O Itaú não precisava ter usado o artifício da contabilidade criativa para inflar seu lucro. Ou precisava? Condenada a pagar uma multa de R$ 18,7 bilhões referentes a impostos não recolhidos por ocasião da fusão com o Unibanco, a instituição encontrou uma maneira esperta de mostrar ainda mais pujança para ofuscar a sanção aplicada pela Receita Federal. O banco só chegou ao lucro de R$ 15,7 bilhões em 2013, anunciado ontem, graças a uma inusitada e conveniente redução da provisão para créditos duvidosos. O colchão para empréstimos de difícil recuperação caiu de R$ 23 bilhões em 2012 para R$ 17 bilhões no balanço do ano passado, ou seja, um corte de 26%.
A reversão dos créditos duvidosos foi desproporcional. Diante dos níveis de inadimplência registrados em 2013, o padrão neste caso seria uma redução do total de provisões de apenas R$ 2 bilhões. Ainda assim, o Itaú teria um lucro para ninguém botar defeito. A rentabilidade sobre o patrimônio cairia de 23% para aproximadamente 17%, o que é um resultado para lá de auspicioso.
A artimanha contábil chama ainda mais a atenção por fugir do histórico conservadorismo dos Setúbal, conhecidos por adotar uma política de provisões para créditos duvidosos extremamente cautelosa. No fim das contas, se o objetivo era dar uma demonstração de força diante da multa bilionária aplicada pela Receita Federal, os controladores do Itaú acabaram revelando mais medo do que vigor. O recurso pode soar como uma atitude covarde frente aos compromissos que devem ser assumidos e honrados. Os Setúbal não precisavam manchar um balanço que, por si só, já seria espetacular. Melhor seria se o Itaú tivesse usado em seu demonstrativo números em consonância com a realidade.
Fonte: Relatório Reservado