O Brasil ampliou o seu próprio mercado de exportações de carne suína e de aves. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), foram exportadas 5 milhões de toneladas de frango e 1,2 milhão de toneladas de matéria de porco no ano passado. Na avaliação do diretor de relações institucionais da entidade, Marcelo Medina Osório, são necessários mais incentivos ao setor, que auxiliam na movimentação do mercado de trabalho. Ele foi o convidado do CB.Agro — parceria entre o Correio e a TV Brasília — de ontem. “Hoje, temos o protagonismo mundial nas exportações. O Brasil precisa valorizar o que temos de melhor que é essa produção”, disse.

Como a ABPA funciona? São quantos associados? Como é o papel dela no dia a dia da sociedade brasileira?

A ABPA representa o setor de aves e suínos do Brasil. Temos as agroindústrias, temos as empresas de genética, temos todos os players que envolvem o setor. Fechamos o ano passado com mais de US$ 12 bilhões de exportação, ou seja, praticamente US$ 1 bilhão por mês. É todo o setor da proteína mais acessível e mais consumida do mundo: aves, suínos e ovos.

O Brasil é líder na exportação de proteína animal, principalmente a carne de frango. Qual é a importância disso para a economia do país?

O papel do Brasil quando falamos de segurança alimentar, não fica só no país, que é bem desafiador. Hoje, temos participação no mercado global de proteínas muito significativo acima de 35% do mercado global de aves, por exemplo. A cada 10kg consumidos no mundo, 3,5kg são oriundos do Brasil. Temos um consumo per capita com um potencial de crescer muito, principalmente no suíno. A ABPA trabalha para seguir crescendo e seguir contribuindo na segurança alimentar tanto do Brasil como do planeta.

No Brasil, quais são as proteínas mais consumidas?

Temos a carne de aves — que produzimos 15 milhões de toneladas. Exportamos 5. Portanto, 10 milhões de toneladas ficaram no Brasil e é o consumo do dia a dia, que dá mais ou menos 46 quilos per capita. Recentemente, tivemos uma audiência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pedimos um reforço institucional do governo federal. Nada contra os nossos amigos da proteína bovina, mas é importante pedir um reforço no sentido de fomentar o consumo dessas carnes que são nobres, que são positivas e muito mais acessíveis.

A exportação de ovos é expressiva no Brasil?

É mais o mercado interno, o Brasil está iniciando. Hoje, é em torno de 1%. É pequeno, mas qualquer crescimento é significativo.

Como é a produção da proteína e esse fomento do desenvolvimento interno no Brasil?

Toda produção é muito interiorizada. Fica no interior do Paraná, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de Goiás, do Distrito Federal, mas é importante, pois sempre gera empregos. É aquele frigorífico que emprega muitas pessoas. Um dos nossos desafios, dependendo do município, é que ele não dá conta de atender a demanda de um frigorífico. Então, eles terminam recorrendo às cidades vizinhas para atrair mão de obra. Recentemente, a Embrapa divulgou um estudo com dados da Firjan em que corrobora esse aumento de IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] nas cidades em que há frigoríficos.

O senhor citou que um terço da produção trata de exportação. Quais são os nossos principais mercados? Onde há espaço para crescimento?

No caso das aves, produzimos 15 toneladas e são exportadas 5. Atualmente, o nosso grande mercado consumidor é a China. Depois, o mercado asiático e o árabe. A China tem uma relevância muito grande pela população, pelo consumo. Um grande desafio que tem sido uma pauta prioritária no nosso setor e do ministro Carlos Fávaro [Agricultura], é habilitar mais frigoríficos para a China, que tem um potencial de volume enorme.

O preço brasileiro é um diferencial?

É um desafio, eu diria, porque temos questões logísticas. O custo no Brasil nos preocupa muito. Esse é um outro ponto que o governo poderia nos ajudar mais, valorizando a indústria e fazendo com que ela fique mais competitiva.

A questão tributária é um desafio?

É extremamente importante. Somos um dos 17 setores que mais empregam no Brasil. No nosso entendimento, a desoneração é emprego na veia, deve ser mantida, foi uma decisão do Congresso. O ideal seria ter a desoneração para todos os setores da economia.

Estamos falando de quantos empregos?

Mais ou menos 500 mil empregos diretos, chão de fábrica, e mais de 4 milhões de trabalhos indiretos. Recentemente, fizemos uma pesquisa interna dos nossos associados, temos entre 20 e 25 mil vagas em aberto. Quando estamos falando de uma taxa de desemprego no país de 7%, 8%, o nosso setor pode contribuir para reduzir ainda mais.

O senhor citou que a questão tributária é um dos problemas que precisam ser enfrentados pelo governo federal e é uma demanda do setor? Quais são os entraves?

Eu não diria que beneficiou. Apoiamos a Reforma Tributária desde o começo, a ABPA sempre apoiou porque essas reformas são necessárias. Sempre dissemos que não queríamos mais benefícios, o que a gente quer é manter a carga atual. Acho que o texto aprovado foi muito bom e agora o foco é nas leis complementares. Colocar na lei complementar a inclusão das nossas proteínas na cesta básica, são proteínas acessíveis, por exemplo. São proteínas que têm que estar na cesta básica do brasileiro.

O que pode ser feito pelo governo, o que pode ser discutido para melhorar o setor e torná-lo ainda mais competitivo internacionalmente?

Boa parte dos nossos custos vêm da ração e basicamente do farelo de soja. Temos um cenário bastante estável apesar da seca. A previsão deste ano é de exportar muito mais. Esse é o nosso custo direto mais importante, mas há outros custos. Tem muito a ver com a pauta prioritária do governo Lula — que é o combate à fome — nós temos um desafio muito grande de reduzir desperdícios. Uma mudança simples e você pode reduzir drasticamente os desperdícios. Qualquer ajuste fino faz toda diferença no fim do dia.

Tem uma categoria que é importante para o fluxo de produção e comercialização da proteína animal que são os auditores fiscais agropecuários. Qual é a importância da valorização dessa categoria para o bom desenvolvimento do setor?

São eles que garantem toda produção, garantem a exportação, estão ali auditando todos os processos, se certificando que não há desvio de rota, desvio de conduta, uma parte processual. É uma categoria extremamente importante. O agronegócio, hoje, representa aproximadamente 30% do nosso PIB. Eu não vou só falar da proteína animal aves e suínos, mas o auditor fiscal controla as fronteiras, tem toda a parte de importação, todos os produtos vegetais. Essa categoria deveria ter um reconhecimento do governo federal. Por que tem diferença entre o auditor da Receita Federal e o auditor agropecuário federal? Estamos falando de saúde pública, de produto de consumo humano. Gostaríamos que essa categoria entrasse no plano de reestruturação do governo.

Quais são as expectativas para 2024?

O nosso grande desafio é manter o Brasil livre de gripe aviária nas granjas comerciais. Passamos por um teste fantástico, que nenhum outro país passou, que é conviver com a influenza somente em aves silvestres e blindar a nossa granja. Obviamente, também precisamos expandir os mercados e aumentar o consumo interno.

* Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino

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