Estudantes, professores e profissionais da educação participam, em  mais de 200 cidades nos 26 estados do país e no Distrito Federal, de atos contra o bloqueio de verbas para a Educação anunciado pelo Governo Federal nas últimas semanas. As polícias militares dos estados não estimaram o total de manifestantes. A UNE, uma das organizadoras da manifestação nacional, estima em 1,5 milhão o número de pessoas nas ruas hoje.

Os atos começaram pela manhã em cidades como Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador, e na parte da tarde no Rio e em São Paulo.

Em apoio ao movimento, universidades e escolas — públicas e particulares — paralisaram suas atividades. Na véspera dos protestos, parlamentares relataram que Bolsonaro teria recuado dos cortes na Educação , mas o governo, em seguida, negou.

No Rio, ato interdita vias centrais

As manifestações contra os cortes de verbas nas instituições federais de ensino interditaram diversas vias no Centro do Rio de Janeiro. Os organizadores estimaram 200 mil participantes.

Os manifestantes ocuparam áreas da Avenida Presidente Vargas e da Praça XV. Trechos da Rua Primeiro de Março e da Avenida Rio Branco foram interditados. No início da noite, a marcha caminhava em direção à Central do Brasil. O percurso foi marcado por palavras de ordem como “Não é mole não, tem dinheiro pra milícia, mas não tem pra educação”, “Tira tesoura da mão e investe na educação”.

Algumas lideranças políticas como o vereador Tarcísio Motta, os deputados estaduais Flávio Serafini, Mônica Francisco e Dani Monteiro, todos do PSOL, participaram do ato, que segue pacífico. Quando um helicoptero começou a sobrevoar o protesto, manifestantes vaiaram e começaram a gritar “Ele não”.

Cartazes em referência à fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que classificou as universidades federais como “balbúrdia”, se espalham pelo ato. Algumas faixas também convocam os manifestantes para uma Greve Geral no dia 14 de junho.

Professores de diversas redes de ensino particulares foram dispensados do trabalho nesta quarta e engrossam o protesto. 

— Embora sejamos de escola particular, trabalhamos com educação e isso impacta nosso futuro — afirmou Fernanda França, de 32 anos, com o filho de um ano e meio no colo.

Colega de Fernanda, a professora Yasmin Toledo, de 23 anos, afirmou que os cortes na educação podem resultar em uma sociedade sem pensamento crítico. 

— Antes, a ideia das autoridades era que as pessoas só soubessem ler e escrever, e depois fossem trabalhar. Parece que esse pensamento está voltando, talvez por isso o governo não queira mais Filosofia e Sociologia — criticou.

No mesmo ato, entre gritos de “a nossa luta unificou: é estudante, funcionário e professor” e “Ele não”, docentes da rede pública também protestavam contra a proposta de reforma da Previdência.

— Quanto mais gente na rua, maior o impacto. Além de professora, também sou estudante de mestrado da UFRJ. Esses cortes vão nos atingir profundamente. Caso a reforma passe, vou ter que trabalhar 10 anos a mais — criticou Vanessa Reis, de 45 anos, que vestia uma camiseta escrito “lute como uma professora”.

Já a professora da rede municipal Valéria Oliveira, de 45 anos, reagiu à declaração do presidente Jair Bolsonaro, que classificou os manifestantes como “idiotas úteis”.

— Os que ele classifica como “idiotas” são os que formam as pessoas que ele está governando. Se mantiver os cortes, vamos ser ainda mais idiotas do que ele considera — ironizou.

A vereadora Marielle Franco , assassinada em março de 2018 no Rio, foi lembrada pelos manifestantes que protestam no Centro do Rio contra o bloqueio de verbas na educação.  

Ao longo do protesto, algumas pessoas carregavam placas com o nome da vereadora. Uma faixa na linha de frente do ato trazia os dizeres “Juntas somos gigantes — Marielle presente”  e gritaram palavras de ordem em homenagem à vereadora, como “Ô Marielle, não vou me esquecer, foi a milícia que assassinou você”.

Em Campos dos Goytacazes, no Norte fluminense, alunos da Uenf se reuniram e atearam fogo em pneus fechando o trânsito na Avenida Alberto Lamego, em sentido ao Centro da cidade. Posteriormente, a Polícia Militar (PM) liberou o local.

Em São Paulo, presença de Haddad

Milhares de estudantes, professores, ativistas políticos e sindicalistas fecharam na tarde desta quarta-feira as duas pistas da Avenida Paulista , em São Paulo, em manifestação contra os cortes feitos pelo governo naeducação . Os manifestantes se dispersaram por volta das 20h, depois que o grupo seguiu em marcha até a sede da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Estudantes de escolas, faculdades e universidades públicas e privadas ocuparam seis quadras da avenida, no trecho entre a sede da Fiesp e a rua Augusta. O foco da concentração estava no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

O ex-prefeito de São Paulo, ex-ministro da Educação e candidato presidencial derrotado por Jair Bolsonaro, Fernando Haddad esteve no ato. De cima de um caminhão, saudou os manifestantes, que reagiram com aplausos.

— Nós vamos educar o Bolsonaro. É ele que precisa ser educado, é ele que precisa conhecer o Brasil. E não vamos parar até que ele demonstre que aprendeu a lição — falou Haddad. — Ele está no Texas (Estados Unidos), que é a pátria que ele escolheu pra servir. Segunda vez que ele foi nos Estados Unidos e nenhuma vez nos nove estados do Nordeste – disse Haddad.

A Polícia Militar não deu uma estimativa do número de participantes. Segundo os organizadores, cerca de 250 mil pessoas estavam presentes na manifestação às 18h.

As manifestações se estenderam por cidades grandes do interior paulista. Em Campinas e Ribeirão Preto, por exemplo, os militantes estiveram reunidos no centro dessas cidades.  Pessoas usaram carro de som para discursar contra a medida do governo e levaram cartazes com críticas ao presidente Jair Bolsonaro, inclusive com ataques à reforma da Previdência.

Em frente ao Masp, a professora aposentada do Instituto de Matemática e Estatística da USP, Heloísa Borsari, saiu de casa para se juntar aos estudantes no protesto.

Segundo ela, o movimento tem importância por ser a primeira grande manifestação contra o governo Bolsonaro. Contudo, a docente admitiu que o campo progressista ainda tem dificuldade em se comunicar com outros setores da sociedade.

— Tem que ser um movimento suprapartidário, para que a gente possa defender minimamente os direitos e a inclusão que nós conseguimos com a Constituição de 1988 — disse.

Heloísa diz que o atual governo chama a atenção por ter conseguido atrair para o conservadorismo a juventude, sobretudo na pauta ligadas aos costumes.

Questionada sobre a declaração do presidente, que chamou os manifestantes de “idiotas úteis”, Heloísa brincou:

— E ele é um idiota inútil. Mas bastante nocivo.

Em Brasília, protesto termina em confusão

A manifestação em Brasília terminou com confusão e com duas pessoas presas pela Polícia Militar, na manhã desta quarta. O ato chegou a reunir cerca de 15 mil pessoas segundo a própria PM, e 50 mil de acordo com os organizadores.

A concentração dos manifestantes ocorreu na Esplanada dos Ministérios, na altura do Museu da República, e seguiu em direção ao Congresso Nacional, próximo de onde iniciou a confusão .

Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, manifestantes atiraram rojões contra os policiais, ocasionando na prisão de duas pessoas durante o protesto, que não terminou com vítimas.

Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Belém

O s protestos aconteceram nos 26 estados do país e no Distrito Federal, com grande concentração na Esplanada dos Ministérios .

Em Belo Horizonte , os organizadores da manifestação afirmaram que ela reuniu 250 mil pessoas . Com estudantes e professores do Cefet-MG, da UFMG e da UEMG à frente, os protestos se concentraram,  principalmente, na Praça da Estação, Praça Sete e em pontos da Avenida Amazonas.

Em Brasília, a PM estimou que 15 mil pessoas protestaram na Esplanada dos Ministérios. Os organizadores falam num público de 50 mil. O protesto já se encerrou na capital.

Em Salvador , a concentração dos manifestantes começou por volta das 9h50m e ocupou toda a Avenida Sete de Setembro, congestionando o trânsito no local. O destino final dos manifestantes foi a Praça Castro Alves, um percurso de aproximadamente 2,5 quilômetros. Debaixo de chuva, o ato chegou ao local por volta de 12h, antes do grupo se dispersar, uma hora depois. A Polícia Militar não divulgou uma estimativa de público, mas os organizadores estipulam que cerca de 50 mil pessoas tenham participado.

Em Belém, o protesto teve a forma de uma aula pública na Praça da República, onde cerca de 20 mil manifestantes se reuniram, segundo a Polícia Militar.

Redes Sociais

Os protestos foram convocados por entidades ligadas aos movimentos estudantis, sociais e também a partidos políticos e sindicatos.

No Twitter, a hashtag #TsunamidaEducação está em primeiro lugar como o assunto mais comentado na rede no país. A partir dela, são compartilhadas imagens e registros dos protestos pelo país e mensagens de apoio ao movimento. Internautas também estão usando #15M, em referência à data, para falar nas redes sobre a paralisação desta quarta-feira.

Em março, um decreto estabelecia o contigenciamento de R$ 5,8 bilhões previstos para a educação. Em abril, o MEC informou o bloqueio de 30% de verba de custeio para as universidades e institutos federais. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi convocado para sabatina na Câmara nesta quarta-feira para tratar dos cortes.

Na última semana, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), atingida pelo contingenciamento, informou ter suspendido as bolsas “ociosas” de mestrado e doutorado.

Segundo o governo federal, a queda na arrecadação obrigou a contenção de recursos. O bloqueio deverá voltar a ser valiado posteriormente.

Participaram desta cobertura: Ana Paula Blower, André de Souza, Audrey Furlaneto, Dimitrius Dantas, Evelin Azevedo, Henrique Gomes Batista, Gisele Barros, Gustavo Maia, Jussara Soares, Luciano Ferreira, Paula Ferreira, Rayanderson Guerra. Estagiários: Bernardo Falcão, Pedro Capetti e Felipe Moura, sob supervisão de Eduardo Bresciani e Helena Borges.

Fonte: O Globo

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