A BP Plc se desculpou uma e outra vez pelo derramamento de petróleo no Golfo do México em 2010. Ultimamente, a empresa tem parecido ter menos arrependimento.
Confira “The Whole Story” (a história inteira). É um site operado pela empresa com sede em Londres que constantemente fala no que a BP chama de “desinformação” sobre a recuperação da região e questões legais quanto ao derramamento de 500 milhões de litros, o maior da história dos EUA.
Recentemente, a BP dedicou 525 palavras ao que denominou “base científica questionável” de um estudo feito pelo oceanógrafo Jeff Chanton sobre um mistério ainda não resolvido: O que aconteceu com o petróleo bruto que nunca chegou até o litoral? A conclusão do científico: até 5 por cento do petróleo vazado do poço Macondo foi parar no fundo do golfo, com potencial para prejudicar o ecossistema durante anos.
O estudo foi “problemático em muitos aspectos”, segundo o site da BP. Chanton não demonstrou que os sedimentos que utilizou como amostra tivessem ligação direta com Macondo e não se tratasse de petróleo filtrado naturalmente do fundo do mar, segundo o relatório da BP.
O site aborda uma ampla gama de questões ligadas ao derramamento. Entre elas estão as pesquisas que, em muitos casos, a BP pagou por meio de uma iniciativa que a empresa financia, mas não controla de nenhuma maneira. O acesso ao fundo de US$ 500 milhões é determinado exclusivamente por um painel independente de acadêmicos, nomeados mediante discussões com a Casa Branca, os governos dos estados no Golfo e a BP.
A pesquisa de Chanton é um dos estudos pagos por aquele fundo. O oceanógrafo, professor da Universidade Estadual da Flórida em Tallahassee, diz manter-se fiel à metodologia que empregou para o estudo, que foi publicado na revista acadêmica Environmental Science Technology, onde foi avaliado pelos colegas.
Desinformação
“Ainda persiste a desinformação sobre a recuperação do Golfo”, disse Geoff Morrell, vice-presidente sênior de comunicações e assuntos externos da BP nos EUA, falando em geral. “Grupos de ativistas escolhem fatos específicos e distorcem estudos para montar um cenário incompleto e impreciso. Isto cria uma perspectiva estreita e unilateral, na qual se costuma ignorar os estudos que demonstram que o Golfo está se recuperando”.
À medida que o quinto aniversário do derramamento se aproxima, a BP está organizando uma campanha pública para promover a ideia de que o golfo se recuperou em grande parte. As declarações públicas da empresa adotaram um tom mais próximo do enfrentamento litigioso do que da postura conciliatória que a empresa tomou imediatamente depois da explosão do poço, que matou 11 homens e sujou praias em todo o litoral do Golfo, do Texas até a Flórida.
O braço mais combativo é The Whole Story, onde em mais de 80 publicações, a BP atacou pesquisas e informes da mídia que segundo a empresa acredita sobredimensionam as ameaças do derramamento ao golfo. O site foi aberto em outubro de 2013, quando as negociações para evitar ações judiciais com os EUA e os estados afetados fracassaram.
Exxon
A abordagem da BP se parece um pouco aos esforços da Exxon Mobil Corp. para minimizar os estragos à imagem e às finanças depois que o navio-tanque Valdez jogasse mais de 38,46 milhões de litros de petróleo na Enseada do Príncipe Guilherme, no Alasca, em 1989. A Exxon chegou aos extremos de perseguir um bote cheio de pesquisadores do governo em um navio de cruzeiro e requisitar milhares dos seus registros, segundo o livro “Private Empire”, publicado em 2012 por Steve Coll.
A Exxon acabou pagando cerca de US$ 2 bilhões pela limpeza e concordou em pagar cerca de US$ 1 bilhão em penalidades criminais e civis aos EUA e ao Alasca, segundo o Exxon Valdez Oil Spill Trustee Council. Ajustando pela inflação e considerando cerca de US$ 1,4 bilhão pago pela Exxon a demandantes particulares, a BP pagará de seis a oito vezes o desembolsado pela Exxon. Estima-se que a quantidade de petróleo derramado em Macondo seja de cerca de 10 vezes a mais do que a vazada pelo Valdez.
Morrell da BP cristalizou o pensamento por trás da abordagem de relações públicas em um discurso pronunciado frente a jornalistas ambientalistas em outubro. Ele disse que “as previsões apocalípticas da morte do Golfo, da economia do litoral, de fato, da forma de vida única daqui, não se cumpriram”.
Fonte: Uol