Na segunda metade do ano, o mercado de capitais no Brasil ressuscitou. É importante. Trata-se do atacadão de dinheiro, onde as empresas tomam o que grosso modo são empréstimos por meio de títulos de dívida privada (como debêntures) e vendem novas ações.

Lá arrumam recursos a fim de expandir suas atividades ou arrumar suas contas, tentando melhorar suas dívidas (alongar prazos, pagar taxas de juros menores).

Se as empresas têm confiança de levantar dinheiro e encontram investidores dispostos a fazer negócio, é um indício de que a economia pode vir a crescer mais.

O primeiro semestre de 2023 havia sido o pior desde 2018, desde que há dados públicos disponíveis e desde quando o mercado de capitais começou a se tornar mais relevante no país.

Em janeiro de 2023, como se sabe, se teve notícia da lambança criminosa no balanço das Americanas. Pouco depois ouviram-se também rumores de outros grandes pedidos de recuperação judicial e houve estranhezas, por assim dizer, em outros balanços. Falava-se de “credit crunch” (seca abrupta de crédito).

Não é possível cravar que o mutretaço da Americanas tenha sido o fator dominante do encolhimento do mercado de capitais. Havia outros motivos de medo.

No início do ano, estreava no Brasil um novo governo com política econômica ainda desconhecida.

A estimativa de crescimento do PIB era de um quase nada. As taxas de juros estavam em alturas ainda mais horríveis do que as de agora. Havia incerteza sobre o que seria de inflação e juros nos EUA e Europa. Em março, houve quebras de bancos nos Estados Unidos; foi à breca um bancão, o Credit Suisse.

O clima estava péssimo. No entanto, conversas com banqueiros graúdos e gestores de fundos de investimento (administradores de dinheiro grosso de terceiros) sugerem que o detonador da crise doméstica foram os crimes na Americanas.

É fácil perceber que o investidor vai para a retranca se não pode confiar em nada do que consta do balanço de uma empresa grande, com anos na praça e que tinha como donos mais importantes alguns dos maiores bilionários do planeta.

Mesmo os maiores bancos do país, que deveriam ser mais avisados, levaram um espeto de mais de R$ 14 bilhões.

Voltando à vaca fria, agora mais quentinha, o mercado de capitais passou a se recuperar a partir de junho.

Na primeira metade de 2023, o total de dinheiro levantado pelas empresas havia sido de R$ 154,1 bilhões. No segundo semestre, foi a R$ 309,6 bilhões.

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Uma virada considerável, embora, no total do ano, a captação tenha sido de R$ 463,7 bilhões, ante os R$ 544,8 bilhões de 2022, baixa de quase 15% (em valores nominais).

O mercado para a venda de novas ações (“IPOs”) está catatônico desde o fim de 2021, mas essa é outra história; há o zum-zum de que voltaria a brotar neste ano. Pelo menos, essa é a campanha enfática dos bancos de investimento.

Sem um mercado de capitais confiável, com muito dinheiro e com grande número de investidores e de negociações secundárias (revenda de papéis), o financiamento das empresas fica mais difícil.

Note-se que este mercado tem participação relevante de pessoas físicas (no caso de debêntures e instrumentos “híbridos”, pessoas físicas fizeram 20% dos negócios em 2023).

As punições para a bandalheira no mercado financeiro do Brasil, quando há, são pífias. Economistas muito falantes sobre “quebras de contratos” por parte do setor público saem de fininho quando há lambança gorda no setor privado, esbulho de direito de consumidor e desgraça enorme tal como a de milhares de trabalhadores que foram para o olho da rua, que foi o caso na Americanas.

Para haver um mercado confiável, mais gente precisa ir para a cadeia ou ser expulsa da praça financeira.

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