América Latina paga preços mais altos que demais continentes, diz o Banco Mundial

Os consumidores da América Latina e do Caribe pagam preços mais altos que os do restante do mundo, em parte pela “falta de concorrência”, segundo o economista-chefe do Banco Mundial para a região. A América Latina “chegou a uma conjuntura crítica” porque, apesar de ter feito “avanços significativos na estabilização econômica, o crescimento estagnou”, segundo o relatório da instituição financeira, intitulado “Concorrência: o ingrediente que falta para crescer?”, publicado nesta quarta-feira.

O Banco Mundial (BM) prevê que a economia regional vá crescer 1,6% este ano, e 2,7% e 2,6% em 2025 e 2026, respectivamente. “São as taxas mais baixas em comparação com todas as outras regiões do mundo, e insuficientes para impulsionar a prosperidade”, destacou em um comunicado. Os consumidores são prejudicados por esse contexto, pagando preços mais altos que os do restante do mundo.

Os preços “são altos porque, possivelmente, temos falta de concorrência, e isso implica em que o consumidor está pagando a conta”, explicou à AFP William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. Em um cenário de grande concentração empresarial, algumas companhias dominam e influenciam os mercados e têm poucos estímulos para inovar, avalia a instituição.

Dados apontam que 70% dos trabalhadores são autônomos ou trabalham em empresas com menos de dez funcionários, em sua maior parte ocupados em atividades de baixa produtividade, assinala o Banco Mundial.

“Isso é parcialmente resultado do fato de que estamos crescendo 2,3% ou 2,5% na região” e “não estamos gerando os empregos mais modernos para toda essa gente”, explicou Maloney à AFP.

Ao contrário, a região pode se gabar de fazer um “bom manejo da inflação”, um reflexo de décadas de reformas macroeconômicas. A inflação regional, exceto na Argentina e na Venezuela, está em 3,5%, frente a 5,7% nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE).

Entenda a divisão de funções entre pai e filhos presos por golpe de R$ 8 mi

Três dos quatro presos em Sobradinho, nesta terça-feira (9/4) — acusados de participar de uma quadrilha que aplicou golpes em várias pessoas e que passaram dos R$ 8 milhões — são membros de uma mesma família. Kelton Ferreira e Silva que, segundo a Polícia Civil do DF (PCDF), encabeça a organização criminosa, é pai de Robert Hericles Ferreira e Silva e Ana Carolina Ferreira e Silva, seus filhos e cúmplices. A detenção deles foi realizada pela operação Suor Sagrado, que também cumpriu 14 mandados de busca e apreensão em outros pontos da capital, em e nas cidades goianas de Planaltina de Goiás e em Rio Verde.

Pelas redes sociais, os delinquentes atraíam suas vítimas. No primeiro momento, eles ofereciam produtos eletrônicos por uma loja virtual chamada Go Store. As mercadorias eram comercializadas, mas os clientes nunca as recebiam. As investigações revelaram que o bando também agia oferecendo falsas oportunidades de investimento que prometiam retorno financeiro de cerca de 7%, o que nunca se concretizou.

Segundo a PCDF, muitos desses investidores, que acabaram ludibriados, para honrar as dívidas ofereciam os próprios veículos como garantia. O delegado-chefe da 35ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), Ricardo Viana acrescentou que, outra maneira dos enganados pagarem, era usando cartão de crédito. Ele disse que houve várias vítimas que começam investindo um pequeno valor e, posteriormente, se animaram a dar quantias maiores. Quando isso ocorria, de acordo com Viana, os suspeitos iam à casa da pessoa com uma máquina de cartão para receber a quantia.

O pai, Kelton, é tido pela polícia como o encarregado de receber pagamentos em cartão de crédito. Sua filha Ana Carolina foi apontada pelas vítimas como uma das pessoas que ia às casas delas cobrar com máquinas de cartão. Além disso, ela, que é nutricionista, supostamente incentivava quem caiu no golpe a aumentar os aportes e fazê-los com mais frequência, mantendo contato frequente com essas pessoas e convidando-as para reuniões.

Robert usava as redes para conseguir clientes, mesmo meio utilizado pela irmã para essa finalidade. Em um vídeo divulgado na página do Instagram da Go Store, o jovem pergunta se as pessoas têm cartão de crédito. “Você está com algum cartão parado e tem algum crédito pré-aprovado, mas não sabe como usar? Eu tenho a solução. Montamos uma equipe que pode te ajudar. Você não precisa saber de estratégia. Venha comigo, que eu faço para você”, fala.

Outro investigado é Dário Rodrigues Doroteu, apontado pela polícia como um dos principais captadores de clientes da empresa e responsável por conduzir abordagens persuasivas para investimentos e financiamentos. Na casa dele, em Sobradinho, o homem promoveu inúmeras reuniões com as vítimas para convencê-las a investir. O delegado ressalta que nenhum dos suspeitos e nem as empresas alvos dos mandados de busca têm autorização para atuar no mercado financeiro, uma vez que não tinham autorização legal para exercer tal modalidade.

Ao menos 14 vítimas caíram no golpe que fez o grupo faturar pouco mais de R$ 8 milhões. Além dos mandados de prisão contra o pai e seus filhos, a polícia prendeu outro rapaz, de 24 anos, por envolvimento no esquema. O quarteto residia em Sobradinho.

Ordens judiciais de busca e apreensão contra outros acusados de se beneficiarem do esquema foram cumpridas também em Ceilândia, no Distrito Federal. Em Rio Verde, os policiais estiveram na sede de uma empresa agropecuária que financiou o grupo.

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Reunião entre Lula e Haddad deve definir futuro de Prates na Petrobras

Em meio a uma forte crise interna, a saída de Jean Paul Prates do comando da Petrobras é vista como quase certa por integrantes do governo federal. Essa história pode ter um desfecho ainda nesta segunda-feira (8/4), com a reunião entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que ocorre a partir das 18h, no Palácio da Alvorada.

O ministro Haddad vem evitando comentar sobre o embate entre Prates e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se intensificou nas últimas semanas. Silveira é crítico da gestão do atual presidente da Petrobras, por entender que os dividendos a serem pagos aos acionistas da companhia deveriam ser retidos totalmente pela empresa, o que não é defendido por Prates, que propõe uma solução “meio-a-meio”, no qual apenas 50% seriam distribuídos.

A reunião ocorre após ter sido adiada deste domingo pelo próprio presidente Lula, que teria ficado irritado com a divulgação do encontro pela imprensa. Além de Haddad, os ministros Alexandre Silveira e Rui Costa, da Casa Civil, também devem estar presentes no Palácio da Alvorada.

Ontem, após ter desmarcado a reunião com os ministros, o presidente Lula telefonou para Silveira a fim de discutir as condições para uma possível permanência de Prates. Segundo interlocutores do Planalto, o ministro de Minas e Energia estabeleceu quatro pontos a serem seguidos pelo atual presidente da Petrobras, na sua visão.

Segundo as fontes, entre os compromissos defendidos por Silveira, estão uma independência maior do mercado financeiro, a defesa de pautas de interesse do governo no Conselho de Administração da Petrobras, o cumprimento do plano de investimentos da companhia aprovado por Lula, além do alinhamento com o governo em relação à pauta sobre os biocombustíveis no Congresso, no qual Prates é, expostamente, contra.

Em conversa com jornalistas, o ministro da Fazenda disse que caberia apenas à Petrobras a decisão de distribuir, ou não, os dividendos extraordinários aos acionistas. A fala ocorreu logo após um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no início da tarde desta segunda-feira.

Haddad, no entanto, ainda afirmou que o tema estaria bem encaminhado e que a empresa está “robusta”. De acordo com o ministro, os dados sobre o caixa da Petrobras têm sido levados ao presidente. “Temos levado muitas informações para o presidente sobre a situação do caixa da Petrobras para que ele (Lula) possa ter tranquilidade de que o plano de investimento não vai ser prejudicado pelo financeiro”, disse o ministro.

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O Brasil branco é um produto de cotas

Quem observa a oposição às cotas raciais nas universidades e no serviço público é capaz de pensar que o Brasil nunca adotou cotas anteriormente. Errado. O difícil é encontrar alguém que não tenha tido um ancestral cotista entre a nossa população branca.

Não é segredo a adoção de políticas de ação afirmativa (como doação de terras) para estimular a imigração de europeus (a começar por italianos e alemães). Para desbravar o mundo novo e embranquecer o território enegrecido pela exploração dos escravizados africanos, foram distribuídos subsídios diversos.

Contudo, avançando nos séculos, antes da aprovação da Lei de Cotas, em 2012, nunca havia sido implementada uma política de inclusão social voltada à população negra.

Cotas raciais têm a ver com a promoção de uma competição justa entre candidatos que enfrentaram uma série de dificuldades que extrapolam em muito (infelizmente) a baixa qualidade do ensino ao qual tiveram acesso.

E, ao contrário da propaganda falaciosa, nunca tiveram nada a ver com exclusão do mérito. Não neste país de maioria negra, onde os excluídos são também majoritariamente pretos e pardos.

Então, considerando que todos os outros tiveram sua vez de receber incentivos, por que a adoção de medidas compensatórias para negros, quilombolas e indígenas incomoda tanta gente?

Particularmente, só encontro explicação ligada ao racismo. E foi a partir dessa perspectiva que olhei para o resultado da Datafolha apontando apoio de 83% a cotas no ensino superior, mas oposição de 56% ao atual modelo e de 41% ao critério racial.

Tenho extrema dificuldade de entender como é que parte considerável dos brasileiros não se rende ao fato de que (contrariando o bordão da época da ditadura) este é um país que não vai para a frente se continuar perpetuando a desigualdade racial.

Como disse o jornalista Laurentino Gomes, autor da trilogia “Escravidão”, “o enfrentamento da herança da escravidão deveria partir do Brasil branco”.

“Tempo é curto para cumprir promessas”, diz presidente de Portugal a novo premiê

Lisboa — Ao dar posse ao novo governo, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, fez questão de enviar uma série de recados ao primeiro-ministro, Luís Montenegro. O mais contundente deles foi o que o tempo para que as promessas de campanha sejam cumpridas é muito curto. Há, no entender do presidente, boas condições internas para que se possa avançar nas soluções para a habitação, a saúde, a educação e a segurança pública. Para isso, basta que a nova administração não crie problemas onde não existe.

“Onde não temos problemas, não os devemos criá-los, como no consenso sobre mais crescimento, investimento e exportações, no equilíbrio das contas públicas, na atenção à dívida externa, pública e privada, e no aproveitamento das vantagens da segurança”, afirmou Rebelo de Sousa. Esse alerta, acrescentou, é extremamente importante diante das más condições externas. “Temos um mundo pior agora do que em 2023 e que pode piorar, dependendo da influência das eleições norte-americanas nas guerras, e das guerras na economia, no crescimento, na inflação e nos juros”, frisou.

Para ele, quando foram às urnas, em 10 de março último, os portugueses optaram por dar um mandato a um grupo moderado, representado pela Aliança Democrática. “Os eleitores não escolheram nem o partido que governou nos últimos anos, inclusive com maioria absoluta, nem aquele mais radical”, assinalou. Ele destacou ainda o fato de os eleitores terem saído de casa para exercer o direito do voto, em especial, os maios jovens, que ajudaram a reduzir em mais de 10 pontos percentuais os índices de abstenção. “Foi um voto de fé na democracia. Ao inverter a abstenção que parecia imparável, o eleitor quis dizer que o voto vale sempre a pena, que a liberdade vale sempre a pena, que a democracia vale sempre a pena”, ressaltou.

Na opinião do presidente, o diálogo será fundamental para o sucesso do governo agora empossado, sobretudo, porque não conseguiu fazer maioria na Assembleia da República. Será preciso uma ampla negociação para que o país avance nas reformas estruturais, reorganize o modelo do Sistema Nacional de Saúde (SNS), de forma a preservá-lo, melhore a educação e se alie ao setor público para equacionar os gravíssimos problemas na área de habitação, sem esquecer o papel do Estado nesse contexto, de proteger os mais vulneráveis.

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O lado fiscal do novo normal nas economias avançadas

A partir de 2021, tornou-se clara a mudança nos regimes de política macroeconômica das principais economias avançadas, em relação ao período pós-crise financeira global de 2008.

Houve a mudança de uma tendência deflacionária por insuficiência crônica de demanda agregada para choques frequentes de restrições na oferta e um aumento da inflação. Isso levou ao fim da era de liquidez abundante e barata dos bancos centrais, resultando em taxas de juros mais altas e em “apertos quantitativos” por bancos centrais.

Como consequência, elevaram-se as preocupações com possíveis múltiplos choques financeiros. Além de buscarem equilibrar redução da inflação com manutenção de empregos, os bancos centrais e governos estão obrigados a manter vigília sobre a estabilidade financeira.

O desempenho macroeconômico refletiu a elevação das taxas de juros pelos bancos centrais. No caso dos Estados Unidos, o crescimento e o emprego se mostraram resilientes, enquanto a taxa de inflação desceu dos altos patamares que alcançou, mais recentemente mostrando lentidão para baixo.

O excesso de poupança das famílias, depois do volume extraordinário de transferências governamentais associadas à pandemia, assim como o retorno dos fluxos de imigração e a situação protegida de famílias com hipotecas com taxas fixas e baixas por 30 anos, em conjunto com déficits fiscais, explicam aquela resiliência.

Na área financeira, houve a turbulência bancária no ano passado. Contudo, não apenas boa parte do setor corporativo havia aproveitado a fase de liquidez disponível para alongar dívidas com taxas mais baixas que as que vieram a vigorar em mercados, como também os mercados acionários mais que recuperaram a forte queda de preços vivida em 2022.

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O resultado em termos de crescimento e inflação na Europa foi menos favorável, mas numa direção similar.

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De qualquer modo, as taxas de juros ajustadas pela inflação estão bem acima daquelas mínimas do período pós-crise financeira global, nos dois lados do Atlântico, enquanto o crescimento de médio prazo permanece fraco.

A novidade em termos de componentes do regime de políticas macroeconômicas nas economias avançadas vem do lado fiscal.

A sustentabilidade de uma dívida pública depende de quatro fatores-chave: saldos primários (excessos de receitas do governo sobre despesas, excluindo pagamentos de juros), crescimento econômico em termos reais, taxas de juros reais e os próprios níveis da dívida.

Saldos primários mais altos e crescimento ajudam a alcançar a sustentabilidade da dívida, enquanto taxas de juros e níveis de dívida mais altos jogam na direção oposta.

Durante muito tempo, a dinâmica da dívida permaneceu benigna, pois as taxas de juros reais estavam significativamente abaixo das taxas de crescimento. Isso reduziu a pressão para a consolidação fiscal e permitiu que déficits públicos e dívidas públicas aumentassem sem grande preocupação. Então veio o aumento durante a pandemia, por conta de grandes pacotes de apoio emergencial.

Como resultado, a dívida pública como fração do produto interno bruto aumentou significativamente em economias avançadas e emergentes. Estimativas do FMI sugerem que deverão atingir, respectivamente, 120% e 80% do PIB até 2028.

Tem-se, portanto, uma combinação de:

taxas de crescimento de médio prazo mais baixas, em decorrência de crescimento medíocre da produtividade, demografia menos favorável ao crescimento, baixos investimentos e cicatrizes da pandemia.

taxas de juros bem mais altas aumentando o custo de serviço da dívida pública, depois da subida de patamares de dívida desde a pandemia e de pacotes de incentivos fiscais. Mesmo que taxas “naturais” de juros (aquelas às quais uma economia opera em seu potencial enquanto a inflação se mantém estável) retornem a patamares mais baixos, as taxas de juros de longo prazo exigidas por compradores de títulos públicos incorporam um prêmio de risco que tende a subir nas novas circunstâncias.

Há um “novo normal” com custos de financiamento significativamente mais altos do que na última década.

Se melhorias nos saldos primários dos governos não puderem ser alcançadas para compensar taxas reais mais altas e crescimento potencial mais baixo, a dívida soberana continuará a crescer.

Isso também poderá trazer implicações para a saúde do setor financeiro. Taxas de juros mais altas, níveis mais altos de dívida soberana e uma parcela maior dessa dívida no balanço do setor bancário tornam o setor financeiro mais vulnerável.

Uma reconstrução gradual e crível de amortecedores fiscais que garantam a sustentabilidade de longo prazo de dívidas soberanas será apropriada no “novo normal” do regime de políticas macroeconômicas.

Valerá também a efetuação de testes de estresse que considerem os impactos sobre bancos e instituições não bancárias de taxas de juros soberanas mais altas, além de possíveis episódios de iliquidez de mercado.

A polêmica descriminalização de drogas pesadas que divide província do Canadá

No ano passado, a Colúmbia Britânica tornou-se a primeira província do Canadá a descriminalizar o uso de drogas pesadas como parte dos esforços para enfrentar uma crise mortal relacionada ao abuso de opioides. Mas a política enfrenta alguns retrocessos, o que deixa o futuro dela um tanto incerto.

Todas as segundas-feiras, o ex-prefeito de Vancouver, Kennedy Stewart, recebia um e-mail que listava todas as pessoas que haviam morrido na cidade por overdose de drogas na semana anterior.

Um dia, há cerca de três anos, essa lista incluía o nome de um parente — Susan Havelock, a irmã de seu cunhado.

“Ela morreu aqui na rua às duas da manhã”, disse Stewart à BBC, em seu escritório no centro de Vancouver, apontando para fora da janela.

“Quando isso atinge sua família, você começa a ver o quão desesperadora é toda essa situação.”

A América do Norte está no meio de uma grande crise de drogas. As overdoses fatais atingiram um pico que superou os 112 mil nos Estados Unidos pela primeira vez no ano passado.

No Canadá, em nenhum lugar esta questão é sentida de forma mais aguda do que na Colúmbia Britânica, onde a situação foi declarada pela primeira vez como uma emergência de saúde pública em 2016. No ano passado, a província registou um recorde de mais de 2,5 mil mortes por overdose.

Estima-se que cerca de 225 mil pessoas usem drogas ilegais na província canadense, e especialistas dizem que o fornecimento de drogas nas ruas — que trazem misturas de fentanil e outros produtos — coloca cada uma delas sob risco de morte.

Em janeiro de 2023, na tentativa de enfrentar a crise, a Colúmbia Britância tornou-se a primeira — e a única — província do Canadá a descriminalizar a posse de uma pequena quantidade de drogas pesadas, para “reduzir as barreiras e o estigma” que impedem aqueles com dependência grave de drogas em buscar ajuda e tratamento que salvam vidas.

O programa do governo, que funciona numa fase piloto até 2026, permite que adultos portem até 2,5 gramas de heroína, fentanil, cocaína ou metanfetamina sem serem presos, acusados ou verem as suas drogas apreendidas, exceto perto de escolas e aeroportos.

Porém, pouco mais de um ano após o início do projeto, o programa está sob pressão crescente de alguns residentes e opositores políticos, que o consideraram uma “experiência prejudicial” implementada sem salvaguardas para o restante público. Outros a descrevem como uma experiência que “falhou completamente” na redução das mortes por overdose de drogas.

Desde então, a Colúmbia Britânica apresentou um projeto de lei que expandiria os locais onde o uso de drogas é proibido para incluir não apenas escolas e aeroportos, mas também playgrounds e as proximidades de residências e empresas — uma medida que foi bloqueada, por ora, pela Suprema Corte da província devido às preocupações de que causaria “danos irreparáveis” às pessoas que usam drogas.

Agora, os defensores da descriminalização temem que a adesão pública a esta política diminua.

“É realmente lamentável”, disse Fiona Wilson, subchefe do Departamento de Polícia de Vancouver, que também atua como presidente da Associação de Chefes de Polícia da província.

“No final das contas, estamos todos remando na mesma direção, pois não queremos criminalizar as pessoas em virtude do uso de drogas, uma vez que isso deveria ser encarado como uma questão de saúde.”

Trata-se de um debate que afeta não apenas grandes cidades como Vancouver, mas também lugares como Port Coquitlam, um subúrbio de 60 mil habitantes, rico em trilhas para caminhada, parques públicos e residências pequenas, que têm apenas um morador.

Nesse local, houve uma briga durante uma festa de aniversário infantil que foi “a gota d’água” para o prefeito Brad West.

West disse à BBC que uma família avistou uma pessoa usando drogas perto da festa, realizada em um parque local. Confrontado, o indivíduo recusou-se a sair, segundo o relato do prefeito.

“Isso para mim é inaceitável”, afirmou West, acrescentando que a polícia tinha o direito de intervir nessa situação.

Surgiram histórias em outros lugares sobre apetrechos para drogas encontrados em parques e sobre cães que ingeriram acidentalmente opioides encontrados no chão.

Em junho, Port Coquitlam aprovou por unanimidade um estatuto próprio para restringir o consumo público de drogas. Outras jurisdições seguiram o mesmo exemplo.

A descriminalização baseia-se no argumento de que a guerra contra as drogas falhou — e que prender pessoas com dependência grave poderia aumentar a probabilidade de overdose, forçando-as a encontrar alternativas que podem ser letais. Um registro criminal também pode impedir esses indivíduos de encontrar um emprego estável, reduzindo a possibilidade de recuperação.

“Fiquei preso durante nove meses por meio grama de cocaína”, conta Guy Felicella, um defensor da redução de danos causados pelas drogas. Ele mora em Vancouver e se recuperou do vício em drogas após seis episódios de overdose em 2013.

A descriminalização, segundo ele, o teria ajudado a reduzir o medo de ser punido legalmente — um temor que o forçou a consumir drogas em locais privados, fora da vista de outras pessoas para quem poderia pedir ajuda caso tivesse uma overdose.

Portugal, país onde as drogas foram descriminalizadas em 2001, tem taxas de mortalidade relacionadas ao abuso de substâncias que são significativamente mais baixas do que o observado em outros países.

O sucesso lusitano inspirou esforços tanto na Colúmbia Britânica como no Estado americano de Oregon, que descriminalizou as drogas em 2020.

Porém, nas três localidades, a política enfrentou resistência. No Oregon, por exemplo, os legisladores reverteram completamente a iniciativa em março, depois de ela ter sido responsabilizada pelo aumento da desordem pública e do consumo de drogas.

Na Colúmbia Britânica, que tem um histórico de defesa da redução de danos, o esforço do governo para rever a política de descriminalização foi contestado em tribunal devido a preocupações de que levaria a um “aumento do risco de mortalidade por overdose”.

Até agora, os tribunais foram contra esse argumento — e o resultado da decisão judicial suscitou reações mistas.

Para o prefeito West, os tribunais “estão fora de sintonia com a percepção do público”.

“Este foco no ‘dano irreparável’ a um determinado grupo ignora o dano que ocorre aos outros quando se permite o uso público e desenfreado de drogas”, argumenta ele.

Mas estes sentimentos foram contrariados pelos defensores da descriminalização, como o legista-chefe da província, que afirmou não haver provas para afirmar que o público em geral esteja em risco devido ao consumo público de drogas.

“Não é confortável ver pessoas usando drogas em público”, admitiu Lisa Lapointe, em entrevista ao meio de comunicação local CityNews em janeiro.

“Mas quem está mais desconfortável? São aqueles de nós que voltam para nossas casas quentes ou são aqueles que vivem sem teto e precisam lidar com a situação da melhor maneira que conhecem?”, questionou ela.

No bairro Downtown Eastside de Vancouver, que há muito enfrenta questões sociais como a pobreza e o uso de drogas, os defensores acusaram os políticos de semearem o “pânico moral”.

“Fazer bodes expiatórios e difamar pessoas que usam drogas tem sido [historicamente] um ótimo meio de obtenção de votos”, observa Garth Mullins, membro da Rede de Usuários de Drogas da Área de Vancouver.

Não há dados sobre o quanto o consumo público de drogas na Colúmbia Britânica aumentou após a descriminalização, mas houve uma queda de 76% nas apreensões de posse de drogas no primeiro ano de implementação da política.

Os dados mostram também que a utilização de serviços de verificação de drogas — onde as pessoas podem testar as substâncias para ver o que há na composição delas — e de locais de prevenção de overdoses — onde é possível consumir drogas sob supervisão — aumentou.

A taxa de mortalidade, no entanto, continuou em ascensão. Desde a descriminalização, as mortes notificadas por toxicidade relacionada aos opioides se elevaram em quase 5%.

Lapointe, legista-chefe da província, rejeitou qualquer ligação entre a descriminalização das drogas e esse aumento, dizendo que “o fentanil ilícito é responsável” pelas mortes.

Junto de outras autoridades de saúde pública, ela sustenta que a descriminalização é apenas uma ferramenta entre muitas para enfrentar a crise.

Stewart, prefeito de Vancouver de 2018 a 2022, foi uma força motriz por trás do esforço inicial para descriminalizar as drogas na Colúmbia Britânica.

Ele não conseguiu se reeleger ao perder as eleições por uma diferença 23 mil votos para Ken Sim, um candidato de centro-direita que fez campanha com a promessa de contratar mais policiais e limpar acampamentos de sem-teto no Downtown Eastside de Vancouver.

O agora prefeito Sim também apoia a pressão da província para restringir o consumo público de drogas — sinalizando uma mudança política na grande metrópole.

Numa declaração à BBC, Sim diz que a crise das drogas é “devastadora” e “profundamente pessoal para muitos moradores de Vancouver e da Colômbia Britânica”.

Mas ele acredita que é necessário encontrar um “equilíbrio delicado” entre apoiar pessoas com dependência grave e “manter as áreas seguras para crianças e famílias”.

Stewart acredita que os moradores de Vancouver mudaram nos últimos anos — com a disparada dos valores imobiliários e o aumento dos custos devido à inflação, ele argumenta que algumas pessoas se tornaram um tanto mais conservadoras.

Uma coisa que não mudou, observa ele, é a gravidade da crise das drogas.

“Esses e-mails com as mortes por overdose da semana passada ainda chegam à caixa de entrada do novo prefeito todas as segundas-feiras”, destaca Stewart.

Preços do medicamento sobem até 4,5% a partir de hoje. Entenda

Os medicamentos poderão ficar até 4,5% mais caros a partir deste sábado. O percentual se refere ao teto do reajuste anual estabelecido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão interministerial responsável pela regulação do mercado de medicamentos no país. O teto do reajuste é o menor desde 2020. Ano passado, o limite máximo autorizado foi de 5,6%.

O reajuste está autorizado a partir de domingo, dia 31, mas o aumento dos preços não é automático. Mesmo assim, a tendência é que, a partir do dia 1º, as remarcações ocorram ao longo do tempo, na magnitude máxima permitida.

Concorrência regula preços, diz indústria

O Sindusfarma, que representa a indústria farmacêutica, ressaltou que os reajustes não são automáticos porque “a grande concorrência entre as empresas do setor regula os preços”.

“Medicamentos com o mesmo princípio ativo e para a mesma classe terapêutica (doença) são oferecidos no país por vários fabricantes e em milhares de pontos de venda”, diz uma nota divulgada pela entidade.

Neste ano, o limite máximo de 4,5% é exatamente a variação acumulada em 12 meses do IPCA, o índice oficial de inflação, calculado pelo IBGE, mas está acima das expectativas. Analistas esperam que o IPCA suba 3,75% este ano.

Mesmo assim, os reajustes autorizados pela CMED têm ficado abaixo da inflação média ao consumidor, segundo o Sindusfarma. Nas contas da entidade, de 2014 a 2024, os reajustes autorizados pelo governo acumulam uma alta de 72,7%, abaixo da variação acumulada registrada pelo IPCA, de 77,5%, no mesmo período.

Reajuste maior no Rio

No Estado do Rio, o impacto no bolso poderá ser maior. Isso porque, no último dia 20, a alíquota do ICMS passou de 18% para 20%. Somada à taxa do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (FECP), a alíquota chega a 22%, a maior do país. Esse aumento também deverá ser repassado aos consumidores finais.

— Haverá um impacto grande para as famílias, principalmente aquelas com aposentados, pensionistas e com pessoas que utilizam medicação de uso contínuo. É uma combinação perversa de dois aumentos. Um é previsto anualmente, o outro foi anunciado para reposição ao caixa dos estados, defasada desde a diminuição do imposto sobre os combustíveis, em 2022 — diz a economista e professora Carla Beni, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Embora a taxa do tributo seja mais elevada no Rio, o estado está num grupo de 11 unidades da federação que aprovaram aumentos nas alíquotas básicas do ICMS, com vigência a partir deste ano.

Sergio Mena Barreto, presidente da Abrafarma, entidade nacional que representa as farmácias, afirmou, em nota, que esses governos “demonstram insensibilidade com a população mais pobre”.

Segundo o Sindusfarma, a carga tributária dos medicamentos responde por 32% do preço final ao consumidor.