Boletim Focus: mercado eleva projeções para inflação, PIB e câmbio em 2024

Economistas do mercado financeiro voltaram a elevar as suas projeções para a inflação, câmbio e para o crescimento da economia neste ano. A estimativa para os juros em 2026 também foi elevada. Segundo os dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (26/8) pelo Banco Central (BC), a expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4,22% para 4,25%, na sexta semana seguida de alta.

A previsão para a inflação de 2025, por sua vez, subiu de 3,91% para 3,93%. A projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, assim como para 2027, em 3,50%. A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e em 2025. A margem de tolerância para que ela seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

A piora nas expectativas de inflação acontece no momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom mais duro na ata de sua última reunião, sinalizando que pode haver aumento de juros, caso os indicadores econômicos mostrem que essa é uma solução necessária.

A projeção para a taxa básica de juros da economia (Selic) permaneceu estável em para 2024, em 10,50%, assim como para 2025, que ficou nos mesmos 10,0%. A projeção para 2026 subiu de 9,0% para 9,50% e taxa esperada para 2027 ficou inalterada, em 9,0%.

A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 também registrou alta, subindo de 2,23% para 2,43%. Por outro lado, a previsão para 2025, recuou de 1,89% para 1,86%. A estimativa para 2026 continua nos mesmos 2,0%. A projeção também está em 2,0% para 2027.

Em relação ao câmbio, a projeção para o dólar em 2024 subiu de R$ 5,31 para R$ 5,32. Para 2025, a estimativa permaneceu em R$ 5,30, assim como para 2026 e 2026, cuja projeção é de R$ 5,25.

%MCEPASTEBIN%

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Bombeiros indicam riscos aos banhistas e quais cuidados tomar, após tia e sobrinho morrerem tentando fazer selfie em cachoeira

Dá vontade de posar para eternizar o momento. As belas paisagens naturais ficam bem na foto. Uma selfie parece a melhor escolha, mas o “clique” pode ser perigoso. Descuidos, por mais breve que sejam, podem levar a acidentes e até à morte em locais que oferecem diferentes riscos, como de ferimentos e afogamentos. Aquela olhada rápida nas águas — seja de cachoeiras, rios e mares — pode enganar de que está tudo bem.

Vídeo: búfalo faz passeio à beira mar na Praia de Copacabana Vistoria anual substituirá troca de veículos: Táxis com mais de dez anos não precisarão mais serem trocados

É preciso atenção redobrada e seguir cuidados básicos — ou que já deveriam ser. Em áreas rochosas, em que há risco das pedras estarem úmidas, sapatos especiais reduzem os riscos de escorregar. Outro item que deveria estar à mão são os coletes salva-vida, normalmente ofertados apenas em embarcações.

Também é fundamental saber como agir em situações de perigo. Por exemplo, quando uma pessoa é levada pela onda do mar. Apesar da reação de tentar realizar o resgate, há um protocolo para a ajuda sem colocar mais pessoas em riscos.

O caso mais recente resultou na morte de Débora Mothe, de 43 anos, e de Romulo Lopes Cordeiro, de 16. Eles estavam em uma cachoeira na localidade de Morangaba, em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense do Rio. A tia teria se desequilibrado ao tentar tirar uma foto e o sobrinho tentou ajudá-la, também caindo.

Não atingiu metas: Pagamento de bônus de R$ 6,9 milhões para executivos da SuperVia é suspenso pela Justiça

O Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro indica os cuidados que devem ser adotados em diferentes espaços, como cachoeiras, costões, pedras e até nos mirantes. O órgão lançou, em 2022, a campanha “Sua vida vale mais que uma selfie” após o crescimento no número de casos, muitos resultando em morte, em que as pessoas se arriscam para fazer as imagens. Peças da campanha são divulgadas nas redes sociais oficiais dos bombeiros com vídeos para causar impacto.

O porta-voz do Corpo de Bombeiros do Rio, major Fábio Contreiras, fala dos principais cuidados ao visitar espaços naturais. Veja quais são:

1 – Conferir o tempo

Antes de ir para a cachoeira, confirmar e se certificar sobre a previsão do tempo, se não choveu no dia anterior ou se está chovendo em uma cidade próxima. A cachoeira faz parte de um rio, então, se há chuva em um local próximo, pode resultar no aumento do nível da água em todo o curso, o que pode acontecer a chamada “cabeça d’água”, em que as pessoas são surpreendidas em questão de segundos.

Deve-se estar atento ao redor. Como notar o aumento no número de folha, de galho e na quantidade de troncos. Outra coisa comum é a mudança na cor da água, que fica mais turva, além do aumento da correnteza. Pode ser fatal para há chance da pessoa ser arrastada e se afogar.

2 – Não pular das pedras

Embora possa parecer divertido, não se deve saltar das pedras altas mesmo que seja um visitante assíduo da cachoeira e julga já conhecer a profundidade. O risco de saltar de uma pedra muito alta é cair na água e colidir com uma pedra, um tronco, o relevo do solo no fundo. Não há visibilidade e, com o fluxo de água diário, é natural que troncos e outros materiais sejam deslocados. Acidentes assim podem causar lesões gravíssimas e até mesmo a morte, independente da posição em que salta.

3 – Evitar consumir bebida alcoólica

O equilíbrio e reflexo ficam prejudicados com a ingestão de bebida alcoólica. O consumo influencia no aumento dos acidentes tanto por afogamento como por queda. O indicado é não ingerir essas bebidas ao longo de todo o passeio.

4 – Não fazer fotos na ponta das pedras

O risco de queda é muito alto. O ideal é pedir que outras pessoas façam fotos suas. Os riscos de escorregar é muito grande. Naturalmente, as pedras são escorregadias, seja por acúmulo de musgo e de limo, ou pelo atrito constante com a água, que pode deixá-la mais lisa, isto é, menos ásperas, o que teria algum atrito.

5 – Calçados adequados

Aos aventureiros que querem caminhas em ambientes com pedras, é fundamental investir em calçados adequados para este tipo de solo. Tais modelos são propícios para caminhar e ficar nessa superfície. Eles são mais aderentes, geralmente, com um solado de borracha, e dão mais segurança para quem vai fazer esses passeios.

6 – Refluxo nas cachoeiras

Ficar longe das pedras centrais. O acidente pode acontecer por conta do fenômeno de um movimento de rodamoinho a partir da correnteza, que não é possível ser visto na superfície, e a pessoa é puxada para baixo. A pessoa fica onde parece um ralo. A força da água da correnteza acaba encontrando obstáculos, como as diversas pedras, em que se divide para contornar e, se a profundidade for alta, pode acontecer o refluxo e acaba levando a pessoa para o fundo. É preciso cuidado se a correnteza da cachoeira estiver forte. Deve-se evitar ficar perto das pedras que ficam no meio da correnteza. Os locais mais fundos devem ser evitados, já que os refluxos geralmente são formados no fundo da água.

7 – Colete salva-vidas

Um item de segurança que não faz parte (mas deveria) da vida dos banhistas é o colete salva-vidas, segundo o porta-voz dos Bombeiros é uma das dicas mais importantes. Para escolher um, é preciso ser uma das marcas homologadas pela Marinha do Brasil, que, na maioria das vezes, são feitos com espuma e têm certificado.

8 – Objetos flutuantes

Caso aconteça um acidente, com uma pessoa caindo na água, não se deve nadar até ela para tentar fazer o salvamento. O indicado é jogar um objeto flutuante, que pode ser uma boia, uma tampa de isopor. A pessoa deve se agarrar ao objeto e aguardar a chegada do socorro. O Corpo de Bombeiros, através do 193, deve ser acionado.

9 – Não tente fazer o resgate

Embora o impulso seja tentar ajudar entrando na água e nadando em direção à pessoaque está se afogando, esse não é o indicado. A depender do cenário (cabeça d’água, refluxo, ressaca, mar revolto, entre outros), ao tentar ajudar, pode se tornar uma segunda vítima. O indicado é seguir os passos descritos acima.

Mais recente Próxima Temperaturas de verão em pleno inverno provocam inflação dos preços nas praias do Rio

Eleição nos EUA: Kamala Harris é associada às liberdades; Trump, ao caos

Uma das atrações do terceiro dia da Convenção Nacional Democrata, na arena United Center, em Chicago, o ex-presidente Bill Clinton avisou que a escolha em 5 de novembro é muito clara: “Kamala Harris, ou o povo” contra “Eu, eu mesmo e eu”. Aos 78 anos, o 42º presidente dos Estados Unidos (1993-2001) subiu ao palco às 20h20 (22h20 em Brasília) de quarta-feira (21/8) e traçou um paralelo extremo entre ele e o republicano Donald Trump. Em uma noite focada na “luta pelas liberdades”, Clinton adotou a tática de elogiar a candidata Kamala e atacar o magnata, retratado durante todo o evento como uma “fraude”, ainda que de forma subliminar. “Trump ainda divide o povo e cria caos”, lembrou. Segundo ele, Kamala lutará pelas liberdades e “protegerá cada um que votar, seja nela ou não”.

“Não há um dia que passe sem que eu seja grato pela chance que o povo americano me deu de ser uma das 45 pessoas que ocuparam o cargo. Mesmo nos dias ruins, você ainda pode fazer algo bom acontecer. Kamala Harris é a única candidata nesta corrida com a visão, a experiência, o temperamento, a vontade e, sim — a pura alegria — para fazer isso nos dias bons e ruins. Ela será nossa voz”, declarou Clinton.

O penúltimo dia da Convenção também contou com os discursos de Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes, e de Tim Walz, governador de Minnesota e candidato a vice de Kamala, que encerrou o evento e aceitou a indicação. A noite desta quinta-feira reserva o momento mais esperado, com um discurso histórico de Kamala Harris para ser ungida oficialmente como candidata.

No palco do United Center, também falaram ativistas ligados ao planejamento familiar e à defesa do voto latino. O sargento Aquilino Gonnell, oficial ferido durante a invasão ao Capitólio por simpatizantes de Trump, em 6 de janeiro de 2021, prestou um depoimento comovente e pediu aos presentes que honrassem os policiais que se machucaram ou perderam a vida durante o ataque, após a exibição de um vídeo sobre os incidentes.

Professor de ciência política do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, pela sigla em inglês), Charles Stewart III admitiu ao Correio que a campanha democrata tenta evitar ataques que associem o republicano ao “síndrome do transtorno de Trump”. “Os ataques são muito sutis e visam sugerir que Trump não é como os norte-americanos normais e, por isso, não os compreende. Pelo contrário, Harris e Walz são pessoas normais, criadas na classe média, que simpatizam-se com as origens e as ambições das pessoas normais”, comentou. Para Stewart, em um país onde a influência da escolha do candidato a vice é superestimada, Walz completa a imagem de Kamala como uma pessoa normal e de classe média. “A diferença está no fato de ele prover de um contexto mais centro-americano.”

Obama

Na noite de terça-feira (20/8), Barack Obama energizou os delegados e emprestou o próprio slogan de campanha para pedir votos para Kamala, além de apelar à união em uma nação cada vez mais polarizada. “Os Estados Unidos estão prontos para um novo capítulo. Estamos preparados para a presidente Kamala Harris. E Kamala Harris está pronta para o trabalho. Sim, ela pode!”, declarou o ex-presidente, arrancando aplausos dos presentes. “Acredito que o que desejamos é voltar a um país no qual possamos trabalhar juntos.”

Barack Obama: “Já vimos este filme e sabemos que as sequências geralmente são piores”

Obama chamou Trump de “um bilionário de 78 anos que não para de reclamar de seus problemas desde que andou em sua escada rolante dourada, nove anos atrás”. Também afirmou que o magnata tem uma “bizarra obsessão pelo tamanho das multidões”. Antes de Barack, a ex-primeira-dama Michelle Obama alfinetou o republicano, em um claro apelo ao voto dos afroamericanos. “Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está procurando atualmente pode ser apenas um desses empregos para negros?”, questionou.

Em entrevista ao Correio, Alex Keyssar — professor de história e de política social da Universidade de Harvard — disse acreditar que o discurso de Obama servirá amplamente para energizar os democratas. “Duvido que mude a mente de qualquer eleitor de Trump, mas dará esperança aos democratas. Tão importante, talvez, foi seu apelo para que os democratas não fiquem excessivamente confiantes. O ex-presidente pediu-lhes que reconheçam que o país está muito dividido e que a eleição será acirrada.”

Por sua vez, Charles Stewart III avaliou que o pronunciamento de Obama foi muito bem recebido e rendeu ótima cobertura midiática para Kamala. “Seu comentário sobre a obsessão de Trump pelo tamanho de multidões, acompanhado pelos movimentos das mãos sugerindo duplo sentido, provavelmente vai viralizar.” “Nada realmente me surpreendeu. Foi um Obama tão focado e engajado quanto esperávamos.”

Donald Trump subiu ao palco do Museu da Aviação e Hall da Fama da Carolina do Norte, em Asheboro (Carolina do Norte), por volta das 14h10 desta quarta-feira (15h10 em Brasília) com uma preocupação: a segurança. O primeiro comício ao ar livre desde o atentado de 13 julho em Butler (Pensilvânia) contou com o reforço de lâminas de vidro à prova de bala. A 1,2 mil quilômetros dali, poucas horas depois, Chicago sediaria o terceiro dia da Convenção Nacional Democrata.

Donald Trump fala atrás de um vidro blindado, em Asheboro (Carolina do Norte): preocupação com a segurança, depois do atentado de 13 de julho

O evento, marcado por fortes discursos do ex-presidente Barack Obama e das ex-primeiras-damas Michelle Obama e Hillary Clinton, foi citado com deboche por Trump. “Eles mencionaram o meu nome 271 vezes, mencionaram a economia cerca de 20 vezes. Não falaram sobre a fronteira. Mas, me mencionaram como se fosse um verbete”, ironizou. Atrás nas pesquisas, o magnata republicano centrou sua retórica no medo. “Estamos muito próximos de uma Terceira Guerra Mundial, não brinquem com isso, e eles estão rindo”, alertou. “Se ganharem, teremos a Terceira Guerra. Cada americano estará seguro com Trump.”

De acordo com Trump, “Kamala é a pessoa mais radical de esquerda a disputar uma eleição”. Mais uma vez, ele fez advertências sobre uma eventual vitória democrata. “Em quatro anos, milhões de empregos desaparecerão da noite para o dia. A inflação destruirá por completo a nossa nação. As economias de toda uma vida serão varridas. Kamala vai destruir os EUA, assim como fez em São Francisco e na Califórnia. (…) Com a vitória de Trump, teremos novamente a maior economia da história”, declarou.

“Onde está Biden?”

Antes de discursar, o republicano recebeu momentaneamente mais de 30 policiais no palanque. Assim que os oficiais saíram, disse que sentia “muito melhor” sem eles. Trump não poupou o fato de o presidente Joe Biden gozar férias em um rancho na Califórnia. “Onde está Biden? Ele está na praia. (…) As pessoas não querem vê-lo de traje de banho”, disse.

Professor de ciência política da Universidade Estadual da Carolina do Norte, Steven Greene lembrou ao Correio que, nos Estados Unidos, existe um ditado segundo o qual ninguém deveria levar Trump a sério, a menos não literalmente. “Honestamente, ele tem se debatido desde que Kamala Harris saiu com grande impulso e começou a liderar pesquisas importantes. A disposição de Trump de dizer aparentemente qualquer coisa piorou ainda mais”, afirmou. “Na condição de americano e cientista político, estou muito preocupado com o discurso de Trump, que mina a confiança em nossas eleições e parece encorajar a violência. Mas isso me parece uma retórica hiperbólica de um candidato fracassado e frustrado, que não deveria ser levado a sério.”

Eric Heberlig, professor de ciência política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, considera que Trump adota uma “tática de intimidação”. “Ele pode estar jogando com dúvidas que alguns eleitores podem ter sobre uma mulher liderando a segurança nacional”, disse à reportagem. O estudioso concorda que a estratégia de Trump de impor medo é muito eficaz para motivar apoiadores. “A questão é o quanto isso funcionará com eleitores indecisos. Eles estão acostumados com o republicano usando esses tipos de mensagens. Podem descartá-lo como ‘Trump sendo Trump’.” (RC)

Steven Greene, professor de ciência política da Universidade Estadual da Carolina do Norte

“Como regra geral, assustar as pessoas para que o apoiem pode ser uma estratégia política eficiente. Mas, como qualquer coisa, pode ir longe demais. Nesse caso, ao fazer tantas declarações absurdas sobre Kamala Harris — especialmente aquelas que somente ressoarão com os mais fortes apoiadores do republicano —, Trump está deslegitimando amplamente sua própria mensagem.”

Steven Greene, professor de ciência política da Universidade Estadual da Carolina do Norte

” name=”Botão para direita” aria-label=”Botão para direita”>

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Artigo: desigualdade letal no DF

Raissa Rossiter*

A desigualdade no Distrito Federal é mais do que um conceito econômico. É uma realidade aviltante que impacta diariamente a vida de milhares de pessoas. Acompanhamos, consternados, a tragédia acontecida há poucos dias em Planaltina, onde cinco mulheres da mesma família — mãe e avó de 43 anos, filha e três netas — morreram em um incêndio em um barraco. Esse é mais um exemplo doloroso de como a desigualdade pode ser letal.

Em áreas de extrema pobreza, como em muitas ocupações irregulares do DF, as moradias são construídas com materiais improvisados, como papelão, lonas, madeiras e barras de ferro. Segundo a Secretaria DF Legal, existem 37 áreas no DF consideradas prioritárias para monitoramento devido ao alto risco de invasões e ocupações irregulares. Nessas áreas, a precariedade das condições de vida torna as tragédias praticamente inevitáveis.

O Mapa das Desigualdades do Distrito Federal de 2023, elaborado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), revela que as mulheres negras são as mais afetadas pela falta de moradia digna, enfrentando a insegurança habitacional e a ausência de saneamento básico. Essas mulheres, muitas vezes chefes de família, estão em maior risco de sofrer acidentes e desastres, como o que ocorreu em Planaltina.

Além das dificuldades habitacionais, o relatório do Inesc destaca as profundas disparidades de gênero e raça que permeiam a sociedade do Distrito Federal. Mulheres negras enfrentam índices elevados de violência, menor acesso a serviços de saúde e educação de qualidade, e estão subrepresentadas em posições de poder. A taxa de desemprego entre jovens negros de 18 a 24 anos é de 29%, comparada a 18% entre os jovens brancos.

As injustiças de gênero e raça se entrelaçam, criando um ciclo vicioso de exclusão que perpetua a pobreza e a violência. O Distrito Federal, unidade federativa que ocupa o quarto lugar em ranking de desigualdade do país, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2021, reflete essa realidade perversa em que as mulheres negras são as principais vítimas.

É especialmente paradoxal que, segundo dados do IBGE de 2022, o Distrito Federal tenha a maior renda domiciliar per capita do Brasil, superando todos os 26 Estados e exibindo o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país.

No entanto, a concentração de renda e a disparidade no acesso a serviços básicos, tornam o DF um dos lugares mais desiguais do Brasil, acentuando as dificuldades enfrentadas pelos grupos mais vulneráveis. Diante desses indicadores, como não refletir que essa situação de extrema desigualdade só pode ser enfrentada com medidas governamentais voltadas especificamente para aqueles que mais precisam?

A disparidade econômica no DF é também refletida de maneira gritante em sua configuração territorial. O Distrito Federal é composto por 35 regiões administrativas, todas dependentes do Governo do Distrito Federal.

Dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), da Codeplan, de 2021 mostram que essas regiões estão divididas em quatro “grupos de renda”, com a mais rica delas sendo a menos populosa.

Essa concentração de riqueza em regiões específicas, em contraste com a alta densidade populacional das áreas mais pobres, evidencia a necessidade urgente de políticas territoriais que abordem os contrastes regionais e promovam uma distribuição mais equitativa de recursos públicos e oportunidades.

O drama humano ocorrido em Planaltina é reflexo de um sistema que perpetua abismos sociais e econômicos e deixa as pessoas mais vulneráveis expostas a riscos desumanos. É urgente a implementação de políticas públicas que enfrentem situações de gritante injustiça social, considerando as múltiplas dimensões de gênero, raça, classe social e idade, entre outras.

A desigualdade no Distrito Federal não pode ser ignorada ou naturalizada. Cada vida perdida, cada sonho interrompido, é um lembrete da urgência de enfrentar essa realidade com políticas de reparação — dirigidas a regiões e grupos sociais mais vulneráveis — e ações concretas. O tempo para agir é agora.

*Socióloga, especialista em direitos das mulheres. Foi Secretária-Adjunta de Políticas para Mulheres, Direitos Humanos e Igualdade Racial do Distrito Federal.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Boletim Focus: mercado eleva projeções para inflação e PIB em 2024

Economistas do mercado financeiro voltaram a elevar as suas projeções para a inflação e para o crescimento da economia neste ano. Segundo os dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (19/8) pelo Banco Central (BC), a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 4,20% para 4,22%, na quinta semana seguida de alta.

A previsão para a inflação de 2025, por sua vez, caiu de 3,97% para 3,91%. A projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, assim como para 2027, em 3,50%. A meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3%, em 2024 e em 2025. A margem de tolerância para que ela seja considerada cumprida é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

A piora nas expectativas de inflação acontece no momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) adotou um tom mais duro na ata de sua última reunião, sinalizando que pode haver aumento de juros, caso os indicadores econômicos mostrem que essa é uma solução necessária.

A projeção para a taxa básica de juros da economia (Selic) permaneceu estável em para 2024, em 10,50%, mas voltou a subir, de 9,75% para 10,0% em 2025. Para 2026, foi mantida nos mesmos 9,0%, enquanto a taxa esperada para 2027 também permaneceu em 9,0%.

A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2024 também registrou alta, subindo de 2,20% para 2,23%. Por outro lado, a previsão para 2025, recuou de 1,92% para 1,89%. A estimativa para 2026 continua nos mesmos 2,0%. A projeção também está em 2,0% para 2027.

Em relação ao câmbio, a projeção para o dólar em 2024 subiu de R$ 5,30 para R$ 5,31. Para 2025, a estimativa permaneceu em R$ 5,30, assim como para 2026 e 2026, cuja projeção é de R$ 5,25.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Economia do Distrito Federal dá sinais de recuperação

A economia do Distrito Federal demonstrou um aquecimento econômico gradual no primeiro trimestre deste ano, de acordo com o Boletim de Conjuntura do Instituto de Pesquisa e Estatística (IPEDF), divulgado em julho. A pesquisa ressalta que os efeitos do acesso ao crédito e de cortes na taxa de juros impulsionaram os setores de comércio (+2,7%) e serviços (+5,2%) — crescimento no acumulado de 12 meses, até março de 2024 — o que ampliou a comercialização de bens duráveis e de consumo básico (confira o quadro).

Esse crescimento, de acordo com o levantamento, especialmente dos setores automobilístico e de eletrodomésticos, se deve ao aumento do rendimento médio dos brasilienses e à melhoria no acesso ao crédito pelas famílias, o que possibilita ampliação do consumo familiar. Além disso, a expansão das vendas, indo além dos bens de consumo básicos, condiz com o ciclo de cortes da taxa de juros e ancoragem de expectativas inflacionárias, verificadas até março deste ano.

Secretário de Economia do DF, Ney Ferraz ressalta que os estudos do IPEDF mostram que “estamos no caminho certo”, conduzindo bem a economia local. “Estamos investindo em obras, movimentando e estimulando vários segmentos da economia e o resultado disto é a criação de postos de trabalho”, analisa. “Também seguimos estreitando os laços com o setor produtivo e, sempre que possível, atendendo suas demandas, com o objetivo de gerar mais emprego e renda”, acrescenta Ferraz.

José Aparecido Freire, presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), destaca que o desempenho do setor de comércio e serviços no DF, no primeiro trimestre de 2024, demonstrou a solidez do setor produtivo e sua capacidade de recuperação. “Isso foi fruto da resiliência do nosso empreendedor/empresariado e da parceria entre o setor produtivo e o poder público, na busca pelo desenvolvimento econômico e social”, observa.

Presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindivarejista-DF), Sebastião Abritta comenta que o bom desempenho econômico está ligado à estabilidade dos preços de alguns produtos e à disponibilidade de empregos. “O comércio varejista está apresentando um crescimento. Em datas comemorativas, por exemplo, as vendas aumentaram nos últimos anos”, avalia.

Abritta ressalta que, com as perspectivas de redução de desemprego, o consumo deve continuar aumentando, pela segurança em conseguir assumir mais dívidas. “Emprego imediato traz consumo imediato. A cada ano que passa, estamos recuperando a economia, aos poucos”, comemora.

“Normalmente, para o varejo, o segundo semestre é melhor para o consumo, pois temos mais datas comemorativas, mais pagamentos ao trabalhador, além do fim de dívidas, como IPVA e IPTU. Então, se no primeiro trimestre os números foram bons, a expectativa é que a gente feche o ano com um belo superávit no comércio varejista”, pontua o presidente do Sindivarejista-DF.

Economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), César Bergo destaca que os números da economia do DF mostram que o setor de serviços continua sendo o carro-chefe. “Após a pandemia, ele recuperou o que havia perdido e tem dado sustentação à economia local”, afirma.

Um dos exemplos é Elis Fernandes. Proprietária de um salão de beleza no Cruzeiro há 20 anos, ela diz que está se restabelecendo aos poucos, depois da pandemia. Ela afirma que, desde o fim do ano passado, o setor tem vivido um dos melhores momentos. “Aqui, na loja, por exemplo, a gente vem inovando, trazendo novos serviços para o salão, como a terapia capilar, pois houve uma mudança no mercado e tivemos que nos readaptar a esse novo ciclo”, argumenta Elis. “Nos especializamos, por meio de cursos profissionalizantes, e a esperança é de que, com essa novidade, a gente consiga dar um ‘boom’ nos serviços para o fim do ano que se aproxima”, analisa.

Serviços na área da saúde também estão em alta no DF. A fisioterapeuta Cyntia Nathalia Magalhães é dona de uma clínica de pilates em Taguatinga e aponta uma melhora na clientela. “Teve, sim, uma melhora. Acredito que seja porque a população, como um todo, está tentando cuidar mais da saúde”, opina.

De acordo com o especialista César Bergo, outro setor que vem demonstrando crescimento constante é o comércio varejista, levado pelo consumo forte e a maior renda per capita dos moradores do DF. Vendedora de uma loja de cosméticos no Sudoeste, Kamilla Nunes concorda com o economista. “O mercado de cosméticos, de forma geral, tem melhorado bastante, tanto na clientela quanto nas vagas de emprego. Não demorei muito para conseguir um serviço quando procurei”, afirma.

Segundo Kamilla, 2024 tem sido o melhor ano para o setor, depois da pandemia. “Ainda mais agora, a partir de junho, sentimos que a procura tem sido maior pelos produtos, principalmente de autocuidado”, ressalta. A vendedora destaca que uma das coisas que ajudaram a alavancar o mercado dos cosméticos, foi algo herdado da própria pandemia. “A divulgação on-line contribui bastante para as vendas na loja”, diz.

Subgerente de um supermercado no Cruzeiro, Francisco Hugo Leite percebe uma melhora no consumo. “Depois da pandemia, a economia tem se reerguido. Os clientes estão voltando a fazer compras maiores e com mais frequência. Estamos sempre cheios”, aponta.

“Acredito que 2024 esteja sendo o melhor ano pós-covid. O movimento está bem melhor na loja. Até mesmo as compras on-line, que implantamos durante a pandemia, estão diminuindo, pois os clientes estão preferindo vir até o estabelecimento”, argumenta Hugo.

O economista César Bergo avalia que, apesar de os números do Boletim de Conjuntura falarem apenas do primeiro trimestre, a tendência para os próximos meses é de que a economia do DF continue crescendo e apresentando números positivos. “Temos uma inflação controlada, por isso, o desempenho no segundo semestre deve ser bom também, principalmente pelo potencial do setor de turismo, com a chegada dos eventos de fim de ano”, observa.

Comércio varejista ampliado (+6,2%)

Serviços (+5,6%)

*Crescimento em relação ao primeiro trimestre de 2023

Fonte: IPEDF

” name=”Botão para direita” aria-label=”Botão para direita”>

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

‘Traga a permissão por escrito do seu marido’: as duras leis que iranianas enfrentam para conseguir emprego

“Em uma entrevista de emprego, eles me pediram que levasse uma declaração por escrito do meu marido, para comprovar que eu tinha a permissão dele para trabalhar.”

Neda tem grau de mestrado em engenharia de petróleo e gás no Irã. Ao ouvir aquilo, ela conta que se sentiu humilhada.

“Respondi que sou adulta e tomo minhas próprias decisões.”

Sua experiência não é um caso isolado. Legalmente, as mulheres casadas no Irã precisam da autorização dos seus maridos para trabalhar. E esta é apenas uma das muitas barreiras legais que elas enfrentam quando querem entrar no mercado de trabalho.

Um relatório do Banco Mundial, publicado em 2024, classifica o Irã entre os piores lugares do mundo em relação às barreiras legais de gênero no mercado de trabalho. O país fica à frente apenas do Iêmen e da Cisjordânia/Faixa de Gaza.

Outras estatísticas confirmam esta situação. O recente relatório Global Gender Gap (“Disparidade de gênero global”, em tradução livre), publicado pelo Fórum Econômico Mundial em 2024, indica que o Irã tem o menor índice de participação das mulheres no mercado de trabalho, entre os 146 países pesquisados.

As mulheres representam mais de 50% das pessoas com formação universitária do país, mas elas compõem apenas 12% do mercado de trabalho, segundo dados de 2023.

As leis de gênero, o assédio sexual generalizado e as frequentes visões sexistas sobre as mulheres e suas habilidades tornam o ambiente de trabalho muito hostil para as mulheres.

Algumas empresas não querem contratar mulheres jovens e investir na formação delas se seus maridos não as deixarem ter uma carreira

A maior parte das mulheres com quem a BBC conversou para esta reportagem declararam que não se sentem levadas suficientemente a sério no trabalho.

“Diversas barreiras legais e culturais mantêm as mulheres fora do mercado de trabalho no Irã”, segundo a ex-consultora do Banco Mundial, Nadereh Chamlou.

Ela afirma que fatores como a falta de bases jurídicas e as limitações legais em vigor, além de uma enorme disparidade salarial de gênero e “um teto de vidro muito baixo”, contribuem para a limitada participação das mulheres no mercado de trabalho iraniano.

É legal… e cultural

Os homens sabem que, legalmente, podem impedir suas esposas de trabalhar – e alguns fazem uso deste privilégio legal.

O empresário iraniano Saeed contou à BBC que, certa vez, “um marido furioso irrompeu no nosso escritório, empunhando uma vara de metal no ar e gritando, ‘quem deu permissão para você contratar minha esposa?'”.

Ele conta que, agora, sempre pede a autorização do marido por escrito, antes de contratar uma mulher.

Razieh é um jovem profissional que trabalha em uma empresa privada. Ele relembra um incidente parecido, quando um homem furioso invadiu seu escritório e disse ao CEO (diretor-executivo): “Não quero a minha esposa trabalhando aqui.”

A mulher era uma contadora sênior. O CEO precisou dizer a ela “vá para casa e tente resolver as coisas com o seu marido”, segundo Razieh. “Caso contrário, a mulher precisaria se demitir, o que ela acabou fazendo.”

Esta legislação também faz com que muitas empresas se recusem a contratar mulheres jovens, segundo a consultora Chamlou. Ela afirma que os empregadores não querem “investir em treinar essas mulheres se, quando elas se casarem, seus maridos podem retirá-las do trabalho”.

E, mesmo se elas forem contratadas, muitas vezes depois de lutar contra suas próprias famílias e cônjuges para conseguir permissão para trabalhar, as mulheres irão enfrentar um mercado de trabalho em que a discriminação, até certo ponto, é legalizada.

As mulheres – aqui, trabalhando em uma fábrica de açafrão – não são consideradas as principais provedoras, de acordo com a lei iraniana

Um desses dispositivos é o artigo 1105 do Código Civil da República Islâmica do Irã, que define o marido como o chefe da família e o “principal provedor”. Em outras palavras, os homens são priorizados para conseguir emprego em detrimento das mulheres — e também se espera que elas trabalhem por uma fração do salário dos seus colegas homens, se conseguirem emprego.

Raz tem quase 30 anos de idade. Ela já teve vários empregos e conta que, em todos eles, os empregos das mulheres eram os primeiros a serem sacrificados.

“No último lugar em que trabalhei, quando havia uma reestruturação, quase todos os funcionários demitidos eram mulheres”, afirma ela.

Outra mulher, que pede para não ser identificada, contou à BBC que decidiu deixar o emprego depois de mais de uma década e ficar em casa “porque eu sabia que nunca conseguiria uma promoção”.

“Enquanto houvesse homens disponíveis, mesmo se fossem menos qualificados, eu nunca seria considerada para um aumento de salário ou promoção”, ela conta. “Era perda de tempo.”

O fato de que as mulheres, legalmente, não são consideradas provedoras do lar também prejudica sua qualificação para bônus e benefícios.

Em muitos casos, se elas tiverem direito, “os benefícios que elas acumulam ao longo dos seus anos de trabalho podem não se aplicar às suas famílias, como a sua pensão”, afirma Chamlou. “Com isso, eles reduzem os ganhos que as mulheres recebem pelo seu trabalho para levar para suas famílias.”

Os empregos no setor público nem sempre estão abertos a mulheres que não usam alguns dos modelos mais rigorosos de hijab

Sepideh tem mestrado em artes pela Universidade de Teerã, a capital iraniana. Ela costumava lecionar ali e realizar projetos de arte independentes, mas não trabalha há alguns anos.

“Depois da formatura, eu pensei que poderia simplesmente ganhar a vida, como muitos dos homens que conheci”, conta ela à BBC, “mas a estrutura social, política e econômica é projetada de tal forma que manter uma carreira adequada, para as mulheres, é um sonho inatingível.”

A lei sobre o uso obrigatório do hijab esteve no centro dos protestos generalizados no Irã dois anos atrás e continua a ser um dos principais temas de discórdia e dissidência política no país. A lei também determina que muitos empregos, particularmente no governo e no setor público, são inacessíveis para as mulheres que não se conformam com algumas das formas mais rigorosas de hijab.

A ‘intermediária faltante’

“No Irã, existe também o que chamo de ‘intermediária faltante'”, conta Nadereh Chamlou. São “mulheres de meia idade, de classe média, com educação intermediária, até o ensino médio, que não estão trabalhando”.

“A permissão legal dos maridos para trabalhar, além da idade de aposentadoria mais baixa para as mulheres no Irã, que é de 55 anos, afasta uma faixa de idade que, em outros países, normalmente está no mercado de trabalho”, explica ela.

Empresas abertas e administradas por mulheres ajudam outras a entrar no mercado de trabalho. Esta confeitaria de luxo em Teerã emprega 70 pessoas, a maioria mulheres

A economia iraniana está paralisada pelas sanções e pela má gestão.

Um relatório do FMI indica que o crescimento econômico está correlacionado à maior participação das mulheres no mercado de trabalho. O organismo estima que, se os índices de emprego feminino no Irã se equiparassem ao nível dos homens, o produto interno bruto (PIB) do país poderia aumentar em cerca de 40%.

Para Nadereh Chamlou, no momento, não existe “vontade política ativa ou consciente” que possibilite mudanças para trazer as mulheres para o mercado de trabalho no Irã. Mas ela acredita que as mulheres iranianas estão assumindo esta questão com as próprias mãos, criando pequenas empresas independentes para abrir o mercado de trabalho para elas.

“Algumas das ideias de negócios mais inovadoras, desde aplicativos de cozinha até plataformas digitais de varejo, foram criadas por mulheres”, explica ela. Chamlou observa que há um “verdadeiro setor privado no Irã”, composto principalmente por empresas de propriedade de mulheres.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

“Passei 30 anos xingando o Delfim Netto”, disse Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a elogiar, nesta quarta-feira (14/8) o ex-ministro Delfim Netto, morto na segunda-feira (12). O petista lembrou que passou “30 anos xingando” o economista, mas que ele o apoiou em seu primeiro mandato como presidente da República. Também voltou a citar que pediu desculpas publicamente ao ex-ministro.

O mandatário disse ainda que, na política, “às vezes a gente pega alguém de bode expiatório e fica xingando”, mesmo sem ter razão. Lula também citou a morte da também economista Maria da Conceição Tavares, e disse que o Brasil perdeu dois dos seus maiores nomes no debate sobre política econômica.

“Eu passei 30 anos da minha vida xingando o Delfim Netto. 30 anos. E quando eu virei presidente da República, em momentos muito difíceis, o principal economista de fora do meu partido que veio a defender o governo foi o Delfim Netto”, declarou Lula durante a abertura do evento Diálogos Capitais, em celebração dos 30 anos da revista Carta Capital, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O chefe do Executivo voltou a lembrar que pediu desculpas publicamente pelas críticas ao ex-ministro durante um comício em 2006, quando se reelegeu como presidente da República para seu segundo mandato. Disse ainda que algumas críticas foram justas e outras, injustas.

“Mas de vez em quando na política a gente pega alguém de bode expiatório e fica xingando, xingando, xingando, às vezes sem ter razão. E eu passei a ser um admirador, se não de tudo que o Delfim fazia na economia, eu passei a ser admirador da sagacidade, da inteligência e da esperteza do Delfim Netto. Da mesma forma que a Maria da Conceição Tavares”, afirmou ainda o presidente.

Delfim Netto foi um economista que ocupou uma série de ministérios em sua carreira política, como as pastas da Fazenda, Agricultura, e do Planejamento, atuando durante governos militares e na redemocratização. Foi um dos signatários do AI-5, ato mais duro de repressão durante a ditadura. Morreu na segunda-feira, aos 96 anos de idade.

Já Maria da Conceição Tavares também foi uma economista e professora, filiada ao Partido dos Trabalhadores, e ocupou o cargo de deputada federal entre 1995 e 1999 pela legenda. Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Morreu em 8 de julho deste ano, aos 94 anos.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

Análise: Delfim Netto foi um camaleão na política

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher esteve no Brasil em 1994, no governo Itamar Franco, quando o Plano Real ainda era um “experimento econômico”. Estava em pleno curso a transição à nova moeda, e o xis do problema era o comportamento da inflação. Thatcher fora convidada por Jorge Paulo Lemann, ainda dono do banco Garantia, que viria a ser vendido para o Credit Suisse, em 1998.

A Dama de Ferro lotou o auditório do Maksoud Plaza, um edifício de 23 andares na região central de São Paulo, que ainda era uma referência de tradição e glamour para artistas, celebridades e autoridades, cenário de novelas e palco de shows históricos. Thatcher tinha deixado de ser ministra havia quatro anos, mas era a principal referência para os que desejavam fazer a reforma do Estado brasileiro, com a privatização das empresas estatais, como ocorreria nos anos seguintes. O Brasil era a 10ª economia do mundo.

O petista Luiz Inácio Lula da Silva era o favorito nas eleições para presidente da República, mas começara a perder a eleição, por se recusar a apoiar o governo Itamar e apostar no fracasso do Plano Real, induzido pela economista Maria da Conceição Tavares. O ex-governador Orestes Quércia (PMDB), que havia deixado o Palácio dos Bandeirantes com um acervo de obras de infraestrutura, prometia um plano de metas inspirado em Juscelino Kubitschek. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-ministro da Fazenda, ungido candidato por Itamar, já tinha o apoio do antigo PFL e tentava esvaziar ou remover candidatos concorrentes. Um deles era Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo da antiga Arena, o então PDS (hoje PP), o candidato derrotado por Tancredo Neves, em 1985, no colégio eleitoral.

Abordei o ex-ministro Delfim Netto na saída da palestra de Thatcher: “Novidades?”. Um dos caciques do PDS, já deputado, Delfim me pegou pelo braço e sussurrou: “Na terça-feira, haverá uma reunião na casa do Maluf para retirar a candidatura dele e apoiar Fernando Henrique. Apareça por lá por volta das 11”. Os políticos da antiga Arena começavam a se mover em direção a Fernando Henrique, com medo de Lula e por adesão ao Plano Real.

Cheguei à redação crente que estava com a manchete do jornal. No aquário, o chefe de redação e o editor de política sorriram. “Daqui a pouco vamos entrevistar o Maluf”, disseram. Não deu outra, o ex-prefeito disse que a candidatura dele era irremovível. Mesmo assim, fui conferir: houve a reunião na terça-feira. Na saída, quando perguntei a Maluf se retiraria a candidatura, ele negou. Esperidião Amin (PP-SC), então presidente do PDS, também. Mas Delfim piscou o olho e sorriu. Liguei para ele. “Maluf vai desistir, pediu apenas para ter uma conversa com Fernando Henrique antes de anunciar”, confidenciou-me. Não deu outra.

Como “animal político”, Delfim Netto era um camaleão, capaz de transitar de uma posição para outra e se adaptar às circunstâncias, como artífice das conexões do grande empresariado paulista com o poder. Graças a isso, se manteve influente por tanto tempo, mesmo sendo um dos signatários do Ato Institucional nº 5, que institucionalizou o fascismo durante o regime militar.

“Eu estou plenamente de acordo com a proposição que está sendo analisada no Conselho. E, se Vossa Excelência me permitisse, direi mesmo que creio que ela não é suficiente”, o mesmo ministro que fez essa afirmação na reunião (gravada) de assinatura do decreto que lançou o país na sua maior escuridão política, mais tarde, seria aliado de Fernando Henrique Cardoso, fora afastado da Universidade de São Paulo, e conselheiro dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos perseguidos pelo regime militar.

Delfim Netto foi o mais jovem ministro da Fazenda a ocupar o cargo, aos 38 anos, quando assumiu a pasta, em 1967, e comandou a economia nos governos militares de Costa e Silva e Médici. Foi o pai do chamado “milagre econômico”, cuja estratégia teve como pilares a ampliação da presença do Estado na economia, o aumento das exportações e a captação de investimentos estrangeiros. Para justificar a concentração de renda, cunhou a frase famosa: “É preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”.

Após deixar o cargo na Fazenda, ocupou o posto de embaixador do Brasil na França, em 1975, durante o governo de Ernesto Geisel. No governo de João Figueiredo, assumiu o Ministério da Agricultura e, em seguida, o do Planejamento. Depois da redemocratização, foi eleito deputado federal por cinco mandatos consecutivos e permaneceu como figura de destaque nos meios econômico e político. O simples oportunismo não explica essa transversalidade política. Delfim foi um protagonista da “revolução passiva” da modernização brasileira, na qual o positivismo foi o caldo de cultura da direita e, depois, da esquerda. Delfim acreditava no Estado como principal indutor do progresso. Isso explica o seu camaleônico transformismo político.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram

O impacto do Estatuto da Segurança Privada para a população

CHICO VIGILANTE — Deputado distrital

Estamos prestes a testemunhar uma votação histórica no Congresso Nacional: a revisão do Estatuto da Segurança Privada. Essa atualização tão aguardada não apenas moderniza a legislação em vigor desde a década de 1980, mas também aborda questões cruciais que afetam diretamente a qualidade de vida dos cidadãos, a economia de um setor que movimenta cerca de R$ 30 bilhões anualmente e os direitos de mais de 3,5 milhões de vigilantes em todo o país.

Na prática, a aprovação do estatuto implicará regulamentação do setor e efetivo aumento da segurança para a população. Afinal, nos dias de hoje, infelizmente, muitas vezes, prevalece a prestação de serviços de segurança por empresas irregulares, a chamada “segurança clandestina”, colocando em risco diversas vidas.

Todos se lembram dos casos de abusos e violência cometidos por falsos vigilantes, oriundos da segurança clandestina, em supermercados e festas noturnas. Casos emblemáticos que, além de tudo, mancharam a imagem dos vigilantes legalizados. Com o estatuto, isso vai acabar e o trabalho será mais facilmente regulado pela Polícia Federal, que terá condições de coibir e penalizar quem está atuando de forma irregular.

Afinal, atualmente, o setor da segurança privada é regido pela Lei nº 7.102/1983, criada apenas para cuidar dos ambientes bancários. Sob esse arcabouço, a Polícia Federal tem sido obrigada a agir por meio de portarias, o que é insuficiente, uma vez que os donos de empresas clandestinas conseguem facilmente liminares para continuar funcionando e barbarizando o setor.

Com o novo estatuto, legaliza-se o funcionamento da vigilância em grandes eventos, estádios e presídios, além de outras atividades inerentes à proteção privada, com maior eficiência quanto ao trabalho de fiscalização da PF.

Outro ponto positivo diz respeito à ampliação do hall de atuação na segurança privada, criando novas oportunidades e novos espaços para a categoria dos vigilantes. Entre as novidades, estão previstas na lei atuações dos vigilantes, com armas de menor potencial ofensivo, em condomínios, em unidades de conservação, em acessos a aeroportos e portos, em muralhas de presídios, entre outros.

A questão da vigilância em agências bancárias e transporte de valores terá uma evolução considerável com a inclusão do monitoramento eletrônico pelos vigilantes. Tal situação implicará atualização e qualificação da classe trabalhadora para operar e se integrar à tecnologia utilizada.

Outro ponto relevante é a previsão de normas mais rigorosas para o treinamento e capacitação de vigilantes, visando não apenas aumentar a eficiência de suas atuações, mas também garantir que estejam aptos a lidar com as mais diversas situações de risco. A formação contínua será uma exigência, promovendo, assim, uma cultura de atualização e aprimoramento constante.

Além disso, o novo estatuto visa aumentar a transparência no setor, com a obrigatoriedade de certificações e auditorias regulares para as empresas de segurança. Isso não apenas protegerá os consumidores, mas também ajudará a manter um mercado competitivo e ético, eliminando práticas predatórias e garantindo que as melhores práticas sejam seguidas por todos.

Outro aspecto importante é a proteção dos direitos trabalhistas dos vigilantes. A nova legislação busca assegurar condições de trabalho justas e dignas, incluindo a regulamentação de jornadas de trabalho e o estabelecimento de normas claras para a remuneração e benefícios, garantindo, assim, o respeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores do setor.

Importante salientar que o estatuto propõe a criação de um conselho nacional de segurança privada, composto por representantes do governo, do setor privado e dos próprios vigilantes, para monitorar a implementação das novas regras e garantir que todos os interessados tenham voz no processo de regulamentação contínua.

Assim, ao modernizar e expandir a regulamentação do setor de segurança privada, o novo estatuto promete não apenas aumentar a segurança da população, mas também promover um ambiente mais justo e eficiente para todos os envolvidos. Com sua aprovação, o Brasil dará um passo significativo em direção a um futuro mais seguro e regulado, beneficiando tanto os cidadãos quanto os profissionais de segurança.

Sendo assim, diante do exposto, é imprescindível a aprovação célere do estatuto pelo Congresso Nacional, amanhã (13/8), assim como uma rápida sanção pelo presidente da República, uma vez que estão em jogo a segurança e o bem-estar da sociedade brasileira. Por outro lado, a modernização da legislação é um passo crucial para proteger os direitos dos vigilantes e estimular o crescimento econômico de um setor vital para o país. Tudo por um ambiente mais seguro e justo para todos. Vale a pena acompanhar de perto a repercussão dessa votação histórica.

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:

Receba notícias no WhatsApp

Receba notícias no Telegram