Em meio a uma crise de popularidade e dez dias após uma multidão tomar as ruas de várias cidades do país contra cortes na educação, o presidente Jair Bolsonaro realiza uma visita ao Nordeste, bastião petista onde é mais impopular e foi menos votado na eleição. O mandatário desembarcou nesta sexta-feira em Pernambuco, onde cumpre agenda no Recife e em Petrolina. Na capital, encontrou todos os governadores nordestinos em reunião do conselho da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Anunciou um pacote de investimentos para a região, por meio do Plano de Desenvolvimento para o Nordeste, mas condicionou a medida à aprovação da reforma da Previdência. “Sem a reforma, não poderemos colocar em prática parte do que estamos propondo aqui”, afirmou.
A reunião, que contou também com a presença de ministros e os governadores de Minas Gerais e Espírito Santo, ocorreu no Instituto Ricardo Brennand, longe do centro do Recife. Bolsonaro chegou ao local do encontro de helicóptero, e passou longe das dezenas de pessoas que se manifestavam no local contra e a favor do Governo. Depois, ele partiria para Petrolina, a mais de 700 quilômetros da capital, onde participa da entrega de empreendimentos do programa Minha Casa Minha Vida, programa social que é uma das principais marcas dos governos do PT.
Essa é a primeira vez que Bolsonaro cumpre agenda oficial no Nordeste, um território quase inteiro comandado pela oposição. Além disso, a região é onde ele registra a mais baixa popularidade: para 40% dos nordestinos, o Governo é ruim ou péssimo, segundo o Ibope. Por isso, o presidente tentou se preparar para o encontro previamente. Convocou um café da manhã no Planalto na quarta-feira com os deputados nordestinos. Na ocasião, quis saber “onde o calo aperta com mais particularidade em cada Estado”, segundo suas próprias palavras, para chegar com maior embasamento em Pernambuco.
Após o anúncio oficial da viagem, que já vinha sendo articulada há semanas, o Twitter virou palco de discussão sobre a visita. Na terça-feira pela manhã, a marca #NordesteCancelaBolsonaro estava em primeiro lugar entre os assuntos mais comentados e passou o dia entre os temas mais falados na rede social. Seguindo o mesmo roteiro de outros temas que causam oposição ao Governo na rede social, no final do dia, começou a subir a resposta, com a marca #NordesteComBolsonaro.
Durante a última eleição, a região Nordeste foi o principal palco de disputas entre os candidatos. Foi o local mais visitado por Fernando Haddad (PT), que tentou abocanhar a maior quantidade possível do eleitorado lulista da região, historicamente reduto do PT. Também foi a região enaltecida por Ciro Gomes (PDT) e incorporada como terra natal por Bolsonaro: o hoje presidente nascido em São Paulo chegou a afirmar que era “nordestino também”, já que seu sogro é cearense.
A primeira visita de Bolsonaro à região após eleito é parte de uma estratégia de circular mais pelo Brasil —ele já esteve duas vezes nos EUA—, para tentar diminuir o desgaste dos protestos contra ele. A visita a Pernambuco acontece após uma ida ao Paraná, onde ele participaria da inauguração da Usina Hidrelétrica de Baixo Iguaçu, em Capanema, na quinta-feira —que acabou cancelada por conta da chuva.
No encontro desta sexta já era possível prever certos constrangimentos. Um dia após o anúncio oficial da visita de Bolsonaro ao Nordeste, os nove governadores da região se juntaram a outros cinco (de Espírito Santo, DF, Tocantins, Amapá e Pará) para assinar uma carta pedindo a revogação do decreto das armas. No texto divulgado na terça-feira, eles pedem que os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União “atuem tanto para sua imediata revogação como para o avanço de uma efetiva política responsável de armas e munição no país”. E pedem, com urgência, a implementação de ações que melhorem a rastreabilidade das armas de fogo e munições e o aumento dos meios de controle e fiscalização para coibir desvios, enfrentar o tráfico ilícito e “evitar que as armas que nascem na legalidade caiam na ilegalidade e sejam utilizadas no crime”.
Os governadores ainda afirmaram que as medidas prevista pelo decreto, assinado por Bolsonaro em 8 de maio, não vão contribuir para tornar os Estados mais seguros. “Ao contrário, tais medidas terão um impacto negativo na violência”, afirmam, “e aumentarão os riscos de que discussões e brigas entre nossos cidadãos acabem em tragédias”.
Fonte: El País