O Brasil encerrará o ano de 2023 muito melhor do que o previsto pela maioria dos especialistas. As projeções iniciais apontavam para o crescimento de apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), com inflação acima do teto da meta, de 4,75%. Os indicadores mais recentes, porém, sinalizam para avanço de 3% da economia, com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro dos objetivos estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Melhor: com o desemprego no nível mais baixo desde 2015, juros em queda, Bolsa de Valores com recorde histórico e uma reforma tributária aprovada pelo Congresso. Trata-se de um quadro promissor para um país com tanto por fazer.

A duas semanas de 2024, é de extrema importância que governo, Legislativo e setor privado não deixem escapar as oportunidades que estão colocadas. Desde o início do segundo semestre, o ritmo da atividade está mais lento, o que exigirá medidas mais efetivas para estimular, sobretudo, os investimentos produtivos. Essa será a principal alavanca para que, enfim, o Brasil possa retomar o crescimento sustentado. Ao longo dos últimos anos, os donos do dinheiro botaram o pé no freio ante uma grave crise política e incertezas no campo econômico. Há três quesitos dos quais o capital não abre mão para se aventurar: previsibilidade, segurança jurídica e transparência das regras. Portanto, é hora de seguir o receituário clássico, que trará ganhos extraordinários para a população.

O Brasil, neste momento, tem perspectivas de crescimento maior do que a média global e, o que não se vê há décadas, inflação menor do que muitas nações desenvolvidas. O país se tornou o grande celeiro do mundo e deve liderar o processo de transição energética. É possível que a balança comercial encerre o ano com saldo positivo inédito de US$ 100 bilhões, reforçando as reservas internacionais sob gestão do Banco Central e afastando qualquer possibilidade de crise externa. Poucas economias no planeta reúnem hoje condições tão boas para se desenvolver sem sustos. Não por acaso, o Brasil se tornou o segundo destino de investimentos estrangeiros, atrás somente dos Estados Unidos.

Nada disso, contudo, indica que será uma travessia fácil. As demandas da população são enormes. O país tem quase 70 milhões de pessoas na pobreza e cerca de 13 milhões na miséria absoluta. A despeito da queda da taxa de desemprego, há cerca de 9 milhões de cidadãos sem trabalho. A inflação, mesmo convergindo para a meta, sempre pode surpreender para cima. O rombo fiscal maior do que R$ 100 bilhões limita a capacidade de investimentos do Estado. A violência domina as ruas, com aproximadamente 50 mil mortes violentas por ano, mais do que muitos países em guerra. A educação está tão fraca, que mais de 70% dos jovens de 15 anos não sabem noções básicas de matemática. Tudo isso comprova um quadro desafiador.

Para completar, há a questão climática. Somente nos últimos 12 meses, o Brasil registrou nove ondas de calor extremo, que estão prejudicando parte da agricultura e elevando os preços dos alimentos, um baque para as famílias de menor renda. Nesta primavera, que chega ao fim, houve o maior número de tempestades extremas desde 2018: 5.213 notificações, 160% a mais em relação à média dos últimos cinco anos. Não há como se falar em desenvolvimento sustentado sem levar em consideração as rápidas mudanças climáticas pelas quais o planeta está passando. Nada se sustenta se as condições do clima não ajudarem.

É mirando para tais desafios, que o Correio realiza, na próxima terça-feira (19), um amplo debate sobre os rumos a serem seguidos pelo Brasil. Há exemplos de sobra no passado recente para evidenciar em que direção não seguir. O país não tem mais o direito de errar. Desde os anos de 1980, vem colecionando crises, com crescimentos medíocres da economia. Na última década, a taxa média de incremento do PIB foi de 0,75% ao ano, nada perante as necessidades do país. A hora é de tirar os dois pés do atraso e olhar para frente sem medo, mas sem perder o juízo. Com certeza, todos ganharão.

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