Petrobras começa a ser investigada por todos os lados

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Afundada em escândalos, a Petrobras começa a ser investigada por todos os lados, não sem bastante atraso. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), vinculada ao Ministério da Fazenda, decidiu, apenas esta semana, instaurar inquérito. O órgão equivalente à CVM dos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC), já investiga a empresa brasileira para averiguar se os investidores daquele país foram lesados pela Operação Lava-Jato, como foi batizado o megaesquema de corrupção e desvio de dinheiro. A estatal tem recibos de ações, chamados ADRs (American Depositary Receipts), negociados na Bolsa de Nova York e é submetida às leis do mercado acionário norte-americano.

A CVM não detalhou o tipo de apuração que começou a ser realizada, alegando que a autarquia não comenta casos específicos para não “afetar negativamente trabalhos de análise”. Contudo, a investigação foi publicada no site do órgão regulador do mercado, sob o processo RJ-2014-12.184, requerido pela Superintendência de Relações com Empresas para análise de informações. Em nota enviada à CVM, a Petrobras afirmou que “vem acompanhando as investigações e colaborando efetivamente com os trabalhos das autoridades públicas”.

Para o analista de mercado de capitais do portal Moneyou Jason Vieira, a CVM demorou demais para abrir a investigação. “Nos Estados Unidos, a qualquer sinal de corrupção, a lei exige que a SEC instaure um inquérito. No Brasil, como a CVM é ligada ao governo, atrelada ao Ministério da Fazenda, a abertura da investigação foi apenas uma reação ao movimento do órgão americano”, avaliou.

O Tribunal de Contas da União (TCU) também decidiu pedir explicações à petroleira sobre o pagamento de US$ 434 milhões, sem previsão contratual, à Bolívia pelo fornecimento ao Brasil de gás com componentes nobres que não são utilizados. O despacho determinando a fiscalização nos contratos foi feito pelo ministro José Jorge e a auditoria deve durar entre 90 e 120 dias. “Está se pagando por componentes que não estão previstos no consórcio e que também não estão sendo utilizados no Brasil. Determinamos uma fiscalização imediata nos contratos para verificar quem autorizou o pagamento e qual foi o acordo firmado”, explicou o ministro.

A Petrobras tem contrato de fornecimento de gás com a Bolívia há 20 anos e o insumo chega ao país com outros componentes nobres que podem ser usados pela indústria química. No entanto, eles não são retirados nem pela Bolívia nem pela petroleira. “A Petrobras nunca pagou por isso. Agora, resolveu pagar, inclusive os atrasados, e a conta é de R$ 1 bilhão”, disse o ministro.

A maior empresa brasileira já vem prestando esclarecimentos para a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário sobre a Operação Lava-Jato. Para completar, teve sua nota de classificação de risco rebaixada pela agência Moody’s, de Baa1 para Baa2, com perspectiva negativa. Para o analista da DX Investimentos Felipe Chad, a empresa está bastante enrolada. “Com a dívida bruta em mais de R$ 307 bilhões e valor de mercado, inferior, de R$ 217 bilhões, o rebaixamento era certo. Por isso, os papéis da companhia estão cada vez mais voláteis”, assinalou.

Na avaliação de Fábio Galdino de Carvalho, analista da Guide Investimentos, corretora do banco BI&P Indusval & Partners, a Petrobras se tornou uma empresa de alto risco. “Perdeu o rating porque é alvo de corrupção, sofre com preços defasados, perdas cambiais, produção abaixo do esperado e perda de valor de mercado”, enumerou. “É a crônica da morte anunciada”, frisou Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). “O governo usou a Petrobras como instrumento político e colocou a maior empresa brasileira nas páginas policiais”, analisou.

Para Jason Vieira, do Moneyou, o mercado vem antecipando os escândalos da petroleira. “As ações da Petrobras já foram cotadas a R$ 50. Hoje estão em R$ 16. Não adianta dizer que é especulação do mercado. Agora está sendo comprovado. Houve aparelhamento da empresa para uso político. O mercado financeiro sabe das coisas”, observou.

Fonte: Estado de Minas

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