Da Climate Week NYC à COP28, o Brasil está no palco de discussões críticas e urgentes sobre clima e economia. O recorde de participação brasileira durante a Climate Week NYC, que aconteceu em setembro, atesta o momento único para impulsionar as políticas de baixo carbono. Enquanto o mundo carece de uma liderança global, temos, finalmente, a possibilidade de alinhamento político para nos colocar como propositores de um resgate à boa diplomacia internacional.
Tem algo de bonito no entendimento dos países sobre a necessidade de ter políticas voltadas à neutralidade de carbono, mas é comum esquecer os riscos do enfraquecimento do multilateralismo.
Vejamos os impactos do Inflation Reduction Act (IRA), com investimento de US$ 1,8 trilhão —o maior pacote econômico nos EUA dos últimos 40 anos. Devemos aplaudir o gesto, que dedica quase US$ 600 bilhões à transição energética, mas vale observar que, pela perspectiva da justiça climática, a iniciativa pode representar um inconveniente para países como o Brasil.
Recentemente, cerca de 100 empresas de clean energy e clean tech forma fundadas nos EUA, representando US$ 90 bilhões em oportunidades para a economia local. O curioso é que apenas 40% delas são norte-americanas —as demais são corporações estrangeiras em migração, incluindo brasileiras. Ou seja, várias se realocaram para se beneficiar do pacote que traz incentivos reais rumo à transição energética. Por exemplo, um cidadão norte-americano que troca seu veículo por um de baixo consumo de carbono recebe incentivo de US$ 7.500. Na Europa, pela primeira vez na história recente, lançaram o pacote de incentivos fiscais European Green Deal, de US$ 1,6 trilhão. Com limitações econômicas e sociais, seria impossível uma resposta à altura dos países do chamado Sul Global.
Temos, portanto, um desafio econômico, não apenas climático. Como fazer para nivelar ou até reestabelecer as condições de competitividade internacional? Temos debatido tais temas durante os eventos econômicos e climáticos mais importantes do ano. São neles que os padrões internacionais são determinados —incluindo normas para acesso ao mercado internacional de carbono. Não podemos delegar essa competência para outras nações e precisamos participar dessa agenda com maior protagonismo, com ações conjuntas entre os países do Sul Global.
Recentemente, o Brasil anunciou seu Plano de Transformação Ecológica, um compromisso sério com a baixa emissão de carbono para setores como bioeconomia, mobilidade e finanças. O país também quer negociar com delegações estrangeiras para garantir sua posição na economia e na diplomacia global. Mas como acelerar a participação das corporações? Na Climate Week, a iniciativa privada se engajou de forma inédita em projetos focados na descarbonização.
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A COP28 se dá em um local e momento desafiadores e tem a segurança alimentar e energética como pilares centrais das discussões e acordos. Apesar dos desafios, o Brasil é a única grande economia que ainda tem a chance de se tornar carbono zero muito antes do limite de 2050 e dar um exemplo ao mundo no que tange à produção de alimentos e energia limpa. Diferentemente da maioria das nações, o país tem mais de 75% de sua matriz energética proveniente de fontes renováveis. Ao mesmo tempo, temos novos recordes de produção de alimentos, além de uma redução expressiva do desmatamento na Amazônia.
Nosso país tem expertise em biomassa e biocombustíveis, recursos que podem ajudar a reduzir o custo da transição global para a neutralidade de carbono.
Nesta COP, temos a chance de levar uma agenda uníssona do setor público, social e privado de um Brasil potência natural, celeiro de alimentos e de energia limpa para o mundo. Um Brasil com um norte claro para sair do padrão de crescimento médio e resolver problemas como desigualdades sociais e injustiças climáticas. Vamos pautar não somente a agenda nacional, mas também a global rumo ao G20 e à COP30, em Belém. Para isso, é preciso que todos participem desse debate urgente, mostrando que tanto a oportunidade como a emergência são reais.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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