Quem observa a oposição às cotas raciais nas universidades e no serviço público é capaz de pensar que o Brasil nunca adotou cotas anteriormente. Errado. O difícil é encontrar alguém que não tenha tido um ancestral cotista entre a nossa população branca.
Não é segredo a adoção de políticas de ação afirmativa (como doação de terras) para estimular a imigração de europeus (a começar por italianos e alemães). Para desbravar o mundo novo e embranquecer o território enegrecido pela exploração dos escravizados africanos, foram distribuídos subsídios diversos.
Contudo, avançando nos séculos, antes da aprovação da Lei de Cotas, em 2012, nunca havia sido implementada uma política de inclusão social voltada à população negra.
Cotas raciais têm a ver com a promoção de uma competição justa entre candidatos que enfrentaram uma série de dificuldades que extrapolam em muito (infelizmente) a baixa qualidade do ensino ao qual tiveram acesso.
E, ao contrário da propaganda falaciosa, nunca tiveram nada a ver com exclusão do mérito. Não neste país de maioria negra, onde os excluídos são também majoritariamente pretos e pardos.
Então, considerando que todos os outros tiveram sua vez de receber incentivos, por que a adoção de medidas compensatórias para negros, quilombolas e indígenas incomoda tanta gente?
Particularmente, só encontro explicação ligada ao racismo. E foi a partir dessa perspectiva que olhei para o resultado da Datafolha apontando apoio de 83% a cotas no ensino superior, mas oposição de 56% ao atual modelo e de 41% ao critério racial.
Tenho extrema dificuldade de entender como é que parte considerável dos brasileiros não se rende ao fato de que (contrariando o bordão da época da ditadura) este é um país que não vai para a frente se continuar perpetuando a desigualdade racial.
Como disse o jornalista Laurentino Gomes, autor da trilogia “Escravidão”, “o enfrentamento da herança da escravidão deveria partir do Brasil branco”.