Boletim Focus: mercado eleva projeções para inflação e PIB em 2024

Economistas do mercado financeiro voltaram a elevar as suas projeções para a inflação e para o crescimento da economia neste ano. Segundo os dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (19/8) pelo Banco Central (BC), a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4,20% para 4,22%, na quinta semana seguida de alta.

A previsão para a inflação de 2025, por sua vez, caiu de 3,97% para 3,91%. A projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, assim como para 2027, em 3,50%. A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e em 2025. A margem de tolerância para que ela seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

A piora nas expectativas de inflação acontece no momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom mais duro na ata de sua última reunião, sinalizando que pode haver aumento de juros, caso os indicadores econômicos mostrem que essa é uma solução necessária.

A projeção para a taxa básica de juros da economia (Selic) permaneceu estável em para 2024, em 10,50%, mas voltou a subir, de 9,75% para 10,0% em 2025. Para 2026, foi mantida nos mesmos 9,0%, enquanto a taxa esperada para 2027 também permaneceu em 9,0%.

A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 também registrou alta, subindo de 2,20% para 2,23%. Por outro lado, a previsão para 2025, recuou de 1,92% para 1,89%. A estimativa para 2026 continua nos mesmos 2,0%. A projeção também está em 2,0% para 2027.

Em relação ao câmbio, a projeção para o dólar em 2024 subiu de R$ 5,30 para R$ 5,31. Para 2025, a estimativa permaneceu em R$ 5,30, assim como para 2026 e 2026, cuja projeção é de R$ 5,25.

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Economia do Distrito Federal dá sinais de recuperação

A economia do Distrito Federal demonstrou um aquecimento econômico gradual no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Boletim de Conjuntura do Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF), divulgado em julho. A pesquisa ressalta que os efeitos do acesso ao crédito e de cortes na taxa de juros impulsionaram os setores de comércio (+2,7%) e serviços (+5,2%) — crescimento no acumulado de 12 meses, até março de 2024 — o que ampliou a comercialização de bens duráveis e de consumo básico (confira o quadro).

Esse crescimento, de acordo com o levantamento, especialmente dos setores automobilístico e de eletrodomésticos, se deve ao aumento do rendimento médio dos brasilienses e à melhoria no acesso ao crédito pelas famílias, o que possibilita ampliação do consumo familiar. Além disso, a expansão das vendas, indo além dos bens de consumo básicos, condiz com o ciclo de cortes da taxa de juros e ancoragem de expectativas inflacionárias, verificadas até março deste ano.

Secretário de Economia do DF, Ney Ferraz ressalta que os estudos do IPEDF mostram que “estamos no caminho certo”, conduzindo bem a economia local. “Estamos investindo em obras, movimentando e estimulando vários segmentos da economia e o resultado disto é a criação de postos de trabalho”, analisa. “Também seguimos estreitando os laços com o setor produtivo e, sempre que possível, atendendo suas demandas, com o objetivo de gerar mais emprego e renda”, acrescenta Ferraz.

José Aparecido Freire, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), destaca que o desempenho do setor de comércio e serviços no DF, no primeiro trimestre de 2024, demonstrou a solidez do setor produtivo e sua capacidade de recuperação. “Isso foi fruto da resiliência do nosso empreendedor/empresariado e da parceria entre o setor produtivo e o poder público, na busca pelo desenvolvimento econômico e social”, observa.

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta comenta que o bom desempenho econômico está ligado à estabilidade dos preços de alguns produtos e à disponibilidade de empregos. “O comércio varejista está apresentando um crescimento. Em datas comemorativas, por exemplo, as vendas aumentaram nos últimos anos”, avalia.

Abritta ressalta que, com as perspectivas de redução de desemprego, o consumo deve continuar aumentando, pela segurança em conseguir assumir mais dívidas. “Emprego imediato traz consumo imediato. A cada ano que passa, estamos recuperando a economia, aos poucos”, comemora.

“Normalmente, para o varejo, o segundo semestre é melhor para o consumo, pois temos mais datas comemorativas, mais pagamentos ao trabalhador, além do fim de dívidas, como IPVA e IPTU. Então, se no primeiro trimestre os números foram bons, a expectativa é que a gente feche o ano com um belo superávit no comércio varejista”, pontua o presidente do Sindivarejista-DF.

Economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo destaca que os números da economia do DF mostram que o setor de serviços continua sendo o carro-chefe. “Após a pandemia, ele recuperou o que havia perdido e tem dado sustentação à economia local”, afirma.

Um dos exemplos é Elis Fernandes. Proprietária de um salão de beleza no Cruzeiro há 20 anos, ela diz que está se restabelecendo aos poucos, depois da pandemia. Ela afirma que, desde o fim do ano passado, o setor tem vivido um dos melhores momentos. “Aqui, na loja, por exemplo, a gente vem inovando, trazendo novos serviços para o salão, como a terapia capilar, pois houve uma mudança no mercado e tivemos que nos readaptar a esse novo ciclo”, argumenta Elis. “Nos especializamos, por meio de cursos profissionalizantes, e a esperança é de que, com essa novidade, a gente consiga dar um ‘boom’ nos serviços para o fim do ano que se aproxima”, analisa.

Serviços na área da saúde também estão em alta no DF. A fisioterapeuta Cyntia Nathalia Magalhães é dona de uma clínica de pilates em Taguatinga e aponta uma melhora na clientela. “Teve, sim, uma melhora. Acredito que seja porque a população, como um todo, está tentando cuidar mais da saúde”, opina.

De acordo com o especialista César Bergo, outro setor que vem demonstrando crescimento constante é o comércio varejista, levado pelo consumo forte e a maior renda per capita dos moradores do DF. Vendedora de uma loja de cosméticos no Sudoeste, Kamilla Nunes concorda com o economista. “O mercado de cosméticos, de forma geral, tem melhorado bastante, tanto na clientela quanto nas vagas de emprego. Não demorei muito para conseguir um serviço quando procurei”, afirma.

Segundo Kamilla, 2024 tem sido o melhor ano para o setor, depois da pandemia. “Ainda mais agora, a partir de junho, sentimos que a procura tem sido maior pelos produtos, principalmente de autocuidado”, ressalta. A vendedora destaca que uma das coisas que ajudaram a alavancar o mercado dos cosméticos, foi algo herdado da própria pandemia. “A divulgação on-line contribui bastante para as vendas na loja”, diz.

Subgerente de um supermercado no Cruzeiro, Francisco Hugo Leite percebe uma melhora no consumo. “Depois da pandemia, a economia tem se reerguido. Os clientes estão voltando a fazer compras maiores e com mais frequência. Estamos sempre cheios”, aponta.

“Acredito que 2024 esteja sendo o melhor ano pós-covid. O movimento está bem melhor na loja. Até mesmo as compras on-line, que implantamos durante a pandemia, estão diminuindo, pois os clientes estão preferindo vir até o estabelecimento”, argumenta Hugo.

O economista César Bergo avalia que, apesar de os números do Boletim de Conjuntura falarem apenas do primeiro trimestre, a tendência para os próximos meses é de que a economia do DF continue crescendo e apresentando números positivos. “Temos uma inflação controlada, por isso, o desempenho no segundo semestre deve ser bom também, principalmente pelo potencial do setor de turismo, com a chegada dos eventos de fim de ano”, observa.

Comércio varejista ampliado (+6,2%)

Serviços (+5,6%)

*Crescimento em relação ao primeiro trimestre de 2023

Fonte: IPEDF

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‘Traga a permissão por escrito do seu marido’: as duras leis que iranianas enfrentam para conseguir emprego

“Em uma entrevista de emprego, eles me pediram que levasse uma declaração por escrito do meu marido, para comprovar que eu tinha a permissão dele para trabalhar.”

Neda tem grau de mestrado em engenharia de petróleo e gás no Irã. Ao ouvir aquilo, ela conta que se sentiu humilhada.

“Respondi que sou adulta e tomo minhas próprias decisões.”

Sua experiência não é um caso isolado. Legalmente, as mulheres casadas no Irã precisam da autorização dos seus maridos para trabalhar. E esta é apenas uma das muitas barreiras legais que elas enfrentam quando querem entrar no mercado de trabalho.

Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2024, classifica o Irã entre os piores lugares do mundo em relação às barreiras legais de gênero no mercado de trabalho. O país fica à frente apenas do Iêmen e da Cisjordânia/Faixa de Gaza.

Outras estatísticas confirmam esta situação. O recente relatório Global Gender Gap (“Disparidade de gênero global”, em tradução livre), publicado pelo Fórum Econômico Mundial em 2024, indica que o Irã tem o menor índice de participação das mulheres no mercado de trabalho, entre os 146 países pesquisados.

As mulheres representam mais de 50% das pessoas com formação universitária do país, mas elas compõem apenas 12% do mercado de trabalho, segundo dados de 2023.

As leis de gênero, o assédio sexual generalizado e as frequentes visões sexistas sobre as mulheres e suas habilidades tornam o ambiente de trabalho muito hostil para as mulheres.

Algumas empresas não querem contratar mulheres jovens e investir na formação delas se seus maridos não as deixarem ter uma carreira

A maior parte das mulheres com quem a BBC conversou para esta reportagem declararam que não se sentem levadas suficientemente a sério no trabalho.

“Diversas barreiras legais e culturais mantêm as mulheres fora do mercado de trabalho no Irã”, segundo a ex-consultora do Banco Mundial, Nadereh Chamlou.

Ela afirma que fatores como a falta de bases jurídicas e as limitações legais em vigor, além de uma enorme disparidade salarial de gênero e “um teto de vidro muito baixo”, contribuem para a limitada participação das mulheres no mercado de trabalho iraniano.

É legal… e cultural

Os homens sabem que, legalmente, podem impedir suas esposas de trabalhar – e alguns fazem uso deste privilégio legal.

O empresário iraniano Saeed contou à BBC que, certa vez, “um marido furioso irrompeu no nosso escritório, empunhando uma vara de metal no ar e gritando, ‘quem deu permissão para você contratar minha esposa?'”.

Ele conta que, agora, sempre pede a autorização do marido por escrito, antes de contratar uma mulher.

Razieh é um jovem profissional que trabalha em uma empresa privada. Ele relembra um incidente parecido, quando um homem furioso invadiu seu escritório e disse ao CEO (diretor-executivo): “Não quero a minha esposa trabalhando aqui.”

A mulher era uma contadora sênior. O CEO precisou dizer a ela “vá para casa e tente resolver as coisas com o seu marido”, segundo Razieh. “Caso contrário, a mulher precisaria se demitir, o que ela acabou fazendo.”

Esta legislação também faz com que muitas empresas se recusem a contratar mulheres jovens, segundo a consultora Chamlou. Ela afirma que os empregadores não querem “investir em treinar essas mulheres se, quando elas se casarem, seus maridos podem retirá-las do trabalho”.

E, mesmo se elas forem contratadas, muitas vezes depois de lutar contra suas próprias famílias e cônjuges para conseguir permissão para trabalhar, as mulheres irão enfrentar um mercado de trabalho em que a discriminação, até certo ponto, é legalizada.

As mulheres – aqui, trabalhando em uma fábrica de açafrão – não são consideradas as principais provedoras, de acordo com a lei iraniana

Um desses dispositivos é o artigo 1105 do Código Civil da República Islâmica do Irã, que define o marido como o chefe da família e o “principal provedor”. Em outras palavras, os homens são priorizados para conseguir emprego em detrimento das mulheres — e também se espera que elas trabalhem por uma fração do salário dos seus colegas homens, se conseguirem emprego.

Raz tem quase 30 anos de idade. Ela já teve vários empregos e conta que, em todos eles, os empregos das mulheres eram os primeiros a serem sacrificados.

“No último lugar em que trabalhei, quando havia uma reestruturação, quase todos os funcionários demitidos eram mulheres”, afirma ela.

Outra mulher, que pede para não ser identificada, contou à BBC que decidiu deixar o emprego depois de mais de uma década e ficar em casa “porque eu sabia que nunca conseguiria uma promoção”.

“Enquanto houvesse homens disponíveis, mesmo se fossem menos qualificados, eu nunca seria considerada para um aumento de salário ou promoção”, ela conta. “Era perda de tempo.”

O fato de que as mulheres, legalmente, não são consideradas provedoras do lar também prejudica sua qualificação para bônus e benefícios.

Em muitos casos, se elas tiverem direito, “os benefícios que elas acumulam ao longo dos seus anos de trabalho podem não se aplicar às suas famílias, como a sua pensão”, afirma Chamlou. “Com isso, eles reduzem os ganhos que as mulheres recebem pelo seu trabalho para levar para suas famílias.”

Os empregos no setor público nem sempre estão abertos a mulheres que não usam alguns dos modelos mais rigorosos de hijab

Sepideh tem mestrado em artes pela Universidade de Teerã, a capital iraniana. Ela costumava lecionar ali e realizar projetos de arte independentes, mas não trabalha há alguns anos.

“Depois da formatura, eu pensei que poderia simplesmente ganhar a vida, como muitos dos homens que conheci”, conta ela à BBC, “mas a estrutura social, política e econômica é projetada de tal forma que manter uma carreira adequada, para as mulheres, é um sonho inatingível.”

A lei sobre o uso obrigatório do hijab esteve no centro dos protestos generalizados no Irã dois anos atrás e continua a ser um dos principais temas de discórdia e dissidência política no país. A lei também determina que muitos empregos, particularmente no governo e no setor público, são inacessíveis para as mulheres que não se conformam com algumas das formas mais rigorosas de hijab.

A ‘intermediária faltante’

“No Irã, existe também o que chamo de ‘intermediária faltante'”, conta Nadereh Chamlou. São “mulheres de meia idade, de classe média, com educação intermediária, até o ensino médio, que não estão trabalhando”.

“A permissão legal dos maridos para trabalhar, além da idade de aposentadoria mais baixa para as mulheres no Irã, que é de 55 anos, afasta uma faixa de idade que, em outros países, normalmente está no mercado de trabalho”, explica ela.

Empresas abertas e administradas por mulheres ajudam outras a entrar no mercado de trabalho. Esta confeitaria de luxo em Teerã emprega 70 pessoas, a maioria mulheres

A economia iraniana está paralisada pelas sanções e pela má gestão.

Um relatório do FMI indica que o crescimento econômico está correlacionado à maior participação das mulheres no mercado de trabalho. O organismo estima que, se os índices de emprego feminino no Irã se equiparassem ao nível dos homens, o produto interno bruto (PIB) do país poderia aumentar em cerca de 40%.

Para Nadereh Chamlou, no momento, não existe “vontade política ativa ou consciente” que possibilite mudanças para trazer as mulheres para o mercado de trabalho no Irã. Mas ela acredita que as mulheres iranianas estão assumindo esta questão com as próprias mãos, criando pequenas empresas independentes para abrir o mercado de trabalho para elas.

“Algumas das ideias de negócios mais inovadoras, desde aplicativos de cozinha até plataformas digitais de varejo, foram criadas por mulheres”, explica ela. Chamlou observa que há um “verdadeiro setor privado no Irã”, composto principalmente por empresas de propriedade de mulheres.

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“Passei 30 anos xingando o Delfim Netto”, disse Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a elogiar, nesta quarta-feira (14/8) o ex-ministro Delfim Netto, morto na segunda-feira (12). O petista lembrou que passou “30 anos xingando” o economista, mas que ele o apoiou em seu primeiro mandato como presidente da República. Também voltou a citar que pediu desculpas publicamente ao ex-ministro.

O mandatário disse ainda que, na política, “às vezes a gente pega alguém de bode expiatório e fica xingando”, mesmo sem ter razão. Lula também citou a morte da também economista Maria da Conceição Tavares, e disse que o Brasil perdeu dois dos seus maiores nomes no debate sobre política econômica.

“Eu passei 30 anos da minha vida xingando o Delfim Netto. 30 anos. E quando eu virei presidente da República, em momentos muito difíceis, o principal economista de fora do meu partido que veio a defender o governo foi o Delfim Netto”, declarou Lula durante a abertura do evento Diálogos Capitais, em celebração dos 30 anos da revista Carta Capital, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O chefe do Executivo voltou a lembrar que pediu desculpas publicamente pelas críticas ao ex-ministro durante um comício em 2006, quando se reelegeu como presidente da República para seu segundo mandato. Disse ainda que algumas críticas foram justas e outras, injustas.

“Mas de vez em quando na política a gente pega alguém de bode expiatório e fica xingando, xingando, xingando, às vezes sem ter razão. E eu passei a ser um admirador, se não de tudo que o Delfim fazia na economia, eu passei a ser admirador da sagacidade, da inteligência e da esperteza do Delfim Netto. Da mesma forma que a Maria da Conceição Tavares”, afirmou ainda o presidente.

Delfim Netto foi um economista que ocupou uma série de ministérios em sua carreira política, como as pastas da Fazenda, Agricultura, e do Planejamento, atuando durante governos militares e na redemocratização. Foi um dos signatários do AI-5, ato mais duro de repressão durante a ditadura. Morreu na segunda-feira, aos 96 anos de idade.

Já Maria da Conceição Tavares também foi uma economista e professora, filiada ao Partido dos Trabalhadores, e ocupou o cargo de deputada federal entre 1995 e 1999 pela legenda. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Morreu em 8 de julho deste ano, aos 94 anos.

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Análise: Delfim Netto foi um camaleão na política

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher esteve no Brasil em 1994, no governo Itamar Franco, quando o Plano Real ainda era um “experimento econômico”. Estava em pleno curso a transição à nova moeda, e o xis do problema era o comportamento da inflação. Thatcher fora convidada por Jorge Paulo Lemann, ainda dono do banco Garantia, que viria a ser vendido para o Credit Suisse, em 1998.

A Dama de Ferro lotou o auditório do Maksoud Plaza, um edifício de 23 andares na região central de São Paulo, que ainda era uma referência de tradição e glamour para artistas, celebridades e autoridades, cenário de novelas e palco de shows históricos. Thatcher tinha deixado de ser ministra havia quatro anos, mas era a principal referência para os que desejavam fazer a reforma do Estado brasileiro, com a privatização das empresas estatais, como ocorreria nos anos seguintes. O Brasil era a 10ª economia do mundo.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva era o favorito nas eleições para presidente da República, mas começara a perder a eleição, por se recusar a apoiar o governo Itamar e apostar no fracasso do Plano Real, induzido pela economista Maria da Conceição Tavares. O ex-governador Orestes Quércia (PMDB), que havia deixado o Palácio dos Bandeirantes com um acervo de obras de infraestrutura, prometia um plano de metas inspirado em Juscelino Kubitschek. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-ministro da Fazenda, ungido candidato por Itamar, já tinha o apoio do antigo PFL e tentava esvaziar ou remover candidatos concorrentes. Um deles era Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo da antiga Arena, o então PDS (hoje PP), o candidato derrotado por Tancredo Neves, em 1985, no colégio eleitoral.

Abordei o ex-ministro Delfim Netto na saída da palestra de Thatcher: “Novidades?”. Um dos caciques do PDS, já deputado, Delfim me pegou pelo braço e sussurrou: “Na terça-feira, haverá uma reunião na casa do Maluf para retirar a candidatura dele e apoiar Fernando Henrique. Apareça por lá por volta das 11”. Os políticos da antiga Arena começavam a se mover em direção a Fernando Henrique, com medo de Lula e por adesão ao Plano Real.

Cheguei à redação crente que estava com a manchete do jornal. No aquário, o chefe de redação e o editor de política sorriram. “Daqui a pouco vamos entrevistar o Maluf”, disseram. Não deu outra, o ex-prefeito disse que a candidatura dele era irremovível. Mesmo assim, fui conferir: houve a reunião na terça-feira. Na saída, quando perguntei a Maluf se retiraria a candidatura, ele negou. Esperidião Amin (PP-SC), então presidente do PDS, também. Mas Delfim piscou o olho e sorriu. Liguei para ele. “Maluf vai desistir, pediu apenas para ter uma conversa com Fernando Henrique antes de anunciar”, confidenciou-me. Não deu outra.

Como “animal político”, Delfim Netto era um camaleão, capaz de transitar de uma posição para outra e se adaptar às circunstâncias, como artífice das conexões do grande empresariado paulista com o poder. Graças a isso, se manteve influente por tanto tempo, mesmo sendo um dos signatários do Ato Institucional nº 5, que institucionalizou o fascismo durante o regime militar.

“Eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente”, o mesmo ministro que fez essa afirmação na reunião (gravada) de assinatura do decreto que lançou o país na sua maior escuridão política, mais tarde, seria aliado de Fernando Henrique Cardoso, fora afastado da Universidade de São Paulo, e conselheiro dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos perseguidos pelo regime militar.

Delfim Netto foi o mais jovem ministro da Fazenda a ocupar o cargo, aos 38 anos, quando assumiu a pasta, em 1967, e comandou a economia nos governos militares de Costa e Silva e Médici. Foi o pai do chamado “milagre econômico”, cuja estratégia teve como pilares a ampliação da presença do Estado na economia, o aumento das exportações e a captação de investimentos estrangeiros. Para justificar a concentração de renda, cunhou a frase famosa: “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”.

Após deixar o cargo na Fazenda, ocupou o posto de embaixador do Brasil na França, em 1975, durante o governo de Ernesto Geisel. No governo de João Figueiredo, assumiu o Ministério da Agricultura e, em seguida, o do Planejamento. Depois da redemocratização, foi eleito deputado federal por cinco mandatos consecutivos e permaneceu como figura de destaque nos meios econômico e político. O simples oportunismo não explica essa transversalidade política. Delfim foi um protagonista da “revolução passiva” da modernização brasileira, na qual o positivismo foi o caldo de cultura da direita e, depois, da esquerda. Delfim acreditava no Estado como principal indutor do progresso. Isso explica o seu camaleônico transformismo político.

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O impacto do Estatuto da Segurança Privada para a população

CHICO VIGILANTE — Deputado distrital

Estamos prestes a testemunhar uma votação histórica no Congresso Nacional: a revisão do Estatuto da Segurança Privada. Essa atualização tão aguardada não apenas moderniza a legislação em vigor desde a década de 1980, mas também aborda questões cruciais que afetam diretamente a qualidade de vida dos cidadãos, a economia de um setor que movimenta cerca de R$ 30 bilhões anualmente e os direitos de mais de 3,5 milhões de vigilantes em todo o país.

Na prática, a aprovação do estatuto implicará regulamentação do setor e efetivo aumento da segurança para a população. Afinal, nos dias de hoje, infelizmente, muitas vezes, prevalece a prestação de serviços de segurança por empresas irregulares, a chamada “segurança clandestina”, colocando em risco diversas vidas.

Todos se lembram dos casos de abusos e violência cometidos por falsos vigilantes, oriundos da segurança clandestina, em supermercados e festas noturnas. Casos emblemáticos que, além de tudo, mancharam a imagem dos vigilantes legalizados. Com o estatuto, isso vai acabar e o trabalho será mais facilmente regulado pela Polícia Federal, que terá condições de coibir e penalizar quem está atuando de forma irregular.

Afinal, atualmente, o setor da segurança privada é regido pela Lei nº 7.102/1983, criada apenas para cuidar dos ambientes bancários. Sob esse arcabouço, a Polícia Federal tem sido obrigada a agir por meio de portarias, o que é insuficiente, uma vez que os donos de empresas clandestinas conseguem facilmente liminares para continuar funcionando e barbarizando o setor.

Com o novo estatuto, legaliza-se o funcionamento da vigilância em grandes eventos, estádios e presídios, além de outras atividades inerentes à proteção privada, com maior eficiência quanto ao trabalho de fiscalização da PF.

Outro ponto positivo diz respeito à ampliação do hall de atuação na segurança privada, criando novas oportunidades e novos espaços para a categoria dos vigilantes. Entre as novidades, estão previstas na lei atuações dos vigilantes, com armas de menor potencial ofensivo, em condomínios, em unidades de conservação, em acessos a aeroportos e portos, em muralhas de presídios, entre outros.

A questão da vigilância em agências bancárias e transporte de valores terá uma evolução considerável com a inclusão do monitoramento eletrônico pelos vigilantes. Tal situação implicará atualização e qualificação da classe trabalhadora para operar e se integrar à tecnologia utilizada.

Outro ponto relevante é a previsão de normas mais rigorosas para o treinamento e capacitação de vigilantes, visando não apenas aumentar a eficiência de suas atuações, mas também garantir que estejam aptos a lidar com as mais diversas situações de risco. A formação contínua será uma exigência, promovendo, assim, uma cultura de atualização e aprimoramento constante.

Além disso, o novo estatuto visa aumentar a transparência no setor, com a obrigatoriedade de certificações e auditorias regulares para as empresas de segurança. Isso não apenas protegerá os consumidores, mas também ajudará a manter um mercado competitivo e ético, eliminando práticas predatórias e garantindo que as melhores práticas sejam seguidas por todos.

Outro aspecto importante é a proteção dos direitos trabalhistas dos vigilantes. A nova legislação busca assegurar condições de trabalho justas e dignas, incluindo a regulamentação de jornadas de trabalho e o estabelecimento de normas claras para a remuneração e benefícios, garantindo, assim, o respeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores do setor.

Importante salientar que o estatuto propõe a criação de um conselho nacional de segurança privada, composto por representantes do governo, do setor privado e dos próprios vigilantes, para monitorar a implementação das novas regras e garantir que todos os interessados tenham voz no processo de regulamentação contínua.

Assim, ao modernizar e expandir a regulamentação do setor de segurança privada, o novo estatuto promete não apenas aumentar a segurança da população, mas também promover um ambiente mais justo e eficiente para todos os envolvidos. Com sua aprovação, o Brasil dará um passo significativo em direção a um futuro mais seguro e regulado, beneficiando tanto os cidadãos quanto os profissionais de segurança.

Sendo assim, diante do exposto, é imprescindível a aprovação célere do estatuto pelo Congresso Nacional, amanhã (13/8), assim como uma rápida sanção pelo presidente da República, uma vez que estão em jogo a segurança e o bem-estar da sociedade brasileira. Por outro lado, a modernização da legislação é um passo crucial para proteger os direitos dos vigilantes e estimular o crescimento econômico de um setor vital para o país. Tudo por um ambiente mais seguro e justo para todos. Vale a pena acompanhar de perto a repercussão dessa votação histórica.

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Inflação de 12 meses chega a 4,5% e alcança o teto da meta para este ano

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador da inflação oficial, acelerou de 0,21% para 0,38%, entre junho e julho, e alcançou o teto da meta, de 4,50%, no acumulado em 12 meses.

Conforme os dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação do indicador em julho foi puxada pelo grupo de “transportes”, que registrou aumento de 1,82%, devido aos reajustes nos combustíveis e nas passagens aéreas. Com isso, o impacto desse grupo no IPCA foi de 0,37 ponto percentual. Dos nove grupos de produtos pesquisados, sete registraram alta de preços. Os itens “alimentos e bebidas” e “vestuário” registraram deflação, de 1% e 0,02%, respectivamente.

O IPCA de julho ficou acima da mediana das estimativas do mercado coletadas no boletim Focus, do Banco Central, de 0,33%. De acordo com especialistas, aumentaram as chances de o IPCA estourar o teto da meta. Nesta semana, ao divulgar a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC já havia deixado a porta aberta para aumento da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 10,50%.

“A inflação no teto da meta preocupa no que pode acontecer com os juros. Por enquanto, estamos prevendo a manutenção da Selic”, disse Fábio Romão, economista sênior da LCA Consultores. A projeção da consultoria para o IPCA de 2024, de 4,4%, está com viés de alta após o resultado de julho.

Romão lembrou que, na semana passada, a LCA elevou de 4,2% para 4,4% a previsão de alta do IPCA deste ano, após o governo aumentar a taxação de impostos sobre os cigarros. “Esse número mais forte do IPCA de julho somente veio a reforçar essa mudança”, afirmou.

Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, revisou de 4,47% para 4,74% a previsão para o IPCA deste ano, ou seja, acima do teto da meta. Contudo, ele acha que o Banco Central vai evitar elevar a Selic neste ano, pois o dólar deu uma arrefecida frente ao real e voltou para o patamar de R$ 5,60. “O resultado do IPCA de julho acima do esperado apenas precifica uma inflação mais alta para o mercado, mas, como o dólar baixou para R$ 5,60, a pressão sobre preços deu uma amenizada”, destacou.

Velho reconheceu que o BC deixou a porta aberta para aumento de juros na ata do Copom, mas a probabilidade não é majoritária. “O BC deve preferir prolongar a Selic no atual patamar, mas não deve aumentar os juros”, apostou.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, ressaltou que o IPCA de julho no teto da meta só não foi maior por conta da deflação do grupo de alimentos, que tirou 0,22 ponto percentual da alta geral do indicador. “Sem a queda em alimentos o IPCA seria bem mais alto. Enfim, a leve piora nos preços dos serviços subjacentes (com alta de 4,97%) e nos intensivos em trabalho (de 5,62%) reforça a cautela do Copom reiterada na ata desta semana”, destacou.

De acordo com o Luis Otavio Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, o dado do IPCA de julho foi muito influenciado por questões pontuais. “Noventa por cento da alta do índice foi por conta das altas nos preços das passagens aéreas, da energia elétrica e da gasolina”, explicou ele, que prevê taxa negativa do indicador de carestia em agosto.

A economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco, alertou que o dado do IPCA de julho mostrou que “o melhor momento qualitativo da inflação parece ter ficado para trás”. “Esperamos que o componente de serviços siga pressionado, refletindo o mercado de trabalho apertado, assim como os preços industriais, refletindo o câmbio mais depreciado”, acrescentou. Pelas projeções do Itaú, a taxa Selic seguirá em 10,50% até o fim de 2025, passando para 9,5%, no fim de 2026.

Cautela

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou os dados da inflação oficial no teto da meta e admitiu que o governo esperava essa aceleração do IPCA e acrescentou que será preciso “analisar com calma” os próximos dados. “Tem muita coisa para acontecer este ano ainda, sobretudo no cenário internacional. Temos que ter cautela agora”, disse. Ele ainda destacou que o Banco Central, agora, está mirando a inflação de 2026 e não há como corrigir a deste ano aumentando juros. “É preciso ver a trajetória da inflação ao longo dos meses para saber qual é o remédio adequado para conter um eventual aumento de preços”, declarou.

Para o ministro, a boa notícia do IPCA foi em relação à queda nos preços dos alimentos. “Nós temos que acompanhar sem ansiedade e tomar as medidas necessárias para o Brasil continuar crescendo e a renda do trabalhador continuar subindo”, disse ele, garantindo que o governo tomará as medidas necessárias para garantir o crescimento do país.

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Prejuízo, investimento menor e dividendos: veja os principais destaques do 1º balanço da Petrobras sob direção de Magda

A Petrobras divulgou na noite de ontem o seu balanço financeiro do segundo trimestre deste ano, o primeiro da gestão de Magda Chambriard, com algumas surpresas. Diferentemente das projeções de analistas de mercado, a petrolífera registrou um prejuízo de R$ 2,605 bilhões no período, a primeira perda trimestral desde 2020.

Além disso, dois meses após o presidente Lula ter trocado Jean Paul Prates por Magda no comando da Petrobras para, entre outras missões, acelerar os projetos da estatal, a companhia informou que reduziu sua previsão de investimentos para 2024. E manteve o patamar de distribuição de lucros aos acionistas, um tema que divide o governo e foi apontado como uma das razões para a queda de Prates.

Veja a seguir os principais destaques do balanço da Petrobras

Primeiro prejuízo desde a pandemia

A Petrobras teve um prejuízo de R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre deste ano. No mesmo período do ano passado, a empresa teve lucro líquido de R$ 28,7 bilhões. O resultado ficou distante das projeções dos analistas de mercado. A maioria das previsões indicava um ganho entre R$ 11 bilhões e R$ 14 bilhões no segundo trimestre.

O balanço da estatal foi impactado por um acordo bilionário firmado entre a estatal e o governo, destinado a encerrar litígios tributários relacionados ao pagamento de afretamento de embarcações e por despesas trabalhistas. Juntos, os dois itens levaram a perdas de R$ 2,6 bilhões.

Também influenciou a variação cambial marcada pela desvalorização do real na segunda metade do primeiro semestre, potencializada, entre outros motivos, por declarações do presidente Lula que levantaram dúvidas sobre a política fiscal do governo e sua futura indicação para o comando do Banco Central. Segundo a Petrobras, excluindo estes três fatores, o lucro líquido teria sido de R$ 28 bilhões no segundo trimestre.

Fernando Melgarejo, diretor financeiro e de Relacionamento com Investidores, declarou em comunicado que o “resultado líquido do trimestre deve ser analisado à luz de eventos que impactaram o resultado contábil, mas sem impacto relevante no caixa da empresa”.

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Petrobras registra prejuízo de R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre, no primeiro balanço da gestão de Magda

Petrobras vai pagar aos acionistas R$ 13,5 bilhões em dividendos referentes ao segundo trimestre

Este é o primeiro prejuízo da Petrobras em quase quatro anos. O último foi no terceiro trimestre de 2020, quando as contas da empresa sofreram forte impacto da pandemia. A estatal teve um prejuízo de R$ 1,5 bilhão entre julho e setembro daquele ano por causa do impacto das medidas de isolamento na cotação internacional do petróleo e nas vendas de combustíveis.

Dividendos de R$ 13,5 bi

Mesmo com o resultado no vermelho, a Petrobras liderada por Magda anunciou a distribuição de R$ 13,57 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio referentes ao segundo trimestre, praticamente o mesmo patamar anunciado pela empresa em maio, ainda sob a direção de Prates, em relação ao primeiro trimestre.

Maior acionista da Petrobras, o governo federal ficará com 28,67% destes dividendos, algo bem-vindo no momento em que a equipe econômica tem dificuldades para cortar gastos públicos e cumprir a meta de déficit zero estabelecia para este ano pelo novo arcabouço fiscal.

A maioria dos bancos estimava uma distribuição de cerca de US$ 2,8 bilhões (cerca de R$ 15,7 bilhões) de acordo com o resultado de abril a junho deste ano.

Corte na previsão de investimento

A Petrobras reduziu sua projeção de investimento para esse ano. O valor passou de US$ 18,5 bilhões para um patamar entre US$ 13,5 bilhões e US$ 14,5 bilhões.

Segundo a estatal, a redução ocorre por conta do segmento de exploração e produção para US$ 11,1 a US$ 12,1 bilhões para este ano. A previsão anterior do plano era de US$ 15,5 bilhões.

“Este patamar de investimentos não impacta a curva de produção de petróleo e gás e representa um aumento de 7% a 15% em comparação ao investimento realizado em 2023”, informou o comunicado da Petrobras. Segundo a estatal, a nova projeção tem como base informações a que a companhia tem acesso no momento.

Alta nas vendas

Apesar do prejuízo, a receita de vendas da empresa chegou a R$ 122,2 bilhões no segundo trimestre, uma alta de 7,4%. No semestre, o valor chegou a R$ 239,9 bilhões, alta de 3,9%. Segundo a estatal, o resultado reflete a valorização do preço do barril do petróleo e alta das exportações.

Na semana passada, a companhia informou que o volume de vendas de combustíveis, no segundo trimestre deste ano teve um recuo de 1,3% em relação ao mesmo período de 2023. A retração foi puxada pela gasolina, com queda de 8,3%, e pelo diesel, com retração de 0,6%.

Entre abril e junho, a média de produção de petróleo e gás ficou em 2,699 milhões de barris diários, uma queda de 2,8% em relação ao primeiro trimestre deste ano. O recuo trimestral foi causado pela redução no pré-sal, devido ao volume de paradas programadas.

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Colaborou Alexandre Rodrigues

Análise: o imponderável da política externa para Lula

Tudo indica que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai empurrar com a barriga uma definição sobre reconhecer ou não a vitória da oposição ao governo de Nicolás Maduro. No limite, tem até o fim do atual mandato do ditador venezuelano, que vai até março de 2025, para tomar uma decisão. É uma eternidade para a oposição, liderada por María Corina e Edmundo González, que sofrem forte perseguição policial e jurídica. Ambos estão na clandestinidade.

Tarek William Saab, procurador-geral da Venezuela, abriu investigação criminal contra os dois opositores por seis delitos, incluindo instigação à insurreição. O Tribunal Supremo de Justiça intimou Edmundo a comparecer, nesta quarta-feira, de não reconhecer ninguém enquanto as atas das mesas de votação não forem divulgadas.

Lula se meteu numa enrascada política ao se posicionar de forma “neutra” em relação à eleição fraudulenta de Maduro. O distanciamento diplomático em relação ao aliado chavista não basta aos olhos da opinião pública brasileira, que exige um posicionamento mais afirmativo de Lula, tendo a democracia como divisor de águas na relação com a Venezuela.

A aproximação ideológica com Maduro também complica a vida dos candidatos do PT nas eleições municipais. São questionados pelos adversários, porque a legenda reconheceu oficialmente a reeleição do presidente venezuelano, tão logo se autoproclamou vitorioso. Nos debates, os petistas estão se enrolando para responder se apoiam ou não a ditadura de Maduro, como aconteceu com Maria do Rosário, que concorre à Prefeitura de Porto Alegre.

A questão da Venezuela também é um complicador para Lula na relação do Brasil com os Estados Unidos, porque a posição do presidente Joe Biden, com quem o chefe de Estado brasileiro tem conversado, foi reconhecer a eleição de Edmundo González. Biden desistiu da reeleição e passou a tarefa de enfrentar o ex-presidente Donald Trump para a vice Kamala Harris, cuja posição em relação à situação venezuelana é ainda mais dura.

Mais dura ainda é a posição de Donald Trump, que durante seu governo chegou a propor uma intervenção militar na Venezuela, ao presidente Jair Bolsonaro, mas os militares brasileiros não entraram nessa fria. Num contexto eleitoral como o norte-americano, a tendência é Joe Biden aumentar as sanções contra Venezuela e pressionar todos os aliados a fazerem o mesmo. A política externa sempre é uma agenda prioritária nas campanhas presidenciais dos EUA.

Esse fator político não é a única variável imponderável para Lula em relação aos Estados Unidos. Existe também a questão econômica. Na segunda-feira, um relatório sobre a queda do nível de emprego em julho gerou um sentimento de risco generalizado nos mercados, porque os números sinalizam a possibilidades de recessão na economia norte-americana.

Foi o bastante para o Banco Central (BC) brasileiro sinalizar que pode aumentar a taxa de juros, se for preciso. “Concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária ainda mais cautelosa e de acompanhamento diligente do desenrolar do cenário”, destacou a ata do Copom.

O BC avalia que é provável uma alta da inflação, porque os preços estão sendo pressionados. O nível de emprego e a produção industrial mostram uma economia aquecida, mas o problema fiscal continua na ordem do dia. O aumento dos gastos públicos e a ameaça de ultrapassagem do arcabouço fiscal geram incertezas sobre o futuro da economia, ainda mais diante da situação dos Estados Unidos. E o governo não consegue cortar os gastos na escala necessária.

Juntando os dois aspectos, a questão eleitoral e o problema da economia nos Estados Unidos, pode ser que o campo de manobra de Lula fique muito mais complexo. O que antes poderia ser uma estratégia para reconhecer a reeleição de Maduro, a divulgação das atas e a posição da Justiça venezuelana, virou uma armadilha da qual Lula não tem como sair, a não ser não reconhecendo a reeleição.

A manobra para ganhar tempo, esperando o fim do mandato de Maduro, pode apenas servir para aumentar o desgaste, porque os fatos na Venezuela e o embate eleitoral nos Estados Unidos são variáveis não controladas por Lula. Tudo isso ocorre num cenário interno de eleições municipais, nas quais os candidatos do presidente Lula não estão tendo vida fácil. Uma derrota eleitoral do PT no plano local tende a complicar a situação no Congresso, em razão das insatisfações de candidatos derrotados.

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Comissão do Senado aprova PL que estimula emprego para aposentados

Com o propósito de gerar emprego para os aposentados, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou, ontem, proposta isentando o pagamento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da contribuição previdenciária para esse segmento da população, em caso de contratação com carteira assinada. O governo orientou e votou contra por entender que a prioridade é geração de vagas para jovens até 24 anos, onde a taxa de desemprego é maior. O texto agora segue para o plenário da Casa.

Na matéria, foi incluída a obrigação do Sistema Nacional de Emprego (Sine) manter e divulgar a relação dos nomes de aposentados capacitados a retornar ao mercado. O projeto prevê que empresas com até 10 empregados podem contratar um aposentado e obter a isenção do FGTS e da contribuição do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Se a firma tiver entre 11 a 20 empregados, está autorizada a contratar dois desses trabalhadores. No caso de empresas maiores, a isenção é limitada a 5% do total de funcionários. A relatora na comissão, senadora Margareth Buzetti (PSD-MT), incluiu a emenda para limitar a contratação de aposentados pelas grandes empresas para não prejudicar geração de emprego para os jovens.

Pelo texto, no momento da demissão do aposentado, a empresa não terá de pagar o FGTS, como será dispensada da indenização de 40% sobre todos os depósitos realizados durante a vigência do contrato. O projeto é de autoria do ex-senador Mauro Carvalho Júnior.

O governo se posicionou contrariamente por entender que a prioridade é a contratação de jovens, cujo índice de desemprego é considerado alto. “Hoje, a taxa de desemprego na faixa acima de 60 anos é de 3%. Para jovens até 17 anos, é de 30%. Entendo o espírito da origem do projeto, mas chamo a atenção de que, na verdade, nosso problema maior é, exatamente, a garotada até 24 anos, que tem uma taxa de desemprego que vai de 17% a 30%”, explicou o senador Jaques Wagner (BA), líder do PT no Senado.

Porém, para o senador Flávio Azevedo (PL-RN), jovens e aposentados não concorrem para as mesmas vagas no mercado de trabalho. “A faixa de menos idade possui habilidades diferentes da faixa etária a partir dos 60 anos. Elas não competem. Hoje, a maioria dos funcionários de empresas privadas com 60 anos estão aposentados, mas no auge da capacidade produtiva. O trabalhador com 60 anos está apto, mais do que todos, a exercer funções dentro da empresa privada”, afirmou Azevedo.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, do final de 2022, no último levantamento do Código Brasileiro de Ocupação (CBO), apontavam que o país encerrou aquele ano com cerca de três milhões de empregados com idades entre 60 a 90 anos. A grande maioria, 2,7 milhões, se encontrava na faixa etária entre 60 a 70 anos.

Por profissão, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) lista que, desse total, 155 mil são faxineiros; 136 mil são assistentes administrativos; 91 mil são motoristas de caminhão; 79 mil são auxiliares de escritório e trabalhadores de serviços de limpeza e conservação. Estão nessa relação milhares de porteiros de edifícios, cozinheiros, vigias e pedreiros. Por esses dados oficiais, o país registra 314 mil trabalhadores entre 70 a 80 anos e outros 22 mil acima dos 80 anos.

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