O anúncio foi feito pelos quatro filhos do ex-presidente do Peru, por meio de comunicado à imprensa divulgado por volta das 18h30 desta quarta-feira, 11/9 (20h30 em Brasília). “Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de partir para o encontro com o Senhor. Pedimos àqueles que o estimaram que nos acompanhem com uma oração pelo descanso eterno de sua alma. Obrigado por tudo, papai”, escreveram Keiko, Hiro, Sachie e Kenji Fujimori. O Palácio do Governo informou que Fujimori será sepultado com honras de chefe de Estado, seguindo “estritamente os protocolos fixados pela chancelaria”.

Alberto Fujimori tinha 86 anos e travava uma batalha contra um câncer de língua, depois de ser libertado da prisão em dezembro passado, beneficiado por um indulto humanitário, após passar 16 anos no cárcere. Morreu na casa da família no distrito de San Borja, em Lima, onde esteve na companhia de Keiko, líder da Fuerza Popular (o maior partido de direita do país), e dos dez netos. Segundo o jornal peruano El Comercio, a saúde de Fujimori se deteriorou ao longo da última semana. Um padre foi chamado, na tarde desta quarta-feira, ao imóvel. Fujimori governou o Peru entre 1990 e 2000.

A última aparição pública de Fujimori ocorreu na quinta-feira passada (6/9), quando ele deixava uma clínica no bairro de Miraflores, na capital peruana, depois de ser submetido a uma tomografia. O ex-mandatário entra para a história como um líder condenado por violações dos direitos humanos e pelo fechamento do Congresso, em 5 de abril de 1992. Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade — os massacres de Barrios Altos e de La Cantuta. Este último caso envolveu a ação de um esquadrão da morte conhecido como Grupo Colina, um destacamento das Forças Armadas peruanas, que executou 15 pessoas, ao confundi-las com integrantes da organização terrorista Sendero Luminoso. Em 14 de julho, Keiko chegou a anunciar que o pai se candidataria à Presidência do Peru nas eleições de 2026.

Legado

Professor de relações internacionais da Pontifícia Universidad Católica del Perú, Oscar Vidarte Arévalos disse ao Correio que Fujimori foi um figura muito polarizadora. “É complexo avaliá-lo. Para alguns peruanos, o legado dele estará ligado aos sucessos durante o seu governo. Para outros, como é o meu caso, estará manchado de sangue e de corrupção”, afirmou. “Para alguns, ele será lembrado por ter derrotado o terrorismo (o grupo Sendero Luminoso), transformado a economia durante a difícil década de 1980 e assentado as bases políticas, econômicas e jurídicas do Peru.”

Arévalos destacou que Fujimori foi sentenciado por violações dos direitos humanos e corrupção. “Isso manchou completamente o seu governo. Ele implementou uma maneira de fazer política que creio ter sido nefasta.”

O cientista político peruano Jose Alejandro Godoy, especialista em fujimorismo, considera que Fujimori foi um político “polêmico” para os peruanos. “Foi um presidente que chegou como surpresa, em 1990, ao ganhar a disputa com o escritor Mario Vargas Llosa. Fez o que prometeu durante a campanha: um choque econômico, com reformas estruturais de mercado. Deu um golpe de Estado contra os mais pobres, em 1992, tornando-se autoritário”, avaliou.

Segundo Godoy, a popularidade de Fujimori esteve atrelada ao controle da inflação, à captura dos líderes terroristas do Sendero Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, e a uma política assistencialista. “Mas, durante seu governo, centenas de pessoas sofreram execuções extrajudiciais.” O estudioso lembrou que Fujimori ameaçou as instituições democráticas e criou um estilo autoritário baseado no controle da mídia. “Será lembrado como o primeiro líder peruano condenado por um tribunal e como o criador de um movimento político marcante (fujimorismo).”

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