Apesar do crescimento lento da economia, número de transações avança e país mantém liderança no fluxo desse tipo de negócios na América Latina
A economia brasileira pode não ter registrado no ano passado o crescimento que muitos esperavam, mas o segmento de fusões e aquisições de empresas movimentou R$ 307 bilhões, uma alta de 58,6% ante o registrado no ano anterior. Para especialistas, esse movimento tem tudo para se repetir em 2020.
Segundo levantamento feito pela plataforma Transactional Track Record (TTR), foram registradas ao longo do ano passado 1.448 transações envolvendo empresas brasileiras. Esse número vem crescendo gradativamente desde 2016. Naquele ano, o número de negócios realizados no país foi de 1.054.
Isso mostra que, quando o assunto é a compra de uma empresa ou a fusão de duas companhias, as turbulências de curto prazo pesam menos do que as perspectivas de longo prazo do negócio em discussão.
Por causa disso, especialistas já indicavam que o segmento de fusões e aquisições poderia ganhar mais volume em 2020, ano em que muita gente aposta num crescimento mais forte da economia brasileira, que vem amargando expansões tímidas de 1% ao ano desde 2017.
Se mesmo num cenário de crescimento baixo as fusões conseguiram registrar um avanço tão forte, num ano de atividade econômica mais forte não haveria razões para apostar em redução dessas operações.
Privatizações
Outro fator que deverá contribuir para o aumento dos negócios é a agenda de privatizações e concessões dos governos federal e estaduais. A primeira operação do ano, realizada pelo governo de São Paulo no dia 7 de janeiro, mostrou que fundos de investimentos estrangeiros estão com apetite para abocanhar bons negócios no país.
A rodovia concedida pelo governo João Doria (PSDB) foi abocanhada pelo consórcio formado pela gestora de recursos Pátria e pelo fundo de investimentos soberano de Cingapura (GIC), que toparam pagar R$ 1,1 bilhão para administrar 1.273 quilômetros de estradas entre os municípios de Piracicaba e Panorama, tudo dentro de São Paulo.
Vale lembrar que investidores financeiros, como fundos de private equity (investimentos privados em grandes companhias) e venture capital (investimentos privados em empresas mais novas e de menor porte), tiveram participação importante nas fusões e aquisições de 2019. Essa turma tem todo o interesse em continuar fazendo dinheiro por aqui.
RENATO ANDRADE é coordenador do jornal O Globo e da revista ÉPOCA em São Paulo. Trabalhou nas redações da Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, Agência Estado, Reuters e Bloomberg, além de ter sido assessor especial do Ministério da Fazenda. É um dos autores do livro A crise fiscal e monetária brasileira, organizado pelo economista Edmar Bacha.
Fonte: Época