desde que as florestas eliminadas para esse fim sejam recultivadas, e não transformadas em condomínios suburbanos, por exemplo, o texto da proposta dos senadores argumenta que a Agência de Proteção Ambiental (EPA) e o Departamento da Agricultura deveriam reconhecer que a madeira e outros materiais orgânicos retirados das florestas representam uma “fonte renovável de energia”.

EMISSÕES

Se tiverem sucesso, do ano que vem a 2030 os senadores responderão por um total cumulativo de 830 milhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono na atmosfera, de acordo com cálculos da Parceria pela Integridade Pública, uma organização de análise de política energética, com base em um modelo usado pela Administração de Informação da Energia do governo a fim de avaliar o impacto do Plano de Energia Limpa.

Isso representa 64 milhões de toneladas anuais de dióxido de carbono a mais, em média, mais ou menos a mesma quantia produzida por incêndios em florestas nos 48 Estados contíguos dos Estados Unidos em 2013. E isso representa um grande furo para um plano cujo objetivo é reduzir as emissões anuais do setor de geração de energia em pelo menos 250 milhões de toneladas entre 2016 e 2030.

A proposta que não conta o carbono gerado por biomassa é trabalho dos dois senadores do Maine – e republicana Susan Collins e o independente Angus King -, que a acrescentaram ao projeto de lei de energia do Senado aprovado este ano. A proposta tem amplo apoio, e foi aprovada por unanimidade em primeira votação, de acordo com representantes do presidente e do líder da oposição no comitê de energia do Senado.

“O Senado apoia fortemente os benefícios que a utilização da biomassa pode exercer, entre os quais a possibilidade de que seja uma fonte de energia neutra em termos de carbono”, escreveram os dois representantes em um comunicado. “Conversações sobre a emenda devem continuar durante o processo legislativo, entre os proponentes da emenda, os membros do comitê e outros membros do Senado, enquanto o projeto de lei avança pelo projeto legislativo”.

PREOCUPAÇÃO

Embora calcular as chances de aprovação seja difícil, a proposta sobre a biomassa pode se tornar lei dentro de semanas. Congressistas já estão trabalhando para conciliar a versão aprovada no Senado e a versão aprovada pela Câmara, que não inclui cláusula semelhante. Mesmo que ela não seja incluída, propostas semelhantes foram acrescentadas como emendas ao projeto de lei do orçamento do Departamento do Interior, aprovado pelas duas casas do Congresso e aguardando conciliação.

Cientistas especialistas em florestas e questões climáticas, organizações ambientalistas e até médicos estão assustados.

“O custo de um erro na política sobre a biomassa é alto”, afirmou Sami Yassa, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, em comunicado. “Queimar biomassa como combustível ‘zero carbono’ para cumprir as metas de energia reduziria seriamente as vantagens para o clima projetados sob o Plano de Energia Limpa”.

TEMPO

Os mais fortes proponentes da “neutralidade da biomassa” são, para surpresa de ninguém, representantes de Estados com grandes áreas florestais, onde associações setoriais que propõem maior uso da biomassa têm forte influência. Mas esses legisladores acreditam ter um argumento ecológico legítimo. Faz sentido não contar o dióxido de carbono da queima de árvores porque as árvores voltarão a crescer e recapturarão todo o carbono liberado quando foram queimadas.

Mas há alguns problemas nesse raciocínio. A madeira não é muito eficiente. Na verdade, queimar árvores para gerar eletricidade gera mais carbono por unidade de energia do que a queima de carvão. As companhias de energia produziriam menos emissões se queimassem carvão e não interviessem na capacidade das florestas para sugar carbono do ar.

E existe uma questão de tempo. Florestas certamente voltam a crescer; Mas demora décadas para que as plantas se tornem árvores e recapturem todo o carbono emitido.

“É um problema duplo, porque você remove um elemento ativo de absorção de carbono”, diz Mary Booth, diretora da Parceria para a Integridade Política, que combate a ideia de que a biomassa é neutra em termos de emissões de carbono. “Mesmo sob as suposições mais conservadoras, você fica em desvantagem por 40 a 50 anos”.

O mundo simplesmente não tem todo esse tempo.

Fonte: Uol

 

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