Saiba como problemas socioeconômicos podem impactar a saúde mental

O debate “Saúde Mental: uma conversa sobre qualidade de vida e bem-estar”, promovido nesta terça-feira (24/9) pelo Correio Braziliense, trouxe discussões sobre o tema no Brasil e os impactos de problemas da atualidade. Do terceiro painel, participaram Helena Moura, médica psiquiatra e professora de medicina da Universidade de Brasília (UnB); Adriana Rodrigues, psicóloga e idealizadora do Instituto Psicologia e Dinheiro; e Alessandra Almeida, vice-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP)

As especialistas trataram de pontos importantes, incluindo a saúde mental da população negra e de pessoas de baixa renda. Também elencaram os sinais prévios a serem notados e a relação das condições climáticas com a saúde psíquica da população.

Helena Moura explicou que quem tem demência, esquizofrenia e depressão é mais suscetível a sofrer quando ocorrem ondas de calor, enquanto eventos graves, como a enchente que houve no Rio Grande do Sul, podem desencadear distúrbios mentais. Problemas de saúde mental decorrentes de dificuldades com dinheiro, como o endividamento, foram o foco de Adriana Rodrigues. Ela também observou que, de outro lado, estresse, ansiedade e depressão podem levar o indivíduo a desenvolver problemas financeiros. Alessandra Almeida abordou o racismo estrutural e chamou a atenção para uma pesquisa do Ministério da Saúde apontando que jovens negras enfrentam maior risco de suicídio.

Helena Moura

Na teoria, ter algum tipo de conforto, estar bem consigo mesmo e ter qualidade de vida pode parecer fácil, mas é um tamanho desafio. Helena Moura, médica psiquiatra e professora da UnB, abordou a questão. “Um dos principais desafios dos profissionais de saúde mental é manter as pessoas bem. Atualmente, existe muita pressão das mídias sociais, tempo excessivo de telas e as mudanças climáticas. Os indivíduos estão sentindo esses efeitos literalmente na pele. Isso acaba afetando a qualidade de vida, podendo causar algum tipo de sofrimento psíquico”, pontuou.

Eventos climáticos mais graves, como tsunamis e as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul, podem agravar ainda mais esses sintomas, segundo a especialista. O DF, por exemplo, enfrenta 154 dias sem chuvas, a segunda maior seca da história. A primeira foi em 1963, quando Brasília enfrentou 163 dias de estiagem. “Chamamos de onda invisível por trás da mudança climática. Além de perder as casas e alguns familiares, as pessoas ainda encontram dificuldade para receber atendimento médico, pois os serviços hospitalares também são atingidos”, relatou.

“Tem se falado muito pouco sobre esse assunto. Em novembro do ano passado, tive a oportunidade de fazer um artigo sobre esse tema e muitas pessoas relataram que nunca haviam pensado e nem sabiam sobre o que a temática tratava”, comentou Helena. A médica falou ainda que as pessoas que têm depressão, esquizofrenia e demência são as mais vulneráveis a sofrer em momentos de ondas de calor. “Isso se reflete, por exemplo, no aumento de demanda nas emergências psiquiátricas por surtos e tentativas de suicídio”, alertou.

Helena citou que isso se agrava ainda mais quando se trata de povos indígenas, pois alguns perdem as terras e precisam se deslocar para outros locais. “Isso está muito ligado ao sofrimento que determinadas populações têm ao ver o ambiente sendo degradado”, afirmou.

A médica psiquiatra fez uma comparação do Brasil com a Austrália e citou que lá esses problemas não são tão recorrentes. “Isso é muito alarmante. Para as pessoas terem ideia, na Austrália, onde também existem povos originários, isso não ocorre”, observou.

Alguns comportamentos podem ser adotados pelos indivíduos e ajudá-los a manter o bem-estar e preveni-los contra sintomas de ansiedade e depressão, segundo Helena Moura. “Um sono adequado, a prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação saudável contribuem para as pessoas se sentirem bem e, consequentemente, para uma boa saúde mental”, finalizou.

Na avaliação de Adriana Rodrigues, psicóloga e idealizadora do Instituto Psicologia e Dinheiro, ainda há um certo descaso em relação à questão da saúde mental e dinheiro. Ela alertou para o número elevado de pessoas que passam por dificuldades financeiras e os empecilhos que isso causa, podendo gerar problemas sérios à saúde mental.

Temos 82% da nossa população, segundo pesquisa, que por três ou mais vezes na semana se preocupam com o dinheiro, principalmente com as questões ligadas às dificuldades financeiras. Setenta e oito por cento das famílias brasileiras estão endividadas, é um número altíssimo. Vinte e oito por cento, quase 29% das famílias não têm como pagar as suas dívidas, estão em situação de inadimplência, isso gera um estresse gigante”, opinou.

Adriana sugeriu que muitos que têm quadros de saúde mental como estresse constante, ansiedade e depressão também podem fazer o caminho inverso e desenvolver problemas financeiros. Isso porque, segundo a especialista, essas pessoas não têm condição de lidar com suas finanças, porque estão sobrecarregadas e estão com outros focos. O resultado disso é um ciclo vicioso, no qual a pessoa cuida mal do dinheiro enquanto vê a saúde mental se deteriorar.

Outro ponto levantado pela especialista foi o da importância da educação financeira, algo que, para ela, não deve ser tratado individualmente. Ela afirmou que esses conhecimentos são importantes para que as pessoas saibam como cuidar do próprio dinheiro, mas alertou sobre a falta de acesso para que todos consigam aprender essas lições.

“Atendo muitas pessoas que têm demandas ligadas a dinheiro. Essas pessoas sofrem com grande ansiedade, porque acreditam que fizeram uma péssima gestão do dinheiro delas, quando, na verdade, estão também dentro dessa cultura de consumo”, analisou. Adriana disse considerar como grandes “vilões” para esses transtornos o consumismo exagerado e o desemprego, obstáculos que afetam principalmente mulheres e jovens.

Além disso, ela explicou que pessoas que não passam por dificuldades financeiras também podem ser afetados por isso. A psicóloga contou que alguns indivíduos podem passar por dissonâncias cognitivas e enfrentar transtornos pensando na desigualdade social que os separa de outras pessoas.

Alessandra Almeida

O Conselho Federal de Psicologia tem a responsabilidade de orientar e normatizar a categoria, além de estabelecer diálogos constantes com a sociedade, explicou Alessandra Almeida, vice-presidente do CFP. “É preciso implementar políticas efetivas para a proteção e cuidado da saúde mental dos indivíduos, especialmente em um país tão complexo como o nosso, e neste momento pós-pandemia, a prevenção ao suicídio deve ser evidenciada”, ressaltou.

A psicóloga destacou a importância de se atentar à saúde mental da população negra. “O suicídio é a terceira principal causa externa de mortes. Uma pesquisa do Ministério da Saúde, de 2018, revelou que jovens negras entre 10 e 29 anos enfrentam o maior risco de morte por suicídio”, detalhou.

“Esse risco elevado está relacionado ao sofrimento psíquico causado pelo racismo estrutural”, afirmou, enfatizando a necessidade de discutir os efeitos do racismo na saúde mental da população negra e indígena, além do racismo ambiental. “Discutir o papel dos saberes psicológicos na saúde mental em relação à questão racial é essencial para questionar as estruturas sociais que reproduzem desigualdades”, observou.

Para Alessandra, é urgente vincular a promoção da qualidade de vida ao desenvolvimento humano sustentável. “Estamos construindo uma gestão no CFP comprometida em abordar o racismo ambiental, a sanatividade racial e a injustiça social, além de defender a justiça ambiental e climática e os direitos humanos”, explicou.

A especialista também mencionou que o racismo ambiental afeta comunidades vulneráveis, como ribeirinhas e quilombolas. “Ao pensar em ações de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, precisamos considerar as relações de saúde mental dessas comunidades, que vivenciam desastres ambientais de maneira distinta”, ressaltou.

*Estagiários sob a supervisão de Malcia Afonso

Discutir o papel dos saberes psicológicos na saúde mental em relação à questão racial é essencial para questionar as estruturas sociais que reproduzem desigualdades”

Alessandra Almeida, vice-presidente do CFP

//////////////////

Atendo muitas pessoas que têm demandas ligadas a dinheiro. Essas pessoas sofrem com grande ansiedade, porque acreditam que fizeram uma péssima gestão do dinheiro”

Adriana Rodrigues, psicóloga e idealizadora do Instituto Psicologia e Dinheiro

////////////////////

Atualmente, existe muita pressão das mídias sociais, tempo excessivo de telas e as mudanças climáticas. Os indivíduos estão sentindo esses efeitos literalmente na pele”

Helena Moura, psiquiatra e professora da UnB

” name=”Botão para direita” aria-label=”Botão para direita”>

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

PT terá série com evangélicos que conecta ensinamentos bíblicos a bandeiras do partido

O PT preparou uma série de vídeos em que integrantes da comunidade evangélica relatam como o exercício de sua fé se relaciona com as bandeiras sociais e políticas do partido. A ideia é que o material sirva de apoio para as 32 mil candidaturas petistas que disputam as eleições municipais deste ano.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e o pastor Oliver Goiano, da Igreja Batista da Lagoa, estão entre os entrevistados.

Intitulado “Testemunhos de Fé e Luta”, o projeto é encabeçado pela Fundação Perseu Abramo, braço do PT que se dedica à pesquisa e à educação política do partido e que foi responsável pelo desenvolvimento da “Cartilha Evangélica – Diálogo nas Eleições”, antecipada pela coluna.

Uma leva de oito vídeos com cerca de cinco minutos de duração foi preparada para divulgação. Ao gravar seu depoimento, o ministro Jorge Messias, que frequenta a Igreja Batista Cristã e diz professar sua fé há 40 anos, dedicou parte de sua exposição a desmentir o boato de que Lula (PT) pretende fechar igrejas.

“Tentaram usar isso na campanha de 1989, tentaram usar isso na campanha de 2002, 2006 e por aí vai. Fizeram isso também contra a presidenta Dilma. E a verdade é que desde que o presidente Lula foi eleito, no primeiro mandato em 2002, nunca houve na história desse país um aumento tão significativo de igrejas como nós temos presenciado nos últimos 20 anos”, diz o chefe da AGU (Advocacia-Geral da União).

Messias ainda afirma que, graças à Lei de Liberdade Religiosa sancionada por Lula, igrejas protestantes criadas nos últimos anos tiveram mais facilidade para regularizar sua situação jurídica e financeira.

“Eu, como caminho com Deus há 40 anos, posso ver e pude testemunhar o avanço de novas denominações. Isso é resultado de uma lei aprovada pelo presidente Lula”, diz o ministro, que também atribui a governos petistas a expansão internacional de igrejas evangélicas brasileiras.

O chefe da AGU também compara a existência de fake news à passagem bíblica que versa sobre a presença da serpente no Jardim do Éden.

“Muitas mentiras são produzidas para serem penetradas nos meios evangélicos como o único propósito de causar temor e intranquilidade nos nossos irmãos. E isso tem, infelizmente, fins eleitorais”, diz.

A deputada Benedita da Silva, por sua vez, brinca que é chamada de “PTcostal”. Adepta da Igreja Presbiteriana Betânia de Niterói, a parlamentar diz não ser verdade a afirmação de que evangélicos não votam PT e compara pautas defendidas pelo partido a ensinamento cristãos.

“Meus irmãos e minhas irmãs, o PT cuida das pessoas, e elas podem estar em qualquer condição. Ela pode ser, no sentido bíblico, a prostituta que está conversando com Jesus, ela pode ser aquele que está na cadeia, ela pode ser aquele que está sem casa, no meio da rua. Podem ser aquelas criancinhas abandonadas, pode ser o trabalhador desemprego”, afirma Bené, como é conhecida.

“Nós [evangélicos] temos muito mais em comum com o PT do que nós possamos imaginar”, segue a deputada, que em determinado momento da gravação se dirige especificamente às mulheres evangélicas.

“Queria chamar a atenção dessas mulheres [para falar] que esse governo tem muito a ver com a nossa prática cotidiana. A gente que limpa igreja, a gente que faz quentinha para doar. O governo tem cozinha solidária”, afirma Benedita.

Também foram entrevistados para a série o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação, Alexandre Brasil, o sociólogo e ex-prefeito de Carapicuíba (SP) Sergio Ribeiro, a jornalista Nilza Valeria, a assessora parlamentar Bernadete Adriana Alves de Lima e o pastor batista Sergio Dusilek.

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

Bolsa e dólar caem após aumento dos juros para 10,75% ao ano

Um dia após o Banco Central voltar a subir a taxa básica da economia (Selic) pela primeira vez desde 2022, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) e o dólar recuaram com a expectativa de maiores ganhos na renda fixa.

Depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevar a Selic de 10,50% para 10,75% ao ano, o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, encerrou o pregão de ontem com queda de 0,47%, a 133.122 pontos, na contramão da Bolsa de Nova York, onde o Índice Dow Jones subiu 1,26% depois de o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) cortar os juros básicos em 0,50 ponto, para o patamar de 4,75% a 5% ao ano, refletindo uma política monetária mais branda diante dos sinais de desaquecimento econômico na maior potência do planeta.

Já o dólar voltou a cair e fechou o dia cotado a R$ 5,42 para a venda, o menor patamar do mês e, com isso, o real teve a segunda melhor performance entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities ontem, ficando atrás apenas da moeda australiana. “O câmbio e a Bolsa reagiram como esperado após o Copom, com o real se valorizando por conta do diferencial na taxa de juros enquanto a Bolsa recuou com a maior atratividade da renda fixa”, explicou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

A divergência entre os analistas está no ritmo da alta da Selic na próxima reunião do Copom, em novembro. Para Cruz, o BC deverá acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto porcentual e, em dezembro, o ritmo dependerá de como os mercados vão se comportar no fim do ano. “Caso melhore, daria para pensar em uma redução do ritmo”, explicou. Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos, é mais conservador e espera mais duas altas de 0,25 ponto percentual na taxa Selic até o fim do ano.

“Sinceramente, acho que um miniciclo de 0,75 ponto percentual de alta seria suficiente, mas parece que o mercado comprou a ideia de que é necessário um aperto mais forte e tem economista falando em Selic no fim do ciclo de até 12,50% ao ano, mas acho um tanto quanto exagerado. Mas, vamos ver os próximos números”, afirmou.

Sergio Goldenstein, estrategista da Warren Rena, por sua vez, segue prevendo outras três altas adicionais de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, para 11,50% ao ano até janeiro de 2025. “Mas, reconhecemos que aumentou a possibilidade de um ciclo mais intenso, em particular, se o desempenho do real não contribuir para o processo de desinflação e caso os indicadores de atividade e mercado de trabalho continuem a mostrar um forte dinamismo”, escreveu, em um relatório aos clientes. Ele espera, inclusive, que a reação inicial do mercado à decisão e ao comunicado do Copom continue sendo de uma redução da inclinação da curva de juros e apreciação do real.

Na avaliação do economista-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, Rafael Cardoso, o Banco Central foi bastante duro no comunicado da reunião do Copom, reagindo a fatores externos e internos. Para ele e sua equipe, o colegiado deverá aumentar o ritmo de alta para 0,50 ponto percentual nas duas próximas reuniões e, depois, reduzirá para 0,25 ponto percentual, quando encerrará o ciclo com a Selic em 12%. “A nossa interpretação é de que o BC decidiu assumir o controle de forma mais ativa, tomando as rédeas da política monetária, sem depender de fatores externos. Internamente, o Banco Central passou a ver o balanço de riscos como assimétrico. O principal fator para essa avaliação foi a reavaliação em torno da atividade econômica mais forte que o esperado”, explicou.

Segundo Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, as decisões dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos estavam em linha com as expectativas do mercado, mas seus efeitos ainda serão sentidos nos próximos meses. “Essas magnitudes eram esperadas, principalmente aqui no Brasil, onde o aumento foi moderado. Isso deve continuar favorecendo ativos de renda fixa e investimentos atrelados à Selic e realizando sua principal função, o controle inflacionário.

Já nos EUA, o corte pelo Fed foi visto como um sinal claro de que a desaceleração econômica preocupa, o que pode impactar a curva de juros globalmente”, avaliou Cunha. “O Banco Central brasileiro adotou uma postura mais dura (‘hawkish’) ao deixar claro que mais altas podem ocorrer caso a inflação persista. Isso traz previsibilidade e deve continuar favorecendo investimentos em renda fixa e títulos públicos. A curva de juros pode cair um pouco no longo prazo, e o mercado de câmbio também pode responder positivamente, com o dólar em leve queda”, acrescentou.

Os investidores, agora, precisam ajustar suas carteiras de acordo com as novas realidades econômicas em cada país. No Brasil, a elevação da Selic mantém a atratividade de investimentos em renda fixa, enquanto, nos EUA, o corte dos juros pode favorecer ativos mais arriscados, como ações, mas ainda depende da resposta do mercado às novas condições econômicas.

Para o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a decisão do Fed pode ser vista como um reflexo do progresso na luta contra a inflação e um movimento para equilibrar os riscos econômicos. “No Brasil, essa redução pode trazer alguns impactos positivos, como a valorização do real e um possível alívio na política monetárias”, afirmou.

Nogami disse que a decisão do Copom foi acompanhada por uma queda na B3 e uma leve desvalorização do dólar frente ao real. “Esses movimentos refletem a cautela dos investidores diante do novo cenário de juros mais altos.”

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Aconteceu ontem o 6º fórum nacional da hotelaria – A Era da Experiência

Aconteceu ontem o 6º fórum nacional da hotelaria – A Era da Experiência (Mailson de Nobrega, consultor hoteleiro e palestrante no 6º Fórum Nacional da Hotelaria (Foto: Maarten Van Sluys) )

Ontem, dia 16 de setembro entre às 9h e 18h, aconteceu o ansiosamente esperado fórum anual, organizado pelo FOHB – FÓRUM DE OPERADORES HOTELEIROS DO BRASIL cujo tema desta edição: “A Era da Experiência”.

Evento que a cada ano se torna mais importante e requisitado pelos principais hoteleiros, tanto os já associados à entidade, como todas as demais redes e até mesmo hoteleiros independentes em busca de atualização, congraçamento e muito network. No evento foram apresentadas as perspectivas da economia brasileira, aspectos da reforma tributária em discussão no congresso, o panorama da hotelaria para os próximos 2 anos, uma visão sobre a inserção da I.A (Inteligência Artificial) na hotelaria, possíveis novas práticas para geração de receitas e no final da interessantíssima programação, um bem-humorado “Lateshow” com o apresentador e comediante Danilo Gentili.

Fórum aconteceu no icônico Rosewood São Paulo

O local escolhido pela diretoria FOHB para o fórum deste ano não poderia ter sido mais assertivo. A sexta edição do Fórum foi realizada no charmosíssimo e icônico Hotel Rosewood São Paulo, o 5 estrelas situado na região da Avenida Paulista onde outrora existiu a mansão da tradicional família Matarazzo. Um dos símbolos da pujança que remonta a era do exponencial crescimento econômico paulistano que transformou a capital bandeirante na grande mola propulsora da economia nacional.

O Hotel Rosewood, descrito como um “Oásis Metropolitano”, foi inaugurado em janeiro de 2022, cujo majestoso projeto é assinado pelo arquiteto Jean Nouvel (vencedor do cobiçado Prêmio Priztker em 2008) e de Philippe Starck que assina o projeto de interiores, integrando de forma harmônica o burburinho da região dos Jardins, mais conhecida de São Paulo, à aspectos de leveza e tranquilidade total em suas 160 suítes, uma magnífica Penthouse de 158 m2, duas piscinas panorâmicas, restaurantes de alta gastronomia e um Jazz Bar. Já no ano seguinte a inauguração (2023) o Rosewood paulistano foi incluído na prestigiadíssima lista do “The World’s 50 Best Hotels” ocupando a 27ª posição e sendo o único hotel do Brasil a ser relacionado.

“Em um mundo onde a experiência do cliente é cada vez mais o elemento central do sucesso, nossos convidados se juntaram a nós em uma jornada na qual exploramos e celebramos a essência da hospitalidade moderna em um cenário contemporâneo e deslumbrante. Nosso evento buscou não apenas informar, mas também inspirar, desafiando conceitos tradicionais e revelando novas fronteiras na arte de criar experiências memoráveis”, afirma Orlando de Souza, Presidente Executivo da entidade.

Fórum Nacional da Hotelaria

O Fórum Nacional da Hotelaria é um dos principais e mais relevantes eventos de conteúdo, tendências e inovações do setor. “Trouxemos grandes palestrantes que apresentaram conteúdos estratégicos e dinâmicos destinados a um público extremamente qualificado, formado por executivos de alto nível, jornalistas e stakeholders do mercado” explica Ana Paula Rodrigues, gerente de Marketing do FOHB.

Ao longo das suas, agora seis edições realizadas, já estiveram presentes mais de 2.700 pessoas. Grandes nomes palestraram ao longo deste período como os renomados consultores Maílson da Nóbrega, Ricardo Amorim e Max Gehringer, além de executivos de sucesso como Newton Neto (Google), Cristiano Vasques (HotelInvest), Zeina Latiff (XP), Felipe Tavares (CNC), Fabio Gandour (IBM), Beto Sobrinho (Totvs), Flavio Rocha (Riachuelo) e o jornalista Carlos Alberto Sardenberg (CBN) entre muitos outros nomes destacados.

Além de todo o conteúdo e oportunidade de networking, a 6ª edição proporcionou aos participantes uma experiência gastronômica memorável no Hotel Rosewood através de um farto welcome coffee, concorrido almoço oferecido pela Tramontina e um elegante coquetel de encerramento.

O VI Fórum Nacional da Hotelaria contou com importantes patrocinadores e apoiadores como: Anuga Select Brazil, B2B.reservas, CVC Corp, Equipotel, Friboi, Grupo R1, Harus, Nespresso, RenTV, Seara, Shift, TOTVS e Vega IT.

Sobre o FOHB

O FOHB é uma entidade associativa sem fins lucrativos que reúne as mais importantes redes hoteleiras com atuação no país. Fundada em 2002, hoje conta com 24 redes associadas tanto nacionais como internacionais. São 786 hotéis que totalizam mais de 121 mil unidades habitacionais (apartamentos) distribuídos em 202 municípios nas 5 regiões do Brasil gerando mais de 150 mil empregos diretos e indiretos.

Até 2026, considerando apenas as projeções das redes atualmente associadas serão 879 hotéis e mais de 135 mil apartamentos. A missão da entidade é contribuir decisivamente para o desenvolvimento do setor, auxiliando na normatização e sistematização da classe e do mercado hoteleiro em geral propiciando aos seus associados melhor desenvolvimento das atividades de prestação de serviços de hospedagem e alimentação e, hotéis atuando em 3 eixos: REPRESENTAÇÃO INSTITUCIONAL, foi magnífica sua atuação por exemplo na criação do Novo Perse levada a bom termo após muito empenho. CONTEÚDO, realizando como no dia de ontem eventos, workshops, treinamentos, reuniões e rodadas de negócios. E por fim ESTUDOS E TENDÊNCIAS, conduzindo estudos e pesquisas sobre o desempenho do setor através dos boletins e informes mensais de performance.

” Estaremos juntos nesta jornada única e inspiradora rumo a um futuro promissor da atividade hoteleira”

Maarten Van Sluys (Consultor Estratégico em Hotelaria – MVS Consultoria)

Instagram: mvsluys e-mail: mvsluys@gmail.com Whatsapp: (31) 98756-3754

Siga o @portaluaiturismo no Instagram e no TikTok @uai.turismo

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Superquarta: entenda por que o BC do Brasil vai subir os juros, enquanto os EUA vão baixar

A semana começa quente no mercado financeiro, às vésperas da principal “Superquarta” de 2024. Esse é o nome das quartas-feiras em que coincidem as reuniões que definem as taxas de juros dos Estados Unidos e do Brasil.

A edição desta semana é especial porque os investidores esperam que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) finalmente dê início ao ciclo de redução dos juros americanos. As taxas estão no maior patamar em mais de 20 anos, em uma briga da maior economia do mundo para conter a inflação após a pandemia de Covid.

Foram meses de expectativa por esse momento, pois juros menores nos EUA melhoram a atividade da economia e dão ânimo para que os investidores do mundo todo procurem mais rentabilidade em novos destinos, destravando tanto investimentos diretos como nas bolsas de valores.

Já o Brasil — que vinha em um movimento de queda desde o ano passado, mas interrompeu o ciclo de cortes — chega a essa Superquarta com a expectativa de que o Banco Central do Brasil (BC) volte a subir a taxa básica de juros (Selic).

O país vem disfrutando de bons resultados de crescimento econômico, mas o mercado segue invocado com a falta de soluções para as contas públicas.

Enquanto o governo tenta convencer que será capaz de cumprir a missão de controlar os gastos, os investidores deixam o país de fora das primeiras apostas. Sem dólares entrando, o câmbio segue desvalorizado e gerando pressão na inflação brasileira.

Aí que entra o papel do BC como uma espécie de “guardião dos preços”. Com a decisão desta quarta, analistas acreditam que a instituição deve subir os juros para mostrar um “cuidado ativo” com inflação, uma forma de convencer o mercado e os investidores de que está vigilante com a piora das expectativas à frente.

Especialistas ouvidos pelo g1 explicam como chegamos a essa Superquarta com sinais opostos entre as duas instituições, e por que o BC brasileiro pode precisar adotar um tom mais equilibrado em caso de alta, para não jogar um balde de água fria na economia brasileira.

Entenda nesta reportagem:

O que deve acontecer nesta Superquarta?

O que explica a mudança de projeções?

Como as decisões devem mexer com a economia?

O que deve acontecer nesta Superquarta?

Nesta edição da Superquarta, as expectativas do mercado são opostas para as instituições. É importante entender o contexto em cada uma delas.

Veja abaixo.

▶ ESTADOS UNIDOS

O Federal Reserve deve realizar o primeiro corte de juros desde 2020. O mercado dá a redução como certa desde o discurso do presidente da instituição, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, em agosto.

Ele disse que “chegou a hora de mudar a política (monetária)” dos EUA, e que há um “amplo espaço” para reduzir os juros. Powell não deu nenhuma pista sobre qual será o tamanho do corte, nem mesmo quantos ocorrerão, deixando essa dúvida entre os analistas.

De acordo com a ferramenta FedWatch do CME Group, o mercado estima uma chance de 59% de a instituição reduzir os juros norte-americanos em 0,25 ponto percentual (p.p.). Outros 40% acreditam ser possível um corte mais expressivo, de 0,50 p.p.

De qualquer forma, a notícia é positiva. Entre o fim do ano passado e o começo deste, o mesmo FedWatch mostrava que mais da metade do mercado esperava pelo menos um primeiro corte ainda no primeiro semestre. Mas as projeções foram sucessivamente adiadas.

De olho nos dados econômicos que não lhe davam conforto para reduzir as taxas, o Fed foi postergando o ajuste. A instituição olha, principalmente, para a inflação americana, para uma possível pressão dos salários por um mercado de trabalho aquecido e para os números da atividade econômica.

Com juros mais altos, o crédito para consumo das famílias e para os investimentos das empresas ficam mais caros. Por isso, esse período longo que o Fed manteve as taxas mais elevadas ajudou a desaquecer o mercado de trabalho e, depois, a inflação.

Nos últimos meses, a geração de vagas de trabalho diminuiu e a taxa de desemprego subiu para 4,2% em agosto. Um ano atrás, a taxa era de 3,8%.

Já a inflação de agosto caiu para 2,5% no acumulado em 12 meses. Esse é o menor patamar desde fevereiro de 2021, e está mais perto da meta de 2% do Fed.

A exceção é a atividade econômica, que continua forte. O Produto Interno Bruto dos EUA foi de 3% no segundo trimestre. Mas há uma preocupação extra do Fed, de promover um “pouso suave” da economia — ou seja, reduzir a inflação sem prejudicar muito a atividade e os empregos. Um erro de calibração na hora de ajustar os juros pode gerar uma recessão.

Com tudo isso em conta, a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, acredita que essa é apenas a primeira de uma sequência de reduções nos juros americanos até o fim de 2024. “Esse primeiro corte deve ser o menor possível e continuar de forma muito gradual”.

A economista está do lado da maioria do mercado financeiro, e espera um corte de 0,25 p.p. nesta reunião, com mais dois cortes de mesma magnitude em novembro e dezembro. Carla explica que o “modus operandi” do Fed tem sido esse: promover ajustes pequenos enquanto aguarda novos dados econômicos.

Caso a projeção da economista se realize, os juros americanos devem passar da atual faixa de 5,25% a 5,50% ao ano para um patamar entre 4,50% e 4,75%.

▶ BRASIL

Por aqui, o mercado espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) volte a subir a taxa Selic. Segundo os especialistas consultados pelo g1, houve uma piora da dinâmica da inflação nos últimos meses, que colocou os analistas em alerta.

Entre os principais pontos, estão:

A forte desvalorização do real em relação ao dólar;

O crescimento (bem acima do esperado) da atividade econômica;

O desemprego nos menores patamares em 10 anos;

A dificuldade de que o governo cumpra o arcabouço fiscal e dê jeito nas contas públicas.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, acumula 4,24% em 12 meses.

Mesmo que ainda esteja dentro do que se considera uma meta de inflação cumprida, em que o teto é de 4,5%, o BC é obrigado também a olhar as projeções para meses (e anos) à frente, em que o IPCA está gradualmente se distanciando dessa mesma meta.

Segundo a economista sênior da LCA Consultores Thaís Zara, a instituição começou a olhar a situação com mais de cautela diante da proximidade da inflação com o teto da meta, e conforme economistas do mercado financeiro passaram a reavaliar os riscos da economia brasileira citados acima.

“As expectativas estão desancoradas, e isso tende a influenciar a própria inflação. As pessoas acabam reajustando preços porque percebem que a inflação futura pode ser mais alta”, explicou Zara.

“As expectativas estão desancoradas, e isso tende a influenciar a própria inflação. As pessoas acabam reajustando preços porque percebem que a inflação futura pode ser mais alta”, explicou Zara.

Inflação “desancorada” é o jargão do mercado financeiro para definir esse momento em que as projeções dos economistas começam a escapar do que o BC precisa cumprir pela meta de inflação.

No mercado, não há um consenso se a situação é suficientemente grave para a subida de juros, mas a maior parte dos economistas já projeta uma taxa Selic em 11,25% ao ano até o fim de 2024 — 0,75 p.p. a mais que atualmente.

Para Alex Lima, fundador e estrategista-chefe da DA Economics, o mercado ainda pode enfrentar dificuldades para acertar as contas e recalcular as rotas para o que deve acontecer nas próximas reuniões do Copom.

“Vamos precisar viver um dia após o outro. Vai depender muito das sinalizações do Fed e do comunicado do Copom. Também de se condicionar pelos dados econômicos. E de ser relativamente duro para trazer as expectativas do mercado de volta para o lugar”, disse o especialista.

“Vamos precisar viver um dia após o outro. Vai depender muito das sinalizações do Fed e do comunicado do Copom. Também de se condicionar pelos dados econômicos. E de ser relativamente duro para trazer as expectativas do mercado de volta para o lugar”, disse o especialista.

O que explica a mudança de projeções?

A previsão de um novo aumento de juros pelo Copom é nova no mercado. A mudança pôde ser vista nos últimos boletins do Focus, relatórios semanais elaborados pelo BC que reúnem projeções de economistas para os principais indicadores econômicos do país.

Em janeiro, o Focus apontava para uma queda substancial da Selic em 2024. A estimativa era de que a taxa encerrasse o ano em 9%, o que representaria uma queda de 2,75 p.p. em relação ao fim do ano passado (11,75% ao ano). Já na semana passada, a expectativa apontava para 11,25% ao ano.

Nesse mesmo intervalo, as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) também mudaram bastante, mas para melhor. O Focus apontava para um PIB de 1,60% neste ano. Agora, a expectativa é de alta de 2,68% — com tendência de subir mais nas próximas semanas.

O economista André Perfeito diz que parte do que explica esses “erros sistemáticos de projeção” é a dificuldade que o mercado tem sentido em entender os movimentos da economia e os efeitos das políticas públicas nos números.

“Isso tem a ver com a incapacidade do governo de coordenar as informações”, disse Perfeito.

“Isso tem a ver com a incapacidade do governo de coordenar as informações”, disse Perfeito.

Em suma, os cálculos são feitos para tentar ler os rumos da economia, mas os erros se acumulam. Com os analistas perdidos, é preciso se segurar em qualquer nova pista do que pode acontecer.

Quando isso se junta com uma desconfiança persistente com os rumos do governo — seja pela necessidade de demonstrar mais preocupação com as contas, seja pelo teste da autonomia do BC com a sucessão de Roberto Campos Neto — um dado fora das expectativas pode mudar todo o rumo da análise.

“A atividade robusta [que pode elevar salários e pressionar os preços], uma desinflação lenta e até mais desafiadora, pioraram as expectativas. E ainda vimos um endurecimento na própria comunicação do Copom, indicando maior cautela e vigilância”, lembra o economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, Claudio Ferraz.

“A atividade robusta [que pode elevar salários e pressionar os preços], uma desinflação lenta e até mais desafiadora, pioraram as expectativas. E ainda vimos um endurecimento na própria comunicação do Copom, indicando maior cautela e vigilância”, lembra o economista-chefe para Brasil do BTG Pactual, Claudio Ferraz.

O problema não é uma exclusividade brasileira: não custa lembrar que as expectativas para as taxas de juros nos Estados Unidos também mudaram bastante ao longo de 2024. De março para abril. Depois, maio. Em seguida, junho. Por fim, setembro.

Pela lógica, os juros elevados deveriam levar os Estados Unidos a passar por uma desaceleração muito antes do que se previa. Passaram os meses e a maior economia do mundo continuou mostrando força.

Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, a resiliência da economia americana foi puxada às custas do aumento do déficit público (quando os gastos do governo extrapolam as receitas).

“O déficit lá pode ser de um valor monumental, de até US$ 1 trilhão neste ano. Tem muito gasto público, muito programa de transferência de subsídios para investimentos, e tudo isso estimula a economia”, explica Gala.

“O déficit lá pode ser de um valor monumental, de até US$ 1 trilhão neste ano. Tem muito gasto público, muito programa de transferência de subsídios para investimentos, e tudo isso estimula a economia”, explica Gala.

Mais uma vez, os estímulos fizeram os especialistas errarem o cálculo ao projetar uma recessão para os EUA. No início de agosto, quando o relatório payroll, do mercado de trabalho americano, veio bem mais fraco que o esperado, houve um dia de pânico no mercado financeiro, com quedas de mais de 3% nas bolsas americanas.

O mercado dava como certo que uma crise se aproximava. Dois dias depois, com novos dados de atividade econômica, o “terror” se dissipou, e tudo voltou ao normal.

Por isso, o Fed tem sido absolutamente cuidadoso em suas comunicações. Por isso, Cristian Pelizza, economista da Nippur Finance, acredita que a instituição terá bastante parcimônia ao reduzir as taxas, com cortes de 0,25 p.p.

Tudo se trata de passar a mensagem mais correta possível. Uma surpresa só aconteceria, na visão de Pelizza, se houvesse uma queda muito forte dos empregos em pouco tempo.

“Uma desaceleração no mercado de trabalho poderia dar velocidade ao ciclo e ditar quão rápidos seriam os cortes”, diz o economista.

“Uma desaceleração no mercado de trabalho poderia dar velocidade ao ciclo e ditar quão rápidos seriam os cortes”, diz o economista.

Como as decisões devem mexer com a economia?

Na teoria, quando os juros de um país sobem, o consumo das famílias se reduz e os investimentos das empresas ficam mais caros. É uma forma de controle da inflação, por meio da desaceleração da atividade econômica.

O que o Copom tenta fazer é encontrar um equilíbrio delicado, de mostrar ao mercado que vai agir ao menor sinal de complicação com a inflação brasileira, mas sem reverter os bons resultados do PIB brasileiro e nem prejudicar o mercado de trabalho, que está nos melhores níveis em 10 anos.

Economistas dizem que a alta de juros é uma forma de demonstrar um “cuidado ativo” com a inflação, para tentar ancorar as expectativas do mercado e driblar pressões também nas projeções de juros.

“Quando olhamos para todo esse balanço de riscos que o Copom analisa, há uma série de fatores que apontam a necessidade de um ajuste adicional. Mas não acredito que será um ciclo de alta muito grande ou extenso, porque a correção de rumo necessária é relativamente pequena”, disse Zara, da LCA.

“Quando olhamos para todo esse balanço de riscos que o Copom analisa, há uma série de fatores que apontam a necessidade de um ajuste adicional. Mas não acredito que será um ciclo de alta muito grande ou extenso, porque a correção de rumo necessária é relativamente pequena”, disse Zara, da LCA.

Para alguns especialistas, no entanto, ainda será necessário acompanhar a evolução do cenário macroeconômico para entender se esse ciclo de altas será suficiente.

“É fundamental o apoio de uma política fiscal mais contida, principalmente porque persistem as dúvidas sobre a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal e o alcance das medidas de estabilização da dívida pública”, afirmou Ferraz, do BTG.

Por outro lado, a provável redução nas taxas americanas deve mexer com o fluxo de dinheiro no mundo todo. E isso pode, inclusive, beneficiar um fluxo maior de capital para o Brasil, melhorando o mercado de ações e também a cotação do dólar.

“Nosso câmbio está rodando em torno de R$ 5,60 muito por fatores domésticos, mas com certeza seria uma pressão para baixo sobre o câmbio esse início de um afrouxamento de juros nos EUA”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

“Nosso câmbio está rodando em torno de R$ 5,60 muito por fatores domésticos, mas com certeza seria uma pressão para baixo sobre o câmbio esse início de um afrouxamento de juros nos EUA”, diz Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Nesse sentido, um consenso entre os especialistas é que uma possível queda do dólar também traria bons efeitos sobre a inflação.

Parte da inflação brasileira é dolarizada, por conta dos diversos insumos e produtos importados que são consumidos no país. Assim, com um dólar mais barato, a pressão dos preços desses itens cai e tende a reduzir a inflação.

Paulo Gala, do Master, conclui que “quanto mais o Fed reduzir seus juros e continuando na estratégia do ‘pouso suave’, menos o nosso BC precisa subir a Selic, porque mais dólar entra no Brasil e ajuda a controlar a taxa de câmbio e a inflação”.

Paulo Gala, do Master, conclui que “quanto mais o Fed reduzir seus juros e continuando na estratégia do ‘pouso suave’, menos o nosso BC precisa subir a Selic, porque mais dólar entra no Brasil e ajuda a controlar a taxa de câmbio e a inflação”.

Peru: Especialistas avaliam o legado de amor e ódio de Alberto Fujimori

O anúncio foi feito pelos quatro filhos do ex-presidente do Peru, por meio de comunicado à imprensa divulgado por volta das 18h30 desta quarta-feira, 11/9 (20h30 em Brasília). “Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de partir para o encontro com o Senhor. Pedimos àqueles que o estimaram que nos acompanhem com uma oração pelo descanso eterno de sua alma. Obrigado por tudo, papai”, escreveram Keiko, Hiro, Sachie e Kenji Fujimori. O Palácio do Governo informou que Fujimori será sepultado com honras de chefe de Estado, seguindo “estritamente os protocolos fixados pela chancelaria”.

Alberto Fujimori tinha 86 anos e travava uma batalha contra um câncer de língua, depois de ser libertado da prisão em dezembro passado, beneficiado por um indulto humanitário, após passar 16 anos no cárcere. Morreu na casa da família no distrito de San Borja, em Lima, onde esteve na companhia de Keiko, líder da Fuerza Popular (o maior partido de direita do país), e dos dez netos. Segundo o jornal peruano El Comercio, a saúde de Fujimori se deteriorou ao longo da última semana. Um padre foi chamado, na tarde desta quarta-feira, ao imóvel. Fujimori governou o Peru entre 1990 e 2000.

A última aparição pública de Fujimori ocorreu na quinta-feira passada (6/9), quando ele deixava uma clínica no bairro de Miraflores, na capital peruana, depois de ser submetido a uma tomografia. O ex-mandatário entra para a história como um líder condenado por violações dos direitos humanos e pelo fechamento do Congresso, em 5 de abril de 1992. Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade — os massacres de Barrios Altos e de La Cantuta. Este último caso envolveu a ação de um esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina, um destacamento das Forças Armadas peruanas, que executou 15 pessoas, ao confundi-las com integrantes da organização terrorista Sendero Luminoso. Em 14 de julho, Keiko chegou a anunciar que o pai se candidataria à Presidência do Peru nas eleições de 2026.

Legado

Professor de relações internacionais da Pontifícia Universidad Católica del Perú, Oscar Vidarte Arévalos disse ao Correio que Fujimori foi um figura muito polarizadora. “É complexo avaliá-lo. Para alguns peruanos, o legado dele estará ligado aos sucessos durante o seu governo. Para outros, como é o meu caso, estará manchado de sangue e de corrupção”, afirmou. “Para alguns, ele será lembrado por ter derrotado o terrorismo (o grupo Sendero Luminoso), transformado a economia durante a difícil década de 1980 e assentado as bases políticas, econômicas e jurídicas do Peru.”

Arévalos destacou que Fujimori foi sentenciado por violações dos direitos humanos e corrupção. “Isso manchou completamente o seu governo. Ele implementou uma maneira de fazer política que creio ter sido nefasta.”

O cientista político peruano Jose Alejandro Godoy, especialista em fujimorismo, considera que Fujimori foi um político “polêmico” para os peruanos. “Foi um presidente que chegou como surpresa, em 1990, ao ganhar a disputa com o escritor Mario Vargas Llosa. Fez o que prometeu durante a campanha: um choque econômico, com reformas estruturais de mercado. Deu um golpe de Estado contra os mais pobres, em 1992, tornando-se autoritário”, avaliou.

Segundo Godoy, a popularidade de Fujimori esteve atrelada ao controle da inflação, à captura dos líderes terroristas do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, e a uma política assistencialista. “Mas, durante seu governo, centenas de pessoas sofreram execuções extrajudiciais.” O estudioso lembrou que Fujimori ameaçou as instituições democráticas e criou um estilo autoritário baseado no controle da mídia. “Será lembrado como o primeiro líder peruano condenado por um tribunal e como o criador de um movimento político marcante (fujimorismo).”

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Dólar abre em queda com mercado à espera de dados de inflação dos Estados Unidos

O dólar abriu em queda nesta quarta-feira (11), com investidores à espera de dados de inflação dos Estados Unidos para calibrar expectativas sobre a taxa de juros norte-americana.

Às 9h04, a moeda caía 0,21%, a R$ 5,643 na venda, com o mercado também de olho nas repercussões do debate presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump. Na terça-feira, fechou em forte alta de 1,32%, aos R$ 5,653, e a Bolsa recuou 0,30%, aos 134.319 pontos.

A manhã reserva a divulgação dos números do PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês), um dos indicadores de inflação mais monitorados pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar as decisões de política monetária.

A expectativa do mercado é grande. O dado, além de fornecer pistas sobre o estado da maior economia do mundo, poderá direcionar apostas sobre o tamanho do corte nos juros dos EUA, previsto para a reunião do Fed na semana que vem, entre os dias 17 e 18 de setembro.

A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas.

O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e emprego para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos ao mercado de trabalho do país.

Leia mais

‘Eu claramente não sou Biden’, diz Kamala em debate em que colocou Trump na defensiva

Argentinos tiram seus dólares do colchão com novo incentivo tributário de Milei

Petróleo derrete, mas Petrobras deve esperar para mexer no preço da gasolina

O relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês), divulgado na sexta, mostrou uma desaceleração ordenada e sem grandes deteriorações nas taxas de ocupação, mas não afastou por completo temores de recessão. Com o PCE em mãos, a previsão é de um consenso no tamanho da redução.

A aposta majoritária é de que será gradual: a probabilidade de que o comitê irá cortar os juros em 0,25 ponto percentual chegou a 67% na ferramenta FedWatch, enquanto a redução de maior magnitude, de 0,50 ponto, reúne 33%.

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.

Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.

Folha Mercado

Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.

Carregando…

Uma bateria de indicadores na semana passada reforçou a hipótese de que a Selic poderá subir no próximo encontro do Copom, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro. As projeções chegaram até ao Boletim Focus: economistas consultados pelo BC passaram a prever uma taxa de juros maior pela primeira vez desde que as discussões de uma nova alta começaram, em junho.

O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.

Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto.

Foi a primeira deflação desde junho de 2023, quando a baixa havia sido de 0,08%. O mercado projetava leve variação positiva de 0,01%, de acordo com a agência Bloomberg.

Com os dados de agosto, o IPCA passou a registrar uma inflação menor, de 4,24%, no acumulado de 12 meses. É uma desaceleração ante a taxa de 4,5% até julho, quando estava no teto da meta trabalhada pelo BC.

A deflação, apesar de positiva, não foi o suficiente para reverter as projeções de alta na Selic até o final do ano.

“Apesar de acreditarmos que não faz sentido subir juros nesse contexto [de deflação], a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom”, diz André Valério, economista-sênior do Inter.

É a mesma visão de Bruna Sene, analista da Rico Investimentos. Para ela, o IPCA pode não ser o suficiente para “mudar o racional de alta de 0,25 ponto da Selic, apenas enfraquece a possibilidade de 0,50 ponto” de aperto.

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

No entanto, as dúvidas sobre a postura do Copom após os dados indicarem deflação ajudou o dólar a se valorizar na terça-feira. “O mercado estava colocando no preço que o diferencial de juros entre Brasil e EUA iria aumentar mais, com as apostas de aperto de 0,50 ponto sendo desmontadas agora”, explica Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.

O dólar ainda se valorizou globalmente na terça diante de dados econômicos fracos vindos da China, além de uma maior cautela antes da divulgação do PCE amanhã.

As importações chinesas desaceleraram na base mensal em agosto, a 0,5%, ante avanço de 7,2% em julho. O resultado afetou os preços de commodities relevantes para a cena brasileira, como o petróleo e o minério de ferro, que voltaram a recuar diante de temores de redução na demanda da China, o maior importador de matérias-primas do mundo.

Com Reuters

Como o samba foi para a avenida e entrou na sala de aula no Japão

Uma escola privada de ensino médio do Japão resolveu incluir o samba em sua grade escolar. E o que era para ser uma aula sobre música transformou-se em uma exibição de bateria e dança.

Há 24 anos, cerca de 150 alunos e os graduados do professor Yoshihiro Shigeyama têm se reunido durante as férias escolares de agosto para intensos ensaios e confecção de fantasias que são apresentadas no desfile de Carnaval de Asakusa, em Tóquio, para um público estimado de meio milhão de pessoas.

O samba é ensinado desde 1998 como matéria optativa no colégio Jiyuu no Mori (Bosque da Liberdade), localizado na cidade de Hanno (Província de Saitama), a cerca de uma hora da capital Tóquio.

A escola é a única do Japão a incluir essa disciplina na grade escolar, com aula semanal e avaliação.

Porém, o curso está com os dias contados. O professor Shigeyama completou 60 anos de idade e deverá se aposentar em breve. “Sem um sucessor, não tem como continuar com o curso”, lamenta.

Na época em que foi contratado para lecionar no Jiyuu no Mori, o colégio estava ampliando a lista de matérias optativas, e o samba foi apresentado como muito atraente para os jovens.

Esse gênero musical chegou no Japão muitos anos antes até mesmo do que a bossa nova, que se popularizou na década de 1960 quando Astrud Gilberto e Sergio Mendes foram para o Japão, e ainda hoje é muito tocada como música ambiente em restaurantes e cafeterias.

“Bossa Nova ouço no fone de ouvido enquanto leio em um café, é muito introspectiva. Já o samba é uma música alegre que você quer ouvir e tocar enquanto bebe cerveja”, diz o japonês Willie Whopper, autor de seis livros sobre música brasileira e dono do barzinho chamado Aparecida, em Tóquio.

O samba fez parte de um pacote de novidades estrangeiras que invadiram o Japão durante o período de crescimento econômico no pós-guerra.

O jazz americano, a música havaiana, o folclore sul-americano, o yodeling escandinavo e até as canções folclóricas russas eram populares na época.

“Muitos conheceram o samba através do filme Você já foi à Bahia? (Three Caballeros, 1945), da Disney, e dos discos de Carmen Miranda”, diz Willie.

Cantores japoneses também produziram suas versões de samba. O Matsuken Samba, interpretado pelo ator de dramas Ken Matsudaira, é um dos mais populares atualmente, embora não seja estritamente um samba.

“É um estilo exclusivamente japonês, que também mistura música latina, como o mambo cubano e ritmos caribenhos.”

O que o professor Shigeyama tenta ensinar aos adolescentes é o gênero musical samba.

“Uma série de coincidências me levou a conhecer dois pandeiristas e um cavaquinista, todos japoneses envolvidos com ritmos brasileiros. Nas primeiras aulas eu falava sobre os instrumentos, mas depois que resolvi me aprofundar, o samba ganhou ritmo e som. Só não ensino a dançar, isso os alunos aprendem por conta própria”, diz.

A participação da escola no Carnaval de Asakusa como GRES Bosque da Liberdade é resultado da empolgação do professor e dos estudantes.

“A primeira vez fomos para aprender”. Mas desde a estreia no Grupo 3, em 2000, eles não perderam nenhum desfile.

E em 2019 acabaram subindo para a liga principal, onde há concurso e uma série de exigências, como número de integrantes (de 150 a 300), samba-enredo original e presença obrigatória da comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira, além da ala das baianas.

As escolas de samba no Japão muitas vezes chegam a importar as fantasias do Brasil para participar da competição

O julgamento é semelhante ao do Carnaval do Rio de Janeiro, e os quesitos avaliados são enredo, evolução, fantasias/adereços, samba-enredo/bateria, dança e conjunto.

“Somos uma escola, e temos muitas limitações. Apesar das dificuldades financeiras, temos conseguido nos manter entre as oito equipes da liga principal”, diz Shigeyama.

Segundo o músico paulista Claudio Ishikawa, de 65 anos, os japoneses são muito competitivos, e quando participam de um concurso como é o Carnaval, eles se dedicam muito a ganhar.

O prêmio em dinheiro concedido ao vencedor cobre apenas uma parte dos gastos que a escola de samba tem, produzindo alegorias e às vezes importando fantasias do Brasil.

“Mas isso parece não ter tanta importância para as grandes agremiações, desde que se consiga o reconhecimento dos jurados e do público.”

Em 2001, Claudio criou o Bloco Arrastão, cujas características são a irreverência e as cores preto e branco — em homenagem ao Corinthians, seu time do coração.

Ele é adepto de fantasias mais simples e sambas-enredos com um pouco de sarcasmo e humor.

“Os japoneses estranham, mas entendem. Digo que o samba não é Carnaval, e precisa de intuição e flexibilidade.”

No Japão, o primeiro contato das crianças com o samba muitas vezes ocorre nas aulas que discutem diversidade e multiculturalismo, quando geralmente as escolas de nível fundamental 1 convidam estrangeiros para apresentarem curiosidades acerca de seus países. No caso do Brasil, o menu acaba sendo o estereótipo samba-futebol.

Outras portas de entrada para o samba no Japão são as escolinhas de música e dança, e os clubes universitários.

A União dos Amadores é um exemplo. Criada em 1981, ela é formada por estudantes de diversas universidades japonesas da região de Kanto (que engloba Tóquio), onde há grupos que tocam, cantam e dançam música brasileira.

Embora haja concentração na capital, o samba é replicado em vários pontos do Japão.

No extremo norte, em Hokkaido, surgiu a escola de samba Urso da Floresta (criada em 2001), que anima festivais locais; e na ponta meridional do Japão é realizado o Carnaval Internacional de Okinawa.

Aprendendo in loco

As relações comerciais bilaterais indiretamente também contribuíram para propagar o samba e muitos outros aspectos da cultura brasileira no Japão.

A partir da década de 1960, diversas empresas japonesas se instalaram no Brasil, levando também a mão de obra especializada.

A família do administrador de empresas Tatsuya Itoh, de 61 anos, fez sua mudança para o Brasil nesse período.

Ele tinha um ano quando chegou no Rio de Janeiro, em 1964, e exceto um período de cinco anos, morou lá até 1982.

“Considero esta época como auge da MPB e do samba de raiz, e aprendi a cantar vários sambas ouvindo rádios e discos”, diz.

Quando retornou ao Japão com 18 anos, ingressou na Universidade Cristã Internacional e lá fundou o clube universitário ICU Lambs (Latin American Music and Batucada Society).

Tatsuya aprendeu percussão em uma escola de samba de músicos brasileiros, em Tóquio, e depois resolveu levar alguns instrumentos para ensinar dentro da ICU.

Com exceção dele, ninguém conhecia nem o samba nem o Brasil. “O que tínhamos em comum era a curiosidade pela cultura. Já vivíamos num ambiente de diversidade e inclusão, e talvez os valores da ICU tenham ajudado a aceitarmos coisas novas.”

O mestre-sala Fight Seki e a segunda porta-bandeira Shino Yamashita querem aprimorar suas habilidades no Brasil

Atualmente, a ICU é o único clube universitário a desfilar em Asakusa. Mas esse não era o principal objetivo do grupo.

“A intenção sempre foi o enriquecimento pessoal através do aprendizado pelo contato com a cultura brasileira, e o Carnaval sempre foi apenas uma das opções”, afirma Tatsuya.

Os membros do clube fazem a votação para determinar o calendário do ano, e o Carnaval sempre foi incluído como uma das atividades anuais desde 2004, quando estrearam na avenida para comemorar o 20º aniversário da ICU Lambs.

Para turista ver

Entre julho e agosto, no Japão é comum presenciar pequenos desfiles de samba em bairros comerciais ou em festivais de verão. Porém, o evento no distrito de Asakusa tem outra dimensão.

O samba desembarcou lá em 1981, quando o carnaval foi incorporado aos festivais tradicionais, a fim de criar uma nova imagem para o bairro que vinha se deteriorando desde o pós-guerra.

Segundo o presidente do comitê executivo do Carnaval de Asakusa, Kazuyasu Inaba, este evento tornou-se parte do coração e da alma do distrito. A festa ganhou proporções e seu formato virou concurso, com duas ligas, 15 equipes participantes e quase 4 mil integrantes no total.

Desde 1981, o evento tem sido realizado todos os anos, exceto em 2011 – quando foi cancelado devido ao impacto do grande terremoto de Tohoku. E em 2022 e 2023, ocorreu sem os desfiles competitivos em decorrência da pandemia de covid-19.

No próximo dia 15 de setembro, o Carnaval promete ser como sempre foi, um espetáculo para meio milhão de pessoas assistir de graça, aglomeradas ao longo de duas avenidas, e um grande concentração em frente ao Kaminarimon (o portão do templo Sensoji).

O professor Yoshihiro Shigeyama durante um ensaio: em breve ele se aposentará e as aulas chegarão ao fim

De certa forma, os desfiles de rua acabam servindo de vitrine para atrair também mais japoneses para o samba. De tanto ouvir esse ritmo musical em casa e após participar de um desfile quando criança, o estudante Naoya Inoue, de 17 anos, acabou se apaixonando pelo ritmo.

Ele toca chocalho, é o atual diretor de bateria do GRES Bosque da Liberdade onde sua irmã Maho, que estudou com o professor Shigeyama, é a rainha de bateria.

“O samba mexe com o nosso corpo e a nossa alma. Quando tocamos, precisamos nos concentrar no ritmo, e ele vai nos envolvendo e tirando qualquer tensão”, diz Naoya.

Seu colega Sotaro Konsho, 17, aprendeu tambor japonês (taiko) na infância, e na escola Jiyuu no Mori ele toca surdo. Apesar de se dedicar muito à percussão, diz que em breve se afastará dos instrumentos e da música, para se concentrar nos estudos. “O vestibular está aí. Quero entrar em uma faculdade de renome”, diz ele, que ainda não definiu o curso.

Embora saiba que também precisará estudar muito para as provas no ano que vem, a porta-bandeira Shino Yamashita, 16, diz que vai priorizar o samba. “É o que me traz felicidade!”

Como a maioria, ela foi estudar samba no colégio sem conhecimento prévio. “No início achava que era só rodopiar com a bandeira, mas com o tempo fui aprendendo que tinha uma grande responsabilidade.”

Carnaval de Asakusa: espetáculo para 500 mil pessoas

Fight Seki, 25 anos, nunca se distanciou do samba. Começou dançando sozinho, fazendo o papel de malandro, e logo se firmou como mestre-sala. Mesmo passados 6 anos da formatura, ele continua a desfilar pela GRES Bosque da Liberdade.

Foi ao Brasil três vezes, e em uma ocasião formou par com a porta-bandeira japonesa Sara Yokoyama, para desfilar pela Águia de Ouro no ano em que a escola conquistou o inédito título do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo, em 2020.

Lamenta que seu trabalho como passador em uma churrascaria em Tóquio não o permita ficar metade do ano no Brasil como fazem alguns passistas e músicos japoneses que vão lapidar suas habilidades, mas está feliz por ter conseguido realizar o sonho de ver ao vivo o Carnaval do Rio.

Samba japonês

Segundo o músico Claudio Ishikawa, muitos japoneses tentam imitar ao máximo o Carnaval do Rio e de São Paulo, mas mesmo que façam tudo com capricho, isso nem sempre é possível.

Os carnavalescos japoneses se dividem entre cantar em português e em japonês. A escolha do idioma é crucial, pois ele é o elemento que pode tornar o samba-enredo mais, ou então menos japonês. No fim, muitos acabam misturando os idiomas.A escolha dos temas também varia muito.

“Muitas escolas de samba querem copiar o Brasil e exaltar a cultura brasileira ou cantar a África, coisas que nem a maioria dos integrantes nem o público conhece. Eu tento ao máximo falar algo que é do entendimento japonês”, diz Cláudio.

Como exemplo, o Bloco Arrastão já cantou sobre sushi (Sambazushi), falou sobre o trajeto para o trabalho (tsukin samba) e o úmido e escaldante verão japonês. No primeiro Carnaval da ICU Lambs, o diretor de bateria, que era um músico experiente, resolveu compor em português.

“E como o idioma ajuda a trazer o ritmo mais próximo ao samba, conseguimos fazer um samba-enredo mais ou menos”, lembra Tatsuya Itoh.

Atualmente ele atua como observador no clube universitário, e deixa tudo a critério dos estudantes.

“Mas penso que a mensagem do enredo deve ser algo que o japonês entende, utilizando histórias fáceis de compreender, como contos conhecidos, mesmo sendo de origem estrangeira”, diz. A ICU Lambs, por exemplo, já foi campeã com enredo de sorvete.

No GRES Bosque da Liberdade, muitos sambas-enredos foram escritos pelos alunos, e falavam das coisas sob o ponto de vista dos jovens. Este ano, o tema será uma quase despedida.

A escola decidiu relembrar os 24 anos de participação no Carnaval, o período em que o professor Shigeyama esteve à frente do grupo ensinando o beabá do samba, os desafios e as conquistas, para terminar com o refrão “Bosque da Liberdade, a minha escola de samba. Meu coração é verde e laranja”, cantado em português. O restante é todo em japonês.

Essa é a mistura típica e como os japoneses declaram sua paixão pela cultura brasileira.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Boletim Focus: mercado prevê alta de juros ainda este ano

Economistas do mercado financeiro elevaram as projeções para a taxa básica de juros (Selic). Segundo os dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (9/9) pelo Banco Central (BC), o indicador deve subir dos atuais 10,50% para 10,75% em 2024.

O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na próxima semana para tomar uma decisão sobre os juros. A estimativa também subiu para 2025, passando de 10,0% para 10,25%, enquanto a projeção para 2026 ficou nos mesmos 9,50% da semana anterior. A taxa esperada para 2027 ficou em 9,0%.

A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, também aumentou, passando de 4,26% para 4,30% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, permaneceu em 3,92%. A projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, assim como para 2027, em 3,50%.

A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e em 2025. A margem de tolerância para que ela seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

A mediana das projeções para o produto interno bruto (PIB) em 2024 também registrou alta, subindo de 2,46% para 2,68%. Já a previsão para 2025 passou de 1,85% para 1,90%. A estimativa para 2026 continua nos mesmos 2,0%. A projeção também está em 2,0% para 2027.

Em relação ao câmbio, a projeção para o dólar em 2024 subiu de R$ 5,33 para R$ 5,35. Para 2025, a estimativa permaneceu em R$ 5,30, assim como para 2026 e 2027, cuja projeção é de R$ 5,25.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Selena Gomez se torna bilionária após sucesso com linha de maquiagem

Com uma fortuna de US$ 1,3 bilhão, a artista entra para o time dos bilionários mais jovens dos Estados Unidos. A fortuna vem, principalmente, da marca Rare Beauty.

A cantora Selena Gomez entrou para o ranking de bilionários da Bloomberg, empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro. Selena, aos 32 anos, acumula um patrimônio estimado em US$ 1,3 bilhão — cerca de R$ 7,3 bilhões.

Com a fortuna, Selena tornou-se uma das bilionárias mais jovens dos Estados Unidos com dinheiro procedente do próprio trabalho. O termo usado nos Estados Unidos é “self-made billionaire” — “bilionário que se faz sozinho”, em tradução livre.

A fortuna da cantora vem de diversas fontes de renda, como propriedades, publicidades no Instagram e trabalhos como cantora e atriz Porém, a maior parte da renda vem da marca de cosméticos. A Rare Beauty, lançada em 2020, tornou-se um sucesso nos Estados Unidos e em outros países. 81,4% do dinheiro da cantora vem da empresa.

Fontes próximas de Selena disseram à Bloomberg que em março deste ano, para avaliar ofertas de investimentos e até de aquisição da Rare Beauty, a atriz contratou assessores financeiros.

A empresa tem um valor de mercado estimado em US$ 2 bilhões. A participação de Selena é de US$ 1,1 bilhão.

Vídeos no TikTok contribuíram para o sucesso da marca. A aproximação com o público jovem foi essencial para os produtos viralizarem cada vez mais.

Junto da mãe, Mandy Teefey, e a empresária Daniella Pierso, Selena cofundou a startup Wondermind, com foco em saúde mental. Em 2022, a empresa foi avaliada em US$ 100 milhões.

Ainda na adolescência, Selena se tornou mundialmente conhecida por protagonizar o seriado “Os Feiticeiros de Waverly Place”, da Disney Channel. Após isso, ela iniciou uma carreira musical e lançou dezenas de hits, como Lose You To Love Me e Calm Down.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram