O Perse e a transversalidade dos eventos

ENID CÂMARA, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc Brasil)

Eu poderia apostar que você, talvez, não saiba ao certo em quantos eventos corporativos esteve presente. Difícil lembrar de todos, não? Eu entendo, mas o fato é que, todo ano, a gente encontra um tempo para estar em algum evento corporativo. Os eventos simplesmente fazem parte da nossa agenda, da nossa vida profissional!

E por quê? Porque um homem nos fez passar a pensar assim: o radialista e empresário Caio de Alcântara Machado (1926-2003). Foi ele que, no ano de 1958, resolveu criar a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), em São Paulo. E não à toa é considerado o criador das feiras de negócios no Brasil, o pioneiro do nosso setor de eventos.

Mas agora imagine como Caio reagiria ao ver todo esse setor ser dizimado por uma pandemia? Não, ele não merecia ter visto milhares de empresas e profissionais forçadamente parados por dois longos anos. E de lembrar que, em 2019, o setor de eventos crescia 19% ao ano, com previsão de chegar aos 25% em 2020. Mas não foi possível. A covid-19 não nos permitiu esse crescimento.

A histórica e desafiadora pandemia levou ao fechamento em massa das empresas de eventos e, por consequência, a dispensa de quase 100% dos funcionários e prestadores de serviços de boa parte dos mais de 50 segmentos que compõem o ecossistema da cadeia de eventos. É impossível calcular quantos sonhos de prosperidade no setor foram interrompidos, quantos profissionais se sentiram obrigados a buscar outro meio de vida.

Naquele momento, a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc Brasil), enquanto mais longeva entidade do setor, fez coro ao chamado G20 , o grupo formado pelas principais entidades do trade de eventos e turismo do país. E após um ano e meio de muitas negociações, entre o setor produtivo e o governo federal, chegamos, em março de 2021, à criação do inédito Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).

O Perse foi o único programa criado pelo governo federal durante a pandemia para um setor específico da economia brasileira. Um merecido acerto em cheio para as tão impactadas empresas do setor buscarem sobrevida com o refinanciamento de dívidas e a isenção de impostos federais (IRPJ, CSLL, PIS e COFINS).

Tais benefícios foram implementados com o cristalino propósito de reduzir as comprovadas perdas do setor. Um propósito com data de validade, é verdade. O Perse foi pensado para chegar ao fim exatamente em 17 de março de 2027. Ou seja, uma data estipulada com a mútua convicção dos empresários e do governo, pois o horizonte da referida data se traduziria em tempo hábil para a recuperação do setor no Brasil.

É como um médico que receita para o paciente uma série de atividades a serem cumpridas em determinado período. E, assim, acredita que, naquele tempo estabelecido, o paciente conseguirá se recuperar plenamente. Mas e se de repente aparece outro médico refutando o que foi prescrito para simplesmente reduzir o tempo de tratamento?

Analogias à parte é o que está acontecendo com o setor de eventos no Brasil. O tratamento aprovado para ser aplicado até 2027 pode, agora, ir somente até abril deste ano. E, aí, eu me pergunto: pode mesmo esse setor se recuperar em apenas dois anos. E para que serviram todos os estudos formulados para a validação do Perse até 2027? Estavam errados todos os profissionais que atestaram ser esse o tempo necessário para a recuperação de todo o setor?

Sofrem as empresas e os profissionais de eventos, bem como todos os stakeholders que orbitam em torno desse importante setor da economia brasileira. Sim, nossa atividade é puramente transversal! Pois dialoga e gera emprego com uma série de segmentos. Desde a indústria, que precisa dos congressos e feiras para lançar seus produtos ao setor de infraestrutura e logística que transporta tudo aquilo que é necessário para realizarmos eventos em todas as regiões deste continente chamado Brasil.

Por isso, é nítido perceber o tamanho do prejuízo que pode vir a ser causado a inúmeros ramos da nossa economia com o apressado e prematuro fim do Perse. É imperativo que todos parem e reflitam quem quando falamos em eventos, estamos tratando de todo um ecossistema formado por várias cadeias de valor conectadas uma à outra.

Ou seja, dizer “não” ao Perse, agora, é ignorar a transversalidade de um setor que gera emprego e renda para o turismo, para a indústria e para a logística. Deixemos o setor se recuperar, evitemos o desemprego. Nos deixem preservar o legado de Caio de Alcântara Machado, nos deixem seguir investindo nas feiras e eventos do Brasil.

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O Perse e a transversalidade dos eventos

ENID CÂMARA, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc Brasil)

Eu poderia apostar que você, talvez, não saiba ao certo em quantos eventos corporativos esteve presente. Difícil lembrar de todos, não? Eu entendo, mas o fato é que, todo ano, a gente encontra um tempo para estar em algum evento corporativo. Os eventos simplesmente fazem parte da nossa agenda, da nossa vida profissional!

E por quê? Porque um homem nos fez passar a pensar assim: o radialista e empresário Caio de Alcântara Machado (1926-2003). Foi ele que, no ano de 1958, resolveu criar a Feira Nacional da Indústria Têxtil (Fenit), em São Paulo. E não à toa é considerado o criador das feiras de negócios no Brasil, o pioneiro do nosso setor de eventos.

Mas agora imagine como Caio reagiria ao ver todo esse setor ser dizimado por uma pandemia? Não, ele não merecia ter visto milhares de empresas e profissionais forçadamente parados por dois longos anos. E de lembrar que, em 2019, o setor de eventos crescia 19% ao ano, com previsão de chegar aos 25% em 2020. Mas não foi possível. A covid-19 não nos permitiu esse crescimento.

A histórica e desafiadora pandemia levou ao fechamento em massa das empresas de eventos e, por consequência, a dispensa de quase 100% dos funcionários e prestadores de serviços de boa parte dos mais de 50 segmentos que compõem o ecossistema da cadeia de eventos. É impossível calcular quantos sonhos de prosperidade no setor foram interrompidos, quantos profissionais se sentiram obrigados a buscar outro meio de vida.

Naquele momento, a Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc Brasil), enquanto mais longeva entidade do setor, fez coro ao chamado G20 , o grupo formado pelas principais entidades do trade de eventos e turismo do país. E após um ano e meio de muitas negociações, entre o setor produtivo e o governo federal, chegamos, em março de 2021, à criação do inédito Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).

O Perse foi o único programa criado pelo governo federal durante a pandemia para um setor específico da economia brasileira. Um merecido acerto em cheio para as tão impactadas empresas do setor buscarem sobrevida com o refinanciamento de dívidas e a isenção de impostos federais (IRPJ, CSLL, PIS e COFINS).

Tais benefícios foram implementados com o cristalino propósito de reduzir as comprovadas perdas do setor. Um propósito com data de validade, é verdade. O Perse foi pensado para chegar ao fim exatamente em 17 de março de 2027. Ou seja, uma data estipulada com a mútua convicção dos empresários e do governo, pois o horizonte da referida data se traduziria em tempo hábil para a recuperação do setor no Brasil.

É como um médico que receita para o paciente uma série de atividades a serem cumpridas em determinado período. E, assim, acredita que, naquele tempo estabelecido, o paciente conseguirá se recuperar plenamente. Mas e se de repente aparece outro médico refutando o que foi prescrito para simplesmente reduzir o tempo de tratamento?

Analogias à parte é o que está acontecendo com o setor de eventos no Brasil. O tratamento aprovado para ser aplicado até 2027 pode, agora, ir somente até abril deste ano. E, aí, eu me pergunto: pode mesmo esse setor se recuperar em apenas dois anos. E para que serviram todos os estudos formulados para a validação do Perse até 2027? Estavam errados todos os profissionais que atestaram ser esse o tempo necessário para a recuperação de todo o setor?

Sofrem as empresas e os profissionais de eventos, bem como todos os stakeholders que orbitam em torno desse importante setor da economia brasileira. Sim, nossa atividade é puramente transversal! Pois dialoga e gera emprego com uma série de segmentos. Desde a indústria, que precisa dos congressos e feiras para lançar seus produtos ao setor de infraestrutura e logística que transporta tudo aquilo que é necessário para realizarmos eventos em todas as regiões deste continente chamado Brasil.

Por isso, é nítido perceber o tamanho do prejuízo que pode vir a ser causado a inúmeros ramos da nossa economia com o apressado e prematuro fim do Perse. É imperativo que todos parem e reflitam quem quando falamos em eventos, estamos tratando de todo um ecossistema formado por várias cadeias de valor conectadas uma à outra.

Ou seja, dizer “não” ao Perse, agora, é ignorar a transversalidade de um setor que gera emprego e renda para o turismo, para a indústria e para a logística. Deixemos o setor se recuperar, evitemos o desemprego. Nos deixem preservar o legado de Caio de Alcântara Machado, nos deixem seguir investindo nas feiras e eventos do Brasil.

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Novas regras de juros do cartão de crédito: desafios e benefícios

RICARDO NAKAHASHI, advogado especialista em direito bancário

Nos últimos anos, o mercado financeiro tem passado por diversas mudanças, e uma das mais recentes diz respeito às novas regras de juros no cartão de crédito. Essa medida representa um marco significativo para os consumidores, prometendo vantagens palpáveis e uma reviravolta nas práticas financeiras que afetam diretamente o bolso de milhões de brasileiros.

Até pouco tempo atrás, as taxas de juros aplicadas aos cartões de crédito eram um fardo pesado para muitos consumidores. O cenário de juros exorbitantes era uma realidade difícil de ser ignorada, impactando negativamente a vida financeira da população e gerando um ciclo vicioso de endividamento — contribuindo para o chamado “superendividamento”.

As novas regras de juros no cartão de crédito buscam trazer alívio aos consumidores. Uma das mudanças mais notáveis é a limitação dos juros cobrados em situações de atraso no pagamento do valor mínimo da fatura. Essa medida visa desencorajar a inadimplência e criar um ambiente mais favorável ao consumidor.

Outra mudança relevante está na oferta de alternativas mais transparentes e acessíveis. Instituições financeiras são, agora, obrigadas a disponibilizar informações claras sobre as diferentes modalidades de pagamento, facilitando a compreensão por parte dos usuários e permitindo que escolham a opção mais adequada às suas condições financeiras.

Elenco três vantagens para o consumidor. A primeira é a redução significativa dos encargos financeiros. Isso não apenas alivia a pressão sobre as finanças pessoais, mas também incentiva práticas responsáveis de uso do crédito. A segunda é ligada à transparência e informação. A obrigatoriedade de fornecer informações mais claras e compreensíveis sobre as opções de pagamento empodera o consumidor. Com maior conhecimento, os usuários podem fazer escolhas mais conscientes e evitar surpresas desagradáveis em suas faturas.

Por fim, o estímulo à competitividade. Com as novas regras, espera-se que as instituições financeiras busquem oferecer condições mais competitivas para atrair e manter clientes. Isso pode resultar em uma maior diversidade de opções e benefícios para os consumidores, incentivando a concorrência saudável no setor.

Se, de um lado, as novas regras de juros no cartão de crédito representam um avanço significativo em direção a um mercado financeiro mais justo e favorável ao consumidor, ao reduzir encargos financeiros, promover transparência e estimular a competição, novos desafios passam a ser aplicáveis ao mercado financeiro e às empresas que o exploram.

Um deles é a adaptação das instituições financeiras, que precisam ajustar seus modelos de negócios para se adequar às restrições impostas aos juros. A busca por alternativas sustentáveis e a reavaliação de práticas antigas tornam-se imperativas, exigindo flexibilidade e inovação. Outro desafio é o risco de inadimplência. A limitação dos juros em caso de atraso pode gerar uma preocupação adicional quanto a esse problema. É crucial encontrar um equilíbrio entre oferecer condições mais favoráveis aos consumidores e garantir a saúde financeira das empresas, evitando possíveis impactos negativos no setor.

A transparência nas informações é uma mudança positiva, mas também traz um terceiro desafio: a necessidade de maior educação financeira por parte dos consumidores. Muitos podem não estar familiarizados com os termos e condições detalhados, o que pode levar a escolhas inadequadas. As instituições financeiras e órgãos reguladores precisam trabalhar em conjunto para garantir que os usuários compreendam plenamente as implicações de suas decisões.

A concorrência agressiva também é outro ponto a se destacar. Isso porque a busca por atrair clientes mediante a oferta de condições mais competitivas pode levar a uma concorrência agressiva entre as instituições financeiras. O que, por sua vez, pode criar pressões sobre a rentabilidade das empresas, exigindo uma gestão cuidadosa dos recursos para manter a estabilidade do mercado. Possíveis ajustes nas ofertas de crédito também merecem atenção. Para compensar as limitações nos juros do cartão de crédito, as instituições financeiras podem ajustar suas ofertas de crédito de outras maneiras, como aumentando taxas em outras modalidades ou impondo novas condições aos clientes. Isso requer um equilíbrio delicado para garantir que o mercado permaneça acessível e benéfico para os consumidores.

Enquanto as novas regras de juros no cartão de crédito oferecem benefícios evidentes aos consumidores — a quem caberá aproveitar essas mudanças para fazer escolhas conscientes e construir uma relação mais equilibrada com o crédito — não podemos ignorar os desafios que o mercado enfrenta para se adaptar a essas mudanças. O sucesso dependerá da capacidade das instituições financeiras em inovar, equilibrar riscos e educar os consumidores, criando um ambiente financeiro mais saudável e equitativo para todas as partes envolvidas.

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Governo federal aguarda confirmação de servidores para retorno de mesas de negociação

O governo federal ainda aguarda a resposta da maioria dos funcionários públicos para agendar o primeiro encontro da Mesa Nacional de Negociação Permanente (MNNP) e das mesas setoriais de 2024. Suspensa durante todo o governo de Jair Bolsonaro (PL), a MNNP foi retomada no último ano e resultou na correção de 9% para os servidores federais em 2023, o que custou R$ 12 bilhões aos cofres públicos. A mesa foi mais uma paralisada após, na última semana de 2023, a União ter informado não daria reajustes salariais aos funcionalismo no ano de 2024.

Entenda: Cálculo de Benefício Especial é atualizado pelo governo federal Acompanhe: Funcionários do TRE-RJ vão requerer adiamento de suspensão a trabalho remoto

A proposta de reajuste salarial posta à mesa pelos representantes da gestão federal ofereceu 9% de incremento em duas parcelas iguais, a primeira em maio de 2025 e a segunda em maio de 2026. Esse ajuste resulta em um acumulado total de 19,03% no período entre 2023 e 2026.

Para este ano, foi ofertado aos sindicatos presentes uma série de readequação nos valores dos benefícios concedidos aos servidores públicos. A União prevê elevar, a partir de maio, o auxílio-alimentação de R$ 658 para R$ 1 mil; a contrapartida dos planos de saúde de R$ 144 para R$ 215; e o auxílio-creche de R$ 321 para R$ 484,90. Isso representará 51,06% de reajuste nos auxílios.

Contudo, o “calcanhar de Aquiles” da oferta é que ela deixa de lado os aposentados.

Dia dos Aposentados

Na quarta-feira (dia 24), dia que marca o “Dia dos Aposentados”, diversas paralisações foram realizadas em todo o país, na qual o funcionalismo cobra valorização profissional.

Na contraproposta enviada ao governo federal, os sindicalistas consideram dois blocos de percentuais de reajuste (29,49% e 18,30%) a serem divididos em três anos (2024, 2025 e 2026).

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Leia Mais

O estudo que levou à elaboração das propostas foi feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e considera perdas e reajustes nos últimos anos.

O Dieese considerou a inflação acumulada de maio de 2016 a dezembro de 2023, além das inflações projetadas relativas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo de 2024 e 2025.

Outra proposta à mesa

Na última semana, o Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado também enviou uma proposta à União.

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No documento, foi exigida uma oferta de recomposição salarial em três parcelas, a primeira de 9%, a segunda de 7,5% e a terceira de 7,5%, a serem implementadas, respectivamente, nos meses de maio de 2024, 2025 e 2026.

Origem do imbróglio

Na última reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente do governo federal, realizada em 18 de dezembro, o governo federal formalizou sua proposta de reajuste de benefícios e reestruturação de carreiras.

A proposta inclui a reestruturação de carreiras e o reajuste salarial para os próximos anos, totalizando 9% em duas parcelas iguais, a primeira em maio de 2025 e a segunda em maio de 2026. Esse ajuste resulta em um acumulado total de 19,03% no período entre 2023 e 2026.

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A oferta, contudo, não agradou os representantes sindicais, que querem reajustes ainda neste ano de 2024.

Mais recente Próxima Mudanças no cálculo do Benefício Especial dos servidores são incompletas, avalia fórum do funcionalismo

Argentina: Sindicatos exibem força e fazem greve contra Javier Milei

Quarenta e cinco dias depois de ascender ao poder, Javier Milei enfrentou a primeira greve geral, seguida de uma mobilização massiva em Buenos Aires e em todas as principais cidades da Argentina — Corrientes, Rosario, Córdoba, Mendoza e Mar del Plata. A paralisação começou ao meio-dia e se encerrou à meia-noite. Convocadas pela Confederación General del Trabajo (CGT), centenas de milhares de pessoas ignoraram ameaças de retaliação do governo, desafiaram um “protoloco antipiquete” e saíram às ruas para protestar contra as modificações no regime laboral impostas pelo decreto de necessidade e urgência (DNU) e pela “Lei Ônibus”.

O pacote de 664 artigos prevê uma revolução no sistema econômico e uma ampla reforma trabalhista, com a limitação ao direito de greve, mudanças no financiamento sindical, a valorização do livre mercado e regulações sobre os aluguéis. Sem o número necessário de deputados para aprovar pontos sobre exportação que compõem a “Lei Ônibus”, a votação do texto no Congresso foi adiada para a próxima terça-feira. De acordo com a imprensa argentina, Milei excluiu ou revogou 141 artigos da legislação.

Enquanto os protestos ocorriam em todo o país, impulsionados pelo slogan “Não se vende a Pátria”, a Casa Rosada sofria nova derrota. A Justiça atendeu a um pedido da CGT e invalidou seis artigos da DNU que contemplavam modificações no contra-cheque, na não obrigatoriedade de repasse financeiro aos sindicatos e no direito de realização de assembleias.

Ativisita ostenta capacete com a palavra “ódio”, em frente a policiais de choque alinhados

A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e o porta-voz da Presidência da Argentina, Manuel Adorni, minimizaram a mobilização. “De 21 milhões de trabalhadores, apenas 0,19% se mobilizou, se considerarmos, entre os trabalhadores, a La Cámpora (organização política juvenil peronista) e as organizações sociais. Quarenta mil pessoas. Fracasso total”, escreveu Bullrich na rede social X, o antigo Twitter. Às 19h desta quarta-feira (24/1), trens e ônibus de algumas empresas aderiram à greve.

Três horas antes do início da paralisação, ela provocou a CGT, a Justiça e o próprio establishment político. “Sindicalistas mafiosos, gerentes da pobreza, juízes cúmplices e políticos corruptos. Todos defendendo seus privilégios, resistindo à mudança decidida democraticamente pela sociedade e liderada, com determinação, pelo presidente Milei. Não há greve que nos detenha, nem ameaça que nos amedronte”, avisou a ministra, que criou um protocolo para impedir os manifestantes de bloquearem ruas e avenidas.

“Alguns milhares parando, alguns milhares trabalhando. Fim”, ironizou Adorni. Milei acompanhou os protestos na Quinta de Olivos, residência oficial do governo, e não se reuniu com o gabinete. Assessores afirmaram ao jornal Clarín que o presidente estava “tranquilo”.

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Além de organizações sociais, participaram do ato em Buenos Aires os sindicatos de azeiteiros, jornalistas, associações de bairro, entidades de defesa dos direitos humanos e trabalhadores das áreas da cultura, da saúde e da ciência. Em discurso diante do Congresso, Pablo Moyano — vice-secretário-geral do Sindicato dos Caminhoneiros da Argentina — fez uma ameaça contra o ministro da Economia, Luis Caputo. “Se continuar com estas medidas, os trabalhadores vão carregar o ministro nos ombros para jogá-lo no Riachuelo”, disse, ao mencionar o rio que demarca a fronteira sul de Buenos Aires.

Teste no Congresso

Para Miguel De Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires, o governo Milei enfrenta seu maior teste não nas ruas, mas no Congresso. Ele lembrou ao Correio que o pacote de medidas econômicas da Casa Rosada não conseguiu maioria sólida, na Câmara dos Deputados, que garanta sua aprovação. “Aqui, o governo joga todas as suas fichas em um cenário econômico e social muito complicado,” advertiu, por meio do WhatsApp.

Líder do Polo Obrero e responsável pela organização de piquetes em Buenos Aires, Eduardo Belliboni afirmou ao Correio que a adesão à paralisação foi massiva, principalmente por parte de trabalhadores sindicalizados. “Houve muitas organizações sociais que participaram do ato. A Plaza Congreso ficou lotada, com cerca de 800 mil pessoas, que se reuniram até a Avenida 9 de Julio. Foi uma grande mobilização, um respaldo popular à continuação do nosso plano de luta, até derrotarmos a política de Milei, o DNU e a ‘Lei Ônibus'”, disse.

Belliboni assegurou que o protocolo de Bullrich “fracassou por completo”. “Nós interrompemos o trânsito nas ruas e em avenidas, não porque tínhamos vontade de fazê-lo, mas porque a multidão ultrapassou todos os prognósticos. O protocolo inexistiu”, comentou. Ele relatou que os manifestantes “não receberam nenhuma provocação” da polícia. “A mensagem foi contundente: não aceitaremos essa política de Milei, nem o DNU, nem as restrições das liberdades e a redução dos salários.”

Rodolfo Aguiar — secretário-geral da Asociación Trabajadores del Estado (ATE) — classificou a manifestação como “multitudinária” e “contundente” em toda a Argentina. Ele garantiu ao Correio que a adesão do funcionalismo público chegou a 95%. “Em todo o país, serviços ficaram restritos. Não temos dúvidas de que as ruas começaram um plebiscito sobre o programa econômico de Milei. Mobilizado, o povo começou a rechaçar o ajuste potente e repressivo que o governo pretende impulsionar”, comemorou, por telefone. “Apesar das tentativas de intimidação e de criminalização dos protestos sociais, o povo saiu às ruas para defender a Pátria.”

Aguiar ponderou que todos os pontos da “Lei Ônibus” prejudicam a classe operária. Segundo ele, as medidas tentam pôr fim aos direitos individuais e coletivos dos trabalhadores. “Precarizam o salário e o emprego. Nem sequer permitem realizarmos assembleias. Também proíbem a sindicalização e vetam a participação de funcionários públicos em atos políticos. Violentam todas as garantias constitucionais, além dos direitos trabalhistas, sociais, políticos e civis. Se essa legislação for aprovada, a democracia cairá morta”, advertiu o dirigente da ATE.

Depois de participar dos protestos e de aderir totalmente à greve, Matías Fachal — secretário-geral da Federación Judicial Argentina (FJA) — avaliou de forma “extremamente positiva” a mobilização na maioria das províncias do país. “Nossa entidade adere à Central de Trabajadores de la Agentina Autónoma. Somos um dos principais objetivos atacados por Milei, tanto no DNU, quanto na ‘Lei Ônibus’. Esperamos que a massiva manifestação seja levada em conta pelos deputados e deputadas, no momento de apreciarem e votarem o projeto de lei”, disse à reportagem. Fachal acusou o governo de pretender submeter à venda e à privatização mais de 40 empresas do Estado, de anular a lei de aluguéis e de “rifar” o Fundo de Garantia de Sustentabilidade, o qual permite aos trabalhadores garantirem a aposentadoria.

Secretário-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores nas Indústrias de Artefatos de Borracha da Argentina (Sutna), Alejandro Crespo acredita que a mobilização de ontem mostra que os trabalhadores tomaram consciência da gravidade da situação econômica do país, ante a desvalorização de 130% no peso; a inflação de 25,5% em um mês; e o atraso nos salários. “Todos esses componentes visam arrasar com as conquistas obtidas por nossos pais e nossos avós. Essa geração tem a obrigação de defender toda a luta pelos direitos conquistados, a fim de deixarmos nossos filhos em situação melhor. O plano macabro de Milei busca quebrar a moral da classe trabalhadora, não apenas com a imposição de um forte ajuste, mas culpando os trabalhadores pela situação econômica e atacando os seus direitos”, comentou, por telefone.

Eduardo Belliboni, líder do Polo Obrero e responsável pela organização de piquetes em Buenos Aires

“Se a lei for votada nos próximos dias e aprovada pelo Congresso, nós iremos cercar o prédio da sede do Legislativo com uma mobilização. Estamos solicitando à Confederacion General de Trabajo (CGT) que convoque uma nova paralisação para o dia da sessão no Congresso. Precisamos aprofundar a greve geral coma adoção de novas medidas — com previsões de paralisação para 24 horas, 48 horas, e, se necessário, por tempo indeterminado.”

Eduardo Belliboni, líder do movimento Polo Obrero e responsável pela organização de piquetes. Na foto, com punho cerrado

Rodolfo Aguiar, secretário-geral da Asociación Trabajadores del Estado (ATE)

“A chamada ‘Lei Ônibus’ e o megadecreto de necessidade e urgência (DNU) atacam, diretamente, o emprego público e o Estado. Há uma matriz ideológica de destruição do Estado no governo de Milei. Querem debilitar e reduzir, à mínima expressão, o Estado. Sabem que, quando o Estado não existe, quem governa são as corporações. A greve geral foi exemplar. Foi uma paralisação para resistirmos, para nos defendermos dos ataques aos nossos direitos adquiridos.”

Rodolfo Aguiar (C), secretário-geral da Asociación Trabajadores del Estado (ATE)

Matías Fachal, secretário-geral da Federación Judicial Argentina (FJA)

“O governo de Javier Milei tem feito não apenas o contrário do que deveria fazer para a população, como piora substanciamente as condições de vida, salariais e trabalhistas dos argentinos. Também viola os direitos humanos, com perseguições e protocolos antiprotestos. Acredito que os protestos desta quarta-feira precisam atrair a atenção daqueles que governam, dos deputados e senadores, para frearem esse projeto de lei e esse decreto.”

Matías Fachal (D), secretário-geral da Federación Judicial Argentina (FJA)

Alejandro Crespo, secretário-geral do sindicato Único dos Pneumáticos Argentinos

“A tentativa de Javier Milei de produzir um choque de ataque sobre tudo o que os trabalhadores desejam piorou as nossas condições de vida. A greve desta quarta-feira, somente 45 dias depois de ele ter assumido o governo, nada tem de antecipado. O movimento tem a ver com a continuidade de um plano de luta. As ações dos trabalhadores se aprofundarão até que ponhamos fim a este plano macabro de Milei.”

Alejandro Crespo, secretário-geral do Sindicato Único dosTrabalhadores nas Indústrias de Artefatos de Borracha da Argentina

Um desafio ao governo

“A greve convocada pela Confederación General del Trabajo de la República Argentina (CGT) conseguiu níveis moderados de adesão em todo o país, um efeito previsível, haja vista estarmos em época de férias de verão. Além disso, o governo de Javier Milei ainda está em sua ‘lua de mel’, e os principais líderes sindicalistas de hoje não são carismáticos, nem gozam de uma popularidade relevante — ao contrário, muitos são questuonados ou avaliados de forma negativa.

Por outro lado, as concentrações realizadas nas principais cidades foram muito massivas, sendo a mais importante a da cidade de Buenos Aires em frente ao Congresso Nacional. Isso mostra que o poder de mobilização da CGT segue intacto e está muito bem azeitado. A CGT completou, assim, sua primeira prova contra o governo de Milei e o desafiou ao controle da rua.”

Miguel de Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA)

“Se a lei for votada nos próximos dias e aprovada pelo Congresso, nós iremos cercar o prédio da sede do Legislativo com uma mobilização. Estamos solicitando à Confederacion General de Trabajo (CGT) que convoque uma nova paralisação para o dia da sessão no Congresso. Precisamos aprofundar a greve geral coma adoção de novas medidas — com previsões de paralisação para 24 horas, 48 horas, e, se necessário, por tempo indeterminado.”

Eduardo Belliboni, líder do movimento Polo Obrero e responsável pela organização de piquetes. Na foto, com punho cerrado

“A chamada ‘Lei Ônibus’ e o megadecreto de necessidade e urgência (DNU) atacam, diretamente, o emprego público e o Estado. Há uma matriz ideológica de destruição do Estado no governo de Milei. Querem debilitar e reduzir, à mínima expressão, o Estado. Sabem que, quando o Estado não existe, quem governa são as corporações. A greve geral foi exemplar. Foi uma paralisação para resistirmos, para nos defendermos dos ataques aos nossos direitos adquiridos.”

Rodolfo Aguiar (C), secretário-geral da Asociación Trabajadores del Estado (ATE)

“O governo de Javier Milei tem feito não apenas o contrário do que deveria fazer para a população, como piora substanciamente as condições de vida, salariais e trabalhistas dos argentinos. Também viola os direitos humanos, com perseguições e protocolos antiprotestos. Acredito que os protestos desta quarta-feira precisam atrair a atenção daqueles que governam, dos deputados e senadores, para frearem esse projeto de lei e esse decreto.”

Matías Fachal (D), secretário-geral da Federación Judicial Argentina (FJA)

“A tentativa de Javier Milei de produzir um choque de ataque sobre tudo o que os trabalhadores desejam piorou as nossas condições de vida. A greve desta quarta-feira, somente 45 dias depois de ele ter assumido o governo, nada tem de antecipado. O movimento tem a ver com a continuidade de um plano de luta. As ações dos trabalhadores se

aprofundarão até que ponhamos fim a este plano macabro de Milei.”

Alejandro Crespo, secretário-geral do Sindicato Único dosTrabalhadores nas Indústrias de Artefatos de Borracha da Argentina

“A greve convocada pela Confederación General del Trabajo de la República Argentina (CGT) conseguiu níveis moderados de adesão em todo o país, um efeito previsível, haja vista estarmos em época de férias de verão. Além disso, o governo de Javier Milei ainda está em sua ‘lua de mel’, e os principais líderes sindicalistas de hoje não são carismáticos, nem gozam de uma popularidade relevante — ao contrário, muitos são questuonados ou avaliados de forma negativa.

Por outro lado, as concentrações realizadas nas principais cidades foram muito massivas, sendo a mais importante a da cidade de Buenos Aires em frente ao Congresso Nacional. Isso mostra que o poder de mobilização da CGT segue intacto e está muito bem azeitado. A CGT completou, assim, sua primeira prova contra o governo de Milei e o desafiou ao controle da rua.”

Miguel de Luca, professor de ciência política da Universidad de Buenos Aires (UBA)

Por que a confiança do consumidor segue o mercado de ações?

Uma coisa engraçada aconteceu a caminho das eleições de 2024. Bem, na verdade, muitas coisas engraçadas aconteceram. (Ron DeSantis!) Mas estou falando da economia.

Como escrevi em minha última coluna, parece ter havido uma repentina melhora na confiança do consumidor, que finalmente está começando a acompanhar a realidade de que a inflação despencou enquanto o desemprego permaneceu baixo.

E eu realmente quero dizer que foi repentino. Aqui está um gráfico da pesquisa de Michigan, a medida mais amplamente referenciada sobre confiança do consumidor:

Tudo bem, essa é apenas uma pesquisa, e parte do que estamos vendo pode ser ruído estatístico; outras pesquisas também mostram percepções melhoradas da economia, mas não uma quebra tão repentina.

Ainda assim, é interessante perguntar o que poderia ter levado a um aumento na forma como os americanos se sentem em relação à economia. E um candidato óbvio é um mercado de ações em alta.

De fato, há boas razões para acreditar que os preços das ações afetam as percepções da economia. O que é menos claro é o porquê.

Então, deixe-me mostrar uma visão sentimental do mercado de ações —ou seja, analisar sua relação com o sentimento do consumidor. (Não, não tenho sentimentos calorosos e fofinhos em relação ao Dow Jones.)

A evidência de que o mercado de ações afeta o sentimento do consumidor se baseia em parte em relações estatísticas médias; veja, por exemplo, esta análise do Federal Reserve [o banco central americano] de 1999. Também se baseia em alguns casos impressionantes.

Aqui está meu exemplo preferido, a confiança do consumidor durante 1987-88:

Por que o sentimento do consumidor despencou por alguns meses em meados de 1987 e depois se recuperou? Não estava acontecendo muita coisa na economia real —nenhuma grande mudança no desemprego, inflação ou crescimento econômico.

O que aconteceu foi a chamada segunda-feira negra, em 19 de outubro de 1987, quando o Dow Jones despencou repentinamente 22,6% sem motivo óbvio.

Os consumidores devem se importar quando o mercado de ações oscila? Possivelmente, a maioria deles não deveria.

É verdade que apenas uma minoria dos americanos possui ações diretamente, mas a maioria tem alguma exposição ao mercado quando se leva em conta as participações indiretas, especialmente os planos de aposentadoria.

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Mas mesmo quando se incluem esses investimentos indiretos, a participação da maioria das pessoas no mercado é pequena.

Em 2022, de acordo com o Federal Reserve, a família americana média possuía diretamente ou indiretamente quase US$ 500 mil em ações. Mas essas participações estavam concentradas nos 10% mais ricos da população; a família mediana possuía apenas US$ 52 mil.

Portanto, a maioria dos americanos não deve se importar muito com o que acontece com os preços das ações, pelo menos em termos do efeito direto em suas finanças.

Ainda assim, o mercado de ações não prevê o futuro da economia como um todo? Não.

Em 1966, o grande economista Paul Samuelson brincou que o mercado de ações havia previsto nove das últimas cinco recessões. A experiência subsequente confirmou seu ceticismo. O crash de 1987 não antecipou uma recessão; o mesmo aconteceu com o mercado em baixa de 1998:

Em primeiro lugar, ninguém é bom em prever recessões, fato que foi espetacularmente demonstrado pelo fracasso de todas aquelas previsões de recessão de 2022 se concretizarem.

Os investidores às vezes têm insights especiais sobre (ou informações privilegiadas sobre) empresas específicas, mas quando se trata da economia como um todo, eles têm o mesmo problema que todos os previsores: é realmente difícil prever pontos de virada.

Em segundo lugar, os preços das ações são impulsionados ainda mais pela psicologia humana —pela esperança, medo e ganância— do que a maioria dos outros preços de ativos. Portanto, as ações frequentemente sobem ou despencam sem motivo real.

Por fim, nem mesmo está claro se a perspectiva de uma recessão deve levar a preços mais baixos das ações. Sim, uma recessão leva a lucros menores, o que, tudo o mais constante, deve prejudicar as ações.

Mas o Fed normalmente responde às recessões cortando as taxas de juros, o que, tudo o mais constante, deve ajudar as ações. Qual efeito vai predominar? Não é óbvio.

Aliás, esse último ponto sugere que o mercado de títulos, que em grande parte reflete as expectativas sobre a política futura do Fed, deve ser um melhor guia para o futuro da economia.

Além disso, os títulos não são tão atraentes quanto as ações, então a negociação de títulos provavelmente é mais racional.

Historicamente, uma curva de rendimento invertida —taxas de juros de curto prazo acima das taxas de longo prazo— tem sido um indicador útil de recessão. Mas não desta vez, pelo menos até agora.

De qualquer forma, o ponto é que os americanos comuns não devem julgar a economia olhando para o mercado de ações. No entanto, muitos deles claramente o fazem. Por quê?

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Uma resposta é que, embora o mercado de ações possa ser um indicador fraco do estado da economia, ele é altamente visível. A última movimentação das ações está constantemente aparecendo na sua TV ou no seu smartphone, de uma forma que outros dados econômicos não estão.

Portanto, é um tanto natural para as pessoas julgarem a economia pelos números que veem o tempo todo.

Outra resposta é que a cobertura jornalística da economia pode ser fortemente afetada pelos preços das ações, mesmo que não devesse ser. A movimentação das ações, afinal, é um gancho fácil para a reportagem.

E ousaria dizer que os executivos das notícias, em média, certamente têm um interesse muito maior no mercado de ações do que o americano médio.

De fato, o índice de confiança de notícias do Fed de San Francisco —que acompanha o tom da cobertura jornalística em vez do humor dos consumidores— aumentou acentuadamente quando a atual alta das ações começou:

Então, o que devemos fazer com a melhora da confiança do consumidor?

Por um lado, ela faz muito sentido, dada a realidade de uma economia com baixo desemprego e inflação. Por outro lado, o momento pode ter sido impulsionado por um indicador financeiro que a maioria dos americanos na verdade deveria ignorar. Ah, bem.

Imposto de Renda: com isenção para quem ganha dois salários, defasagem da tabela vai cair

A defasagem da tabela do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF) deve cair caso se confirme o reajuste confirmado nesta terça-feira (dia 23) pelo presidente Lula que muda a faixa de isenção do tributo para acomodar o aumento do salário mínimo. O governo quer zerar o IR para quem recebe até dois salários mínimos (R$ 2.824).

Entenda: Lula confirma isenção de Imposto de Renda para até dois salários mínimos INSS: tempo médio de concessão de benefícios cai para 47 dias

O cálculo foi feito pelo Sindicato dos Auditores-Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional), com base na projeção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024 calculado pelo Boletim Focus, do Banco Central.

O governo ainda não definiu de que forma vai garantir a isenção para os contribuintes com renda de até dois salários mínimos. Para o Sindifisco Nacional, o caminho seria a elevação da faixa de isenção através da correção do desconto aos contribuintes direto na fonte.

No ano passado, a isenção subiu de R$ 1.903,98 para R$ 2.112, e foi aplicado um desconto de R$ 528 para todos os contribuintes. Assim, na prática, a faixa de isenção foi a R$ 2.640, o equivalente a dois mínimos em 2023.

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Agora, o valor do desconto teria que passar a R$ 712, o que incluiria quem ganha até R$ 2.824 (duas vezes o atual piso nacional) na faixa de isenção.

A última alteração na tabela foi no ano passado, quando a faixa de isenção do IR foi ampliada de R$ 1.903,98 para R$ 2.112. Antes, o reajuste aconteceu em 2015. Na campanha de 2022, o presidente Lula prometeu elevar para R$ 5 mil o limite de isenção.

Em 1996, o limite de isenção do Imposto de Renda era equivalente a 9 salários mínimos. De lá para cá, o piso teve ganhos reais sem correção correspondente da tabela, nem mesmo pela inflação.

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Arrecadação federal fecha 2023 em leve queda de 0,12%, mas tem o segundo melhor resultado da História

A arrecadação federal fechou o ano de 2023 em leve queda de 0,12%, com receitas que totalizaram R$ 2,31 trilhões. Apesar da redução, em termos reais, ou seja, descontada a inflação, o número foi o segundo melhor desde 1996, segundo a Receita Federal, perdendo apenas para os R$ 2,36 trilhões de 2022.

Em dezembro, a arrecadação subiu subiu 5,15%, em termos reais, na comparação com o mesmo mês de 2022, e R$ 213,22 bihões em receitas.

A queda no ano frustrou a expectativa da equipe econômica que contava com aumento da arrecadação para diminuir o déficit primário das contas públicas. O dado como percentual do PIB não foi divulgado porque o IBGE ainda não calculou o número exato do crescimento de 2023.

Segundo o secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, no entanto, o resultado foi “bastante positivo”, em função da base de comparação elevada com os anos de 2021 e 2022. Segundo ele, esses dois anos tiveram arrecadação atípicas no setor de commodities, que subiu muitio de preço em função da pandemia de covid-19.

– O resultado foi bastante positivo, apesar de ser um ano altamente desafiador. Há uma dificuldade de se comparar 2023 com os dois exercícios anteriores, que foram picos de arrecadação, no pós-pandemia. Quando a gente vê os minerais metálicos saíram de patamar de R$ 5 bilhões para R$ 20 bilhões no IRPJ em 2021, por exemplo. Combustível saiu de patamar de R$ 6 bilhões para R$ 43 bi em 2023. Estamos vendo uma volta a patamares normais – afirmou.

Segundo a Receita, também influenciaram no resultado pagamentos atípicos, principalmente de IRPJ e CSLL.

“O resultado da arrecadação foi influenciado por alterações na legislação tributária e por pagamentos atípicos, especialmente de IRPJ e CSLL, tanto em 2022 quanto em 2023”, disse a secretaria.

Os dados mostraram crescimento de 21,6% na arrecadação de IRPF/Capital, em função da taxa Selic elevada ao longo de todo o ano de 2023. Por outro lado, as reduções das alíquiotas de IPI e de PIS/Cofins sobre os combustíveis afetaram a arrecadação desses tributos.

“Sem considerar os fatores não recorrentes acima, haveria um crescimento real de 3,05% na arrecadação do período acumulado e um acréscimo real de 4,54% na arrecadação do mês de dezembro”, disse a secretaria.

O olhar por tributos mostra que o IRPF/CSLL foi o que mais caiu em volume, levando a perdas de R$ 46 bilhões, ou 8,99%. Além dele, outro tributo com forte queda foi o Imposto de Importação (II), com perdas de R$ 10,97 bilhões, ou 12,31%.

Por setores econômicos, o governo teve fortes perdas de arrecadação com a extração de minerais metálicos, uma redução de 58% ou R$ 21,85 bilhões. Com combustíveis, a diminuição de receitas chegou a R$ 16,85 bilhões, ou 16,47%.

— Houve um pico de arrecadação no setor de commodities nos últimos dois anos, por causa da pandemia, que distorceu essa base de comparação. Por isso, não vejo como queda, mas uma volta a patamares historicamente normais — afirmou o secretário da Receita, Robinson Barreirinhas.

A receita previdenciária totalizou R$ 620,32 bilhões, com crescimento real de 5%. O desempenho é explicado pelo crescimento real de 7,90%, da massa salarial.

Fundos exclusivos (super-ricos)

O aumento da arrecadação em dezembro teve influência de uma das medidas aprovadas pelo Congresso no ano passado, com apoio da equipe econômica. A tributação do regime come-cotas dos fundos exclusivos rendeu cerca de R$ 3,9 bilhões segundo o auditor fiscal Marcelo Gomide.

– Dezembro teve grande arrecadação relacionada ao capital, com acontecimento bastante especial, que foi lei 14.654, que é a das offshores e fundos de investimentos. Tivemos arrecadação do artigo 28 inciso primeiro, que trata da primeira parcela de tributação de 8%, e isso rendeu receitas de R$ 3,9 bilhões.

Segundo o chefe do Centro de Estudos Tributários, Claudemir Malaquias, a expectativa é de que em 2024 aconteçam mais três cobranças dos rendimentos sobre o rendimento acumulado nesses fundos exclusivos (super-ricos). Antes da promulgação da lei, só havia cobrança de impostos em caso de restage dos investimentos, agora, haverá tributações períodicas (come-cotas).

– Essa parcela de R$ 3,9 bilhões é a tributação do estoque, uma parcela, e não do fluxo. Uma parcela do estoque foi antecipada para 2023 para comensar a alteração da tabela do IRPF, que custou cerca de R$ 3,2 bilhões. A expectativa é de que as próximas parcelam rendam valores muito parecidos – afirmou Malaquias.

Esforço arrecadatório

Ao longo de todo o ano de 2023, o governo federal apresentou projetos para recompor a chamada “base fiscal”, que tem sido alvo de críticas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela redução de receitas que aconteceu ao longo do governo Jair Bolsonaro.

Mesmo com o crescimento da economia acima do previsto no início do ano, as receitas não subiram o esperado. Em parte, porque o crescimento da economia foi puxado pelo setor agropecuário, que tem pouca base de incidência de tributação.

Além disso, Haddad tem culpado uma decisão do STF, que tirou o ICMS da base de cálculo do PIS Cofins, na chamada “tese do século”, além das compensações tributárias, que têm crescido e tirado previsibilidade de técnicos da Receita, segundo o ministro.

Concursos: País abre maior número de vagas em 15 anos. Veja as oportunidades

A estabilidade no emprego e a chance de seguir uma carreira no serviço público com boa remuneração move milhões de brasileiros que se preparam para a retomada dos concursos pelo governo federal. O ano de 2024 começa com 9.116 novas vagas autorizadas, o maior número de postos abertos no Executivo desde 2009, quando a União selecionou 20,4 mil funcionários públicos, no segundo mandato do presidente Lula.

Além do Concurso Unificado: Nove seleções federais reúnem mais 12.320 vagas. Veja como se inscrever Concurso Nacional Unificado: Primeiro dia de inscrições vai encerrar com mais de 200 mil candidatos

Agora, cerca de 6,6 mil das novas posições serão preenchidas pelos aprovados no Concurso Nacional Unificado (CNU), que abriu inscrições na semana passada e aplica provas em 5 de maio. Mas a volta dos concursos após um longo período de poucas oportunidades ocorre num ambiente diferente do de 15 anos atrás.

Mudaram os conteúdos a serem avaliados e a dinâmica das provas, além da ampliação do acesso com a realização de provas em 220 cidades e taxas de inscrição acessíveis (R$ 90 para cargos de ensino superior e R$ 60 para os de ensino médio, com isenções sociais), o que acirra a concorrência. Essas inovações se tornaram o combustível de uma repaginação que o setor de cursos preparatórios foi obrigado a fazer em muito pouco tempo.

O levantamento de vagas, feito pelo GLOBO com base em dados do Ministério da Gestão e Inovação (MGI), não considera estatais como Petrobras e bancos públicos, que engordam a temporada de recrutamentos. A petroleira faz concurso para 6,4 mil vagas. A Caixa Econômica Federal vai selecionar 4 mil para as áreas de tecnologia e bancária.

Antes da reforma

Nesse intervalo de 15 anos, o menor número de abertura de vagas no setor público federal foi em 2019, no governo Bolsonaro, com 309 cargos autorizados para órgãos e entidades ligados à União. A gestão anterior chegou a propor uma Reforma Administrativa para conter os gastos com pessoal, mas a proposta não avançou. Os selecionados agora serão contratados antes de uma reforma alternativa, estudada pelo governo para otimizar a gestão pública. Como mostrou O GLOBO, estão na mesa propostas como redução do número de carreiras e salários iniciais mais baixos.

Com a autorização, os órgãos têm um cronograma para lançar edital e realizar as provas neste ano. A efetivação do servidor pode ficar para os anos seguintes, respeitando prazo legal. Só para as vagas das instituições e ministérios que aderiram ao CNU, o governo espera perto de 3 milhões de candidatos em todo o Brasil, com provas aplicadas de norte a sul do país. A lista de municípios vai de Pelotas (RS) a Breves, na Ilha do Marajó (PA). Os salários iniciais variam de R$ 4 mil a quase R$ 23 mil, e os servidores começam a ser convocados já em agosto.

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Para Antonio Batista, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (FURG) e especialista em administração pública, é natural que as mudanças provoquem um forte aumento da demanda nos cursos preparatórios. Mas, para ele, a adaptação aos conteúdos representa o maior desafio já enfrentado por essa indústria de concursos:

— Como as provas serão diferentes daquilo que se esperava, os diretores de cursinhos agora correm atrás de adequar o que faziam. O cenário discutido entre eles para serem atraentes aos alunos é sempre em caráter de urgência.

Aos 23 anos, Thiago Maia se prepara para o CNU pagando dois cursos, um presencial, em Brasília, e outro on-line.

— Vi nessa quantidade de vagas uma oportunidade boa de conseguir a estabilidade e a tranquilidade que já almejava — diz o jovem, que tentará vagas ligadas à saúde.

Assim como ele, em Brasília, onde vão trabalhar 30% dos aprovados no CNU, os concurseiros já estão em campo, preparando-se inclusive para seleções para as quais ainda não há datas marcadas, como as do Judiciário. Uma das mais aguardadas é a do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para a qual Luísa Veras, de 22 anos, estuda. Enquanto espera, decidiu também fazer o CNU:

— Estou animada com tantas vagas e oportunidades. Eu me surpreendi que áreas como Direitos Humanos e História do Brasil estejam na programação. Todos sairão do mesmo ponto de partida.

Partindo do zero

Essa é também a avaliação nos cursos preparatórios. Marcos Britto, diretor pedagógico do Degrau Concursos, avalia que o CNU tem atraído tanto os concurseiros profissionais (que estão em preparação contínua e vivem fazendo provas), quanto trabalhadores que nunca tinham pensado em seguir carreira pública, mas querem aproveitar a oportunidade.

Para Britto, as disciplinas novas fazem com que diferentes perfis de concorrentes saiam praticamente em condições iguais, já que todos precisarão começar do zero a revisão do conteúdo. A vantagem dos mais experientes é apenas já terem desenvolvido disciplina para estudar, diz:

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— A procura é de um público bem heterogêneo. Notamos aumento de 40% de alunos em comparação com janeiro de 2023. Já temos seis turmas presenciais para o CNU e estamos calculando abrir mais dez até o fim do período de inscrições (em 9 de fevereiro).

Professor de comportamento organizacional da FGV Ebape, Marco Túlio Zanini destaca que é preciso ter condições mínimas de preparação, como tempo disponível para estudar e renda para se manter:

— Quando um jovem de 30 anos abre mão da carreira no mercado para fazer concurso, isso tem de levantar um alerta. Nossa economia continua baseada em commodities e carente de indústrias de maior valor agregado que possam gerar vagas com salários mais altos.

Aryana Aragão, de 42 anos, trabalha numa agência de comunicação, mas se preocupa com empregabilidade na maturidade. Ela decidiu dedicar as noites, após o trabalho, aos estudos para o CNU em uma biblioteca pública de Brasília.

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— Quero mais estabilidade para o futuro. Quando estamos envelhecendo, pensamos mais nisso. Percebo que o mercado, na minha área, dá preferência aos mais jovens. Ao contrário de concursos anteriores, esse tem número maior de vagas na minha área — diz.

Além do Concurso Unificado

Além do Concurso Nacional Unificado outras nove seleções reúnem ainda mais chances:

Banco Central – Vai realizar um concurso para 300 vagas de analista: 150 (50 imediatas) na área de Economia e Finanças e 150 (50 imediatas) em Tecnologia da Informação. ANTT – No total, são oferecidas 220 vagas, sendo 50 imediatas e 170 destinadas à formação de um cadastro de reserva, todas voltadas para a carreira de especialista em regulação de transportes terrestres. Petrobras – Foram reabertas as inscrições para o concurso público que pretende preencher 6.412 vagas de nível médio e técnico, sendo 916 oportunidades de início imediato e 5.496 para a formação de um cadastro de reserva. Anvisa – Serão contratados 50 especialistas em Regulação e Vigilância Sanitária da Anvisa, formados em graduações de diversas áreas. CVM – São 20 chances para o cargo de inspetor e 40 para analista. A remuneração inicial será de R$ 20.924,80. Fiocruz – São oferecidas 300 vagas de nível superior, distribuídas para os cargos de tecnologista em saúde pública, analista de gestão em saúde e pesquisador em saúde pública. Casa da Moeda – O concurso tem 68 vagas de níveis médio e superior, com salários que variam entre R$ 3.749,70 e R$ 9.126,73. Inmetro – Estão disponíveis cem vagas imediatas nos cargos de pesquisador – tecnologista em metrologia e qualidade (60 chances) e analista executivo em metrologia e qualidade (40 postos). O processo seletivo vai também formar um cadastro de reserva, com 760 oportunidades (370 para pesquisador e 390 para analista). Caixa Econômica Federal – Ainda sem edital, o concurso foi confirmado com mais de quatro mil vagas, incluindo cadastro reserva. De nível médio, serão duas mil oportunidades para o cargo de técnico bancário novo e duas mil chances para técnico bancário novo para a área de Tecnologia da Informação (TI). Além disso, de nível superior, haverá 28 vagas para médicos do trabalho e 22 para engenheiros de segurança do trabalho.

Custo de R$ 2 bi por ano

Apenas as vagas abertas pelo CNU terão custo anual de R$ 2 bilhões por ano, de acordo com o governo.

— O ideal seria extrapolar esse impacto para anos à frente, mas isso só será possível com o marco fiscal de médio prazo (que consta no novo arcabouço fiscal) implementado, bem desenhado e calibrado — diz Vilma Pinto, diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado.

Para Gabriel Leal de Barros, sócio e economista-chefe da Ryo Asset, preocupa novos concursos serem feitos antes de uma reforma que revise a velocidade de progressão nas carreiras públicas, assim como os salários inicial e final:

— É amplamente conhecido e documentado que o salário de entrada é elevado e a progressão é desproporcionalmente calibrada, o que tem substancial impacto no equilíbrio fiscal.

Carla Beni, economista e professora de política fiscal da FGV, ressalta que faltam servidores em vários órgãos, prejudicando serviços públicos:

— Há uma ideia rasa e superficial sobre Reforma Administrativa, de que é para cortar cargos e salários. É para tornar o Estado mais eficiente.

O plano no governo é contratar mais nos próximos anos.

— As autorizações de concurso para os próximos períodos ainda estão em discussão. Nossa intenção é tentar (novas) autorizações para algo como 9 mil ou 10 mil novas vagas até 2026 — diz o secretário de Gestão de Pessoas do MGI, José Celso Cardoso.

*Estagiária sob supervisão de Janaina Lage

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“Temos protagonismo mundial”, diz diretor de Associação de Proteína Animal

O Brasil ampliou o seu próprio mercado de exportações de carne suína e de aves. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), foram exportadas 5 milhões de toneladas de frango e 1,2 milhão de toneladas de matéria de porco no ano passado. Na avaliação do diretor de relações institucionais da entidade, Marcelo Medina Osório, são necessários mais incentivos ao setor, que auxiliam na movimentação do mercado de trabalho. Ele foi o convidado do CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem. “Hoje, temos o protagonismo mundial nas exportações. O Brasil precisa valorizar o que temos de melhor que é essa produção”, disse.

Como a ABPA funciona? São quantos associados? Como é o papel dela no dia a dia da sociedade brasileira?

A ABPA representa o setor de aves e suínos do Brasil. Temos as agroindústrias, temos as empresas de genética, temos todos os players que envolvem o setor. Fechamos o ano passado com mais de US$ 12 bilhões de exportação, ou seja, praticamente US$ 1 bilhão por mês. É todo o setor da proteína mais acessível e mais consumida do mundo: aves, suínos e ovos.

O Brasil é líder na exportação de proteína animal, principalmente a carne de frango. Qual é a importância disso para a economia do país?

O papel do Brasil quando falamos de segurança alimentar, não fica só no país, que é bem desafiador. Hoje, temos participação no mercado global de proteínas muito significativo acima de 35% do mercado global de aves, por exemplo. A cada 10kg consumidos no mundo, 3,5kg são oriundos do Brasil. Temos um consumo per capita com um potencial de crescer muito, principalmente no suíno. A ABPA trabalha para seguir crescendo e seguir contribuindo na segurança alimentar tanto do Brasil como do planeta.

No Brasil, quais são as proteínas mais consumidas?

Temos a carne de aves — que produzimos 15 milhões de toneladas. Exportamos 5. Portanto, 10 milhões de toneladas ficaram no Brasil e é o consumo do dia a dia, que dá mais ou menos 46 quilos per capita. Recentemente, tivemos uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pedimos um reforço institucional do governo federal. Nada contra os nossos amigos da proteína bovina, mas é importante pedir um reforço no sentido de fomentar o consumo dessas carnes que são nobres, que são positivas e muito mais acessíveis.

A exportação de ovos é expressiva no Brasil?

É mais o mercado interno, o Brasil está iniciando. Hoje, é em torno de 1%. É pequeno, mas qualquer crescimento é significativo.

Como é a produção da proteína e esse fomento do desenvolvimento interno no Brasil?

Toda produção é muito interiorizada. Fica no interior do Paraná, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Goiás, do Distrito Federal, mas é importante, pois sempre gera empregos. É aquele frigorífico que emprega muitas pessoas. Um dos nossos desafios, dependendo do município, é que ele não dá conta de atender a demanda de um frigorífico. Então, eles terminam recorrendo às cidades vizinhas para atrair mão de obra. Recentemente, a Embrapa divulgou um estudo com dados da Firjan em que corrobora esse aumento de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] nas cidades em que há frigoríficos.

O senhor citou que um terço da produção trata de exportação. Quais são os nossos principais mercados? Onde há espaço para crescimento?

No caso das aves, produzimos 15 toneladas e são exportadas 5. Atualmente, o nosso grande mercado consumidor é a China. Depois, o mercado asiático e o árabe. A China tem uma relevância muito grande pela população, pelo consumo. Um grande desafio que tem sido uma pauta prioritária no nosso setor e do ministro Carlos Fávaro [Agricultura], é habilitar mais frigoríficos para a China, que tem um potencial de volume enorme.

O preço brasileiro é um diferencial?

É um desafio, eu diria, porque temos questões logísticas. O custo no Brasil nos preocupa muito. Esse é um outro ponto que o governo poderia nos ajudar mais, valorizando a indústria e fazendo com que ela fique mais competitiva.

A questão tributária é um desafio?

É extremamente importante. Somos um dos 17 setores que mais empregam no Brasil. No nosso entendimento, a desoneração é emprego na veia, deve ser mantida, foi uma decisão do Congresso. O ideal seria ter a desoneração para todos os setores da economia.

Estamos falando de quantos empregos?

Mais ou menos 500 mil empregos diretos, chão de fábrica, e mais de 4 milhões de trabalhos indiretos. Recentemente, fizemos uma pesquisa interna dos nossos associados, temos entre 20 e 25 mil vagas em aberto. Quando estamos falando de uma taxa de desemprego no país de 7%, 8%, o nosso setor pode contribuir para reduzir ainda mais.

O senhor citou que a questão tributária é um dos problemas que precisam ser enfrentados pelo governo federal e é uma demanda do setor? Quais são os entraves?

Eu não diria que beneficiou. Apoiamos a Reforma Tributária desde o começo, a ABPA sempre apoiou porque essas reformas são necessárias. Sempre dissemos que não queríamos mais benefícios, o que a gente quer é manter a carga atual. Acho que o texto aprovado foi muito bom e agora o foco é nas leis complementares. Colocar na lei complementar a inclusão das nossas proteínas na cesta básica, são proteínas acessíveis, por exemplo. São proteínas que têm que estar na cesta básica do brasileiro.

O que pode ser feito pelo governo, o que pode ser discutido para melhorar o setor e torná-lo ainda mais competitivo internacionalmente?

Boa parte dos nossos custos vêm da ração e basicamente do farelo de soja. Temos um cenário bastante estável apesar da seca. A previsão deste ano é de exportar muito mais. Esse é o nosso custo direto mais importante, mas há outros custos. Tem muito a ver com a pauta prioritária do governo Lula — que é o combate à fome — nós temos um desafio muito grande de reduzir desperdícios. Uma mudança simples e você pode reduzir drasticamente os desperdícios. Qualquer ajuste fino faz toda diferença no fim do dia.

Tem uma categoria que é importante para o fluxo de produção e comercialização da proteína animal que são os auditores fiscais agropecuários. Qual é a importância da valorização dessa categoria para o bom desenvolvimento do setor?

São eles que garantem toda produção, garantem a exportação, estão ali auditando todos os processos, se certificando que não há desvio de rota, desvio de conduta, uma parte processual. É uma categoria extremamente importante. O agronegócio, hoje, representa aproximadamente 30% do nosso PIB. Eu não vou só falar da proteína animal aves e suínos, mas o auditor fiscal controla as fronteiras, tem toda a parte de importação, todos os produtos vegetais. Essa categoria deveria ter um reconhecimento do governo federal. Por que tem diferença entre o auditor da Receita Federal e o auditor agropecuário federal? Estamos falando de saúde pública, de produto de consumo humano. Gostaríamos que essa categoria entrasse no plano de reestruturação do governo.

Quais são as expectativas para 2024?

O nosso grande desafio é manter o Brasil livre de gripe aviária nas granjas comerciais. Passamos por um teste fantástico, que nenhum outro país passou, que é conviver com a influenza somente em aves silvestres e blindar a nossa granja. Obviamente, também precisamos expandir os mercados e aumentar o consumo interno.

* Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino

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