O perigo de bolhas induzidas por estímulos está começando a aparecer no mercado de dívida das empresas de energia.
Desde o começo de 2010, os produtores de energia arrecadaram US$ 550 bilhões em bonds e empréstimos novos porque a Reserva Federal manteve os custos de tomar empréstimos quase zerados, segundo o Deutsche Bank AG. Com o desmoronamento dos preços do petróleo, os investidores estão questionando a capacidade de alguns emissores para cumprir suas obrigações de dívida. A empresa de pesquisa CreditSights Inc. prevê que a taxa de calote para os bonds de grau especulativo de empresas de energia vai dobrar, para 8 por cento, no ano que vem.
“Qualquer coisa que se transforma em uma mania acaba mal”, disse Tim Gramatovich, que ajuda a gerenciar mais de US$ 800 milhões como diretor de investimentos da Peritus Asset Management em Santa Bárbara, Califórnia. “E isso é uma mania”.
A decisão do Fed de manter as taxas de juros de referência em mínimos recordes durante seis anos encorajou os investidores a colocarem dinheiro em títulos de grau especulativo para gerar retornos, o que criou a preocupação de que os riscos fossem passados por alto. Um relatório da Moody’s Investors Service publicado nesta semana concluiu que as proteções dos investidores na dívida corporativa estão em um mínimo histórico, ao passo que a média de yields para os bonds de grau especulativo recentemente estava mais baixa do que as empresas com grau de investimento pagavam antes da crise do crédito.
Os custos de tomar empréstimos para as empresas de energia dispararam nos últimos seis meses porque o petróleo bruto West Texas Intermediate, a referência para os EUA, recuou 43 por cento, para US$ 60,94 por barril, desde que atingiu o pico deste ano, de US$ 107,26 em junho.
Alta dos yields
Os yields sobre bonds de empresas de energia com nota junk subiram para 9,5 por cento nesta semana, seu máximo em mais de cinco anos, frente a 5,7 por cento em junho, segundo dados de índices do Bank of America Merrill Lynch. Pelo menos três mutuários ligados ao setor, entre eles a C&J Energy Services Inc., adiaram financiamentos neste mês pela redução da confiança.
“Tem sido extremamente barato” para as empresas de energia obter financiamento nos últimos cinco anos, disse Brian Gibbons, analista sênior de petróleo e gás da CreditSights em Nova York. Agora, as empresas com nota B ou inferior estão “praticamente excluídas do mercado” e terão que “depender de uma combinação de vendas de ativos” e de suas linhas de crédito, disse ele.
Empresas com nota Ba1 ou inferior da Moody’s e BB+ ou menor da Standard Poor’s são consideradas de grau especulativo.
Efeito do estímulo
As três rodadas de compras de bonds do Fed foram um presente para as empresas pequenas do setor de energia, de capital intensivo, que precisavam de custos baixos para tomar empréstimos a fim de prosperar, segundo Chris Lafakis, economista sênior da Moody’s Analytics em West Chester, Pensilvânia.
A depressão da dívida é um dos últimos exemplos de um ciclo de crescimento e queda nos mercados dos EUA. Os estímulos sem precedentes do Fed estão alimentando a busca de yields. As consequências adversas têm sido limitadas até agora, porém, quanto mais tempo o Fed manter a taxa de empréstimos de referência quase zerada, maior será o risco de bolhas com maiores consequências, segundo o ex-presidente do Fed Jeremy Stein.
Analistas do Deutsche Bank previram em um relatório no dia 8 de dezembro que quase um terço das empresas com nota B ou CCC talvez não consigam cumprir suas obrigações caso os preços do petróleo despenquem para US$ 55 por barril.
“Se os preços do petróleo se mantiverem baixos o suficiente durante um tempo suficiente, é muito provável que alguns dos emissores mais fracos no setor de yields altos tenham problemas com o fluxo de caixa”, disse Oleg Melentyev, estrategista do crédito do Deutsche Bank em Nova York, em entrevista por telefone.
Fonte: Bloomberg