A zona do euro – formada por 19 países – está enfrentando a mais grave crise em seus 16 anos de história com o iminente calote da Grécia, que tem até terça-feira para pagar 1,6 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O risco da saída da Grécia da zona do euro e da União Europeia aumentou consideravelmente após vários impasses nas negociações entre líderes europeus e o governo grego.
Depois que o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que não ampliaria seu fundo emergencial ao país, o governo grego decidiu fechar seus bancos durante a semana e limitar os saques nos caixas automáticos a 60 euros (US$ 66) por dia.
No fim de semana, as autoridades gregas já haviam anunciado que os bancos já não abririam na segunda-feira, o que fez com que longas filas se formassem diante de caixas eletrônicos.
Os bancos gregos dependem da assistência do BCE, que tem enviado fundos emergenciais ao Banco Central grego diariamente. O teto deste fundo é de 89 bilhões de euros. Acredita-se que todo esse dinheiro já tenha sido gasto.
As principais bolsas europeias registraram quedas de até 4% na manhã desta segunda-feira; algumas conseguiram recuperar terreno perdido. O euro caiu 2% em relação ao dólar.
Segundo o correspondente da BBC na Grécia Gavin Hewitt, é praticamente certo que a Grécia não conseguirá pagar o FMI.
“O risco de o país deixar a zona do euro cresceu significativamente. Tanto a Europa quanto a Grécia enfrentaram turbulências, já que nem um nem outro está no controle da situação”, afirma Hewitt.
Após as eleições de janeiro, que levaram ao poder o premiê de esquerda Alexis Tsipras, do partido Syriza, líderes europeus imaginaram que o novo governo fosse manter os compromissos do governo anterior.
Segundo o correspondente, a Europa queria enviar uma mensagem de que a zona do euro não seria atingida por eleições e votos. “Eles também estavam preocupados que outros partidos populistas em outras partes da Europa pudessem pedir um relaxamento nas regras de austeridade da zona do euro”, diz Hewitt.
Para Tsipras, as medidas de austeridade impostas pelos credores fracassaram, fazendo a economia do país encolher 25% e, na sua visão, levando o país a um desastre humanitário.
“Assim, ele prometeu o fim das medidas de austeridade – algo que ele não conseguiu cumprir, mesmo porque outros governos eleitos da zona do euro também têm eleitores. E estes não estavam dispostos a continuar financiando a Grécia .”
No seu decreto anunciando o fechamento dos bancos, o governo grego afirma que a medida foi tomada por causa da necessidade “extremamente urgente” de proteger o sistema financeiro do país, diante da falta de liquidez.
O decreto, publicado após uma sessão emergencial do gabinete grego ocorrida no fim do domingo, também determinou o fechamento da Bolsa de Valores do país na segunda-feira.
A restrição de saques não atinge pessoas com cartões de crédito internacionais, e Tsipras afirmou que os depósitos em bancos gregos estão seguros.
A decisão do Banco Central Europeu de não ampliar os fundos, segundo o correspondente, “pode mergulhar a Grécia no caos, mas, por outro lado, o BCE não pode quebrar suas próprias regras e financiar um sistema bancário de um país que caminha para a moratória.”
Um ministro grego disse ao jornalista da BBC que seu maior temor era de uma corrida aos bancos com o surgimento de graves divisões políticas.
Hewitt lembra ainda que, além das incertezas de terça-feira, há o referendo marcado para o dia 5 de julho na Grécia, sobre o acordo com os credores.
Os eleitores gregos dirão se apoiam ou rejeitam as ofertas do FMI e da zona do euro. Tsipras vai fazer campanha pelo ‘Não’; para a Europa, o referendo é uma escolha entre permanecer com o euro ou retomar o dracma.
“Se Tsipras perder o referendo, vai perder sua autoridade política. Haverá pressão para que ele renuncie. Se ele ganhar, ele então retornará aos líderes europeus e dirá que seu mandato com o povo grego foi renovado”, diz o correspondente.
“Tsipras apostou tanto o seu futuro quanto o do seu país. Ele atrelou a Grécia ao voto, mas apenas após o vencimento do prazo de pagamento, deixando o país vulnerável e exposto”, diz Hewitt.
Para o editor de economia da BBC Robert Peston, o fechamento temporário dos bancos gregos e a criação de restrição de capitais é uma péssima notícia para a Grécia.
“Os gregos terão menos dinheiro para gastar, e os negócios terão menos dinheiro para investir. Assim, uma economia já frágil deve retornar para uma profunda recessão”, diz.
“Já no que diz respeito ao impacto no restante da zona do euro, tesoureiros de grandes empresas e indivíduos ricos vão acordar nessa segunda-feira questionando se seu dinheiro está seguro nos bancos de outras economia enfraquecidas da zona do euro.”
As origens da atual crise remetem a dez anos atrás, quando autoridades europeias descobriram que a Grécia havia maquiado suas contas, ao longo de vários anos, para conseguir permanecer na zona do euro.
Endividado, o país entrou em colapso durante a crise financeira de 2008 e precisou pedir dois pacotes milionários de resgate e aplicar, em contrapartida, um doloroso plano de austeridade.
Fonte: Uol