Em mais uma “superquarta” de decisões dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, Comitê de Política Monetária (Copom) e Federal Open Marketing Comittee (Fomc), respectivamente, foi confirmada, ontem, de forma unânime, a manutenção dos juros básicos tanto aqui quanto na terra do Tio Sam, como esperado pelo mercado.

Nos EUA, o Federal Reserve (Fed) manteve a taxa básica dos títulos do Tesouro norte-americano no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano pela oitava reunião consecutiva. Após a reunião do comitê, o presidente do Fed, Jerome Powell, confirmou a possibilidade de o ciclo de queda dos juros começar na próxima reunião, nos dias 17 e 18 de setembro — mesmo dia da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro.

A confirmação de que os juros norte -americanos podem cair no curto prazo animou os investidores no mercado de ações do país no mercado interno e externo. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3), por exemplo, fechou com alta de 1,2%, para 127.651 pontos.

No comunicado, após divulgar a manutenção da taxa básica da economia (Selic) em 10,50% ao ano, o Copom reforçou que o cenários internos e externos demanda “cautela” e manteve a preocupação com a piora do quadro fiscal — mesmo após o governo ter publicado o decreto com um corte de R$ 15 bilhões nas despesas do Orçamento deste ano. A medida é considerada insuficiente para o cumprimento da meta fiscal e do novo arcabouço, de acordo com especialistas em contas públicas.

O colegiado afirmou na nota que segue monitorando “com atenção” como os desenvolvimentos recentes da política fiscal e reafirmou a importância de uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribuir na condução da política monetária, ancorando as expectativas de inflação e reduzindo dos prêmios de risco dos ativos financeiros.

O documento reafirmou que a política monetária “deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta”, de 3% ao ano. “O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, acrescentou.

Reações

Logo após o término da reunião do Copom, entidades empresariais também comentaram o assunto. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lamentou a decisão e a classificou como “preocupante”. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) ainda ressaltou que a manutenção da taxa Selic “reflete o cenário atual de incertezas econômicas e pressões inflacionárias”. Para a entidade, “o principal entrave para a retomada sustentável do ciclo de cortes de juros é a incerteza quanto ao equilíbrio das contas públicas”. “Embora o recente anúncio de congelamento no Orçamento de 2024 tenha gerado certo alívio, a ausência de uma agenda estrutural de corte de gastos eleva o risco-país, desvaloriza a moeda local e deteriora as expectativas inflacionárias”, acrescentou a nota.

O economista-chefe do Banco Daycoval, Rafael Cardoso, avaliou que o Copom foi mais duro do que o esperado e, mesmo com o Fed sinalizando que poderá reduzir os juros na próxima reunião, os diretores do BC brasileiro ainda deixaram a porta aberta para uma possível alta da Selic. Na avaliação dele, em grande parte, isso ocorre devido ao cenários doméstico e externo adversos, além do fato de o mercado de trabalho estar mais aquecido do que o esperado, o que também gera pressões inflacionárias.

“No comunicado, o BC coloca a ideia de que, eventualmente, o cenário de subir os juros não é desprezível. Ainda não é o nosso cenário base, porque vai depender dos acontecimentos futuros, mas a comunicação do Copom deixa a porta aberta para a alta da Selic”, afirmou. Ele lembrou que, pelas projeções do Banco Central, no cenário alternativo, uma Selic a 10,50% não é suficiente para que a inflação volte para o centro da meta (de 3%) neste ano e em 2025. “E, por isso, o BC pode, eventualmente, ter aberto essa porta caso precise voltar a subir a taxa de juros”, explicou.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, destacou que o cenário tende a continuar mais turbulento para 2025 e 2026. “Isso já vai dificultar a atuação do Banco Central e justifica a manutenção da Selic em 10,50% durante bastante tempo. O próximo movimento de mudança nos juros, provavelmente, vai demorar para acontecer e não deve ocorrer neste ano, que tem eleições nos Estados Unidos e uma possível recessão no país norte-americano”, afirmou.

O economista da MB acredita que, como a probabilidade de queda da Selic é muito pequena, os juros no Brasil devem continuar ao redor dos 10% ao ano ao longo dos próximos dois anos e meio.”É esse o cenário de Selic que temos hoje e ao longo do mandato do atual governo Lula, com risco de ele continuar reclamando dos juros o tempo inteiro, sem fazer o trabalho necessário para resolver a questão fiscal, que é o grande nó e a grande dificuldade para o BC conseguir baixar a taxa de juros neste momento”, frisou Vale.

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