O dólar abriu em queda nesta quarta-feira (11), com investidores à espera de dados de inflação dos Estados Unidos para calibrar expectativas sobre a taxa de juros norte-americana.
Às 9h04, a moeda caía 0,21%, a R$ 5,643 na venda, com o mercado também de olho nas repercussões do debate presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump. Na terça-feira, fechou em forte alta de 1,32%, aos R$ 5,653, e a Bolsa recuou 0,30%, aos 134.319 pontos.
A manhã reserva a divulgação dos números do PCE (índice de preços de consumo pessoal, na sigla em inglês), um dos indicadores de inflação mais monitorados pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar as decisões de política monetária.
A expectativa do mercado é grande. O dado, além de fornecer pistas sobre o estado da maior economia do mundo, poderá direcionar apostas sobre o tamanho do corte nos juros dos EUA, previsto para a reunião do Fed na semana que vem, entre os dias 17 e 18 de setembro.
A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado —o patamar mais restritivo em duas décadas.
O Fed trabalha com um mandato duplo, isto é, observa de perto os dados de inflação e emprego para decidir sobre os juros. O objetivo é atingir o chamado “pouso suave”, quando índices inflacionários convergem para a meta sem maiores danos ao mercado de trabalho do país.
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O relatório de emprego “payroll” (folha de pagamento, em inglês), divulgado na sexta, mostrou uma desaceleração ordenada e sem grandes deteriorações nas taxas de ocupação, mas não afastou por completo temores de recessão. Com o PCE em mãos, a previsão é de um consenso no tamanho da redução.
A aposta majoritária é de que será gradual: a probabilidade de que o comitê irá cortar os juros em 0,25 ponto percentual chegou a 67% na ferramenta FedWatch, enquanto a redução de maior magnitude, de 0,50 ponto, reúne 33%.
O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.
Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em julho, dirigentes do BC (Banco Central) têm reiterado que um novo ciclo de aperto está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, caso os dados macroeconômicos indiquem necessidade.
Folha Mercado
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Uma bateria de indicadores na semana passada reforçou a hipótese de que a Selic poderá subir no próximo encontro do Copom, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro. As projeções chegaram até ao Boletim Focus: economistas consultados pelo BC passaram a prever uma taxa de juros maior pela primeira vez desde que as discussões de uma nova alta começaram, em junho.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Na terça-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial do país, teve queda de 0,02% em agosto.
Foi a primeira deflação desde junho de 2023, quando a baixa havia sido de 0,08%. O mercado projetava leve variação positiva de 0,01%, de acordo com a agência Bloomberg.
Com os dados de agosto, o IPCA passou a registrar uma inflação menor, de 4,24%, no acumulado de 12 meses. É uma desaceleração ante a taxa de 4,5% até julho, quando estava no teto da meta trabalhada pelo BC.
A deflação, apesar de positiva, não foi o suficiente para reverter as projeções de alta na Selic até o final do ano.
“Apesar de acreditarmos que não faz sentido subir juros nesse contexto [de deflação], a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses terá maior peso sobre o processo decisório do Copom”, diz André Valério, economista-sênior do Inter.
É a mesma visão de Bruna Sene, analista da Rico Investimentos. Para ela, o IPCA pode não ser o suficiente para “mudar o racional de alta de 0,25 ponto da Selic, apenas enfraquece a possibilidade de 0,50 ponto” de aperto.
Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
No entanto, as dúvidas sobre a postura do Copom após os dados indicarem deflação ajudou o dólar a se valorizar na terça-feira. “O mercado estava colocando no preço que o diferencial de juros entre Brasil e EUA iria aumentar mais, com as apostas de aperto de 0,50 ponto sendo desmontadas agora”, explica Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital.
O dólar ainda se valorizou globalmente na terça diante de dados econômicos fracos vindos da China, além de uma maior cautela antes da divulgação do PCE amanhã.
As importações chinesas desaceleraram na base mensal em agosto, a 0,5%, ante avanço de 7,2% em julho. O resultado afetou os preços de commodities relevantes para a cena brasileira, como o petróleo e o minério de ferro, que voltaram a recuar diante de temores de redução na demanda da China, o maior importador de matérias-primas do mundo.
Com Reuters