O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse ontem que a adesão da empresa ao Refis — acordo de refinanciamento de tributos federais — em novembro de 2013 e que impactou os resultados da companhia, não vão continuar a interferir nos dados dos próximos balanços da mineradora em 2014. Ele afirmou que o efeito ‘negativo’ visto nos números apresentados são mais pela ótica contábil. Ferreira ressaltou que o impacto contábil foi totalmente absorvido no quarto trimestre e que os efeitos serão menores nos resultados subsequentes. De acordo com os dados divulgados pela companhia, o lucro da Vale foi de R$ 115 milhões em 2013, contra R$ 9,892 bilhões do ano anterior. Somente no quarto trimestre, o tombo foi de um prejuízo líquido de R$ 14, 8 bilhões, efeito da adesão ao Refis. Descontados estes itens não recorrentes, o lucro básico, como classificou a própria empresa, ficaria em R$ 26,7 bilhões em 2013 e de R$ 7,4 bilhões no quarto trimestre do ano passado.
“Estamos bastante motivados com a performance da companhia. Tivemos resultados sólidos e sucesso na estratégia de focar em nossos negócios principais, na redução de custos, deixando a empresa preparada para um crescimento sólido. Continuaremos também com a nossa política de pagamento de dividendos e ficamos muito satisfeitos pelo fato de os resultados da Vale terem sido muito bem apreciados pelo mercado”, completou Ferreira.
Roberto Altenhofen, da Empiricus, empresa de análise independente, destaca que “nunca é demais ressaltar que lucro é medida contábil”.
“ Tirando itens sem efeito caixa <CW-18>e não recorrentes, de adesão ao Refis e baixa contábil de ativos, o lucro ‘ajustado’ da companhia foi de R$ 7,4 bilhões no trimestre. Isso dá um crescimento de 91% na comparação contra o quarto trimestre de 2012”, diz. Para ele, quem olhou “de verdade” para a divulgação da Vale viu um resultado muito forte. “Com efeito líquido positivo de câmbio e escalada do preço do minério de ferro, a mineradora cresceu suas receitas em 21% e a geração de caixa operacional (Ebitda) em 65%. A melhor notícia dos resultados da Vale foi o enxugamento de custos e despesas, diminuição da estrutura. Adequação a uma realidade mais difícil”, acrescenta.
Lenon Borges, da corretora Ativa, resume que o balanço da Vale levou otimismo ao mercado.
“O prejuízo foi grande em termos contábeis, mas o que interessa para o mercado é o Ebitda, com geração de caixa e redução de despesas operacionais”.
Já Victor Penna, do BB Investimentos, destaca que a Vale será sustentada por bons fundamentos em 2014 sem a pressão da dívida junto ao Governo após a adesão ao Refis.
“O ano de 2014 será marcado pelo aumento de produção nos projetos de metais básicos e avanços nos investimentos de produção de minério”, acrescentou.
Quanto ao projeto Carnalita, em Sergipe, que vem sendo alvo de disputas políticas entre os prefeitos dos municípios de Capela e Japaratuba, Ferreira comentou que já está praticamente “virando um São Tomé” quando o assunto é o empreendimento, que tem investimentos de US$ 1,8 bilhão e visa a extração de 1,2 milhão de toneladas por ano da carnalita, uma rocha fundamental para a fabricação do potássio, elemento essencial para o mercado de fertilizantes, do qual o país é quase que totalmente dependente da importação.
Ou seja, o presidente da Vale quer ver para crer se o projeto sairá ou não do papel. Os dois municípios brigam pela arrecadação de ICMS. E o grande impasse entre as duas cidades é que a maior parte das minas de carnalita estão em Capela, mas, por questões de impacto ambiental, seria viável construir a fábrica em Japaratuba.
Ferreira, que esteve no Senado, em uma audiência com senadores, os prefeitos das cidades envolvidas e o governador do estado, descartou qualquer possibilidade de levar o assunto ao Conselho de Administração da companhia.
“Não faz sentido levar para o Conselho uma questão política. Estivemos no Senado e vimos que o prefeito de Capela — Ezequiel Leite (PR) — estava bastante agressivo. A Vale só irá para um estado em que for bem vinda. Não há visualização para este projeto no momento”, assinalou, acrescentando que pode colocar o projeto à venda .
Fonte: Brasil Econômico